Vinhedo do Alto Alfié
Por J. Aymoré
Satisfazendo um desejo que há muito nutria de conhecer o vinhedo que serve de epígrafe a estas linhas, muito me apraz noticiá-lo aos que se interessam pela viticultura no nosso estado. O vinhedo do Alto Alfié, de propriedade do dr. Raoul de Caux, ex-professor de viticultura, na extinta escola de Agronomia de Itabira, tem a sua instalação no município de São Domingos do Prata, no lugar denominado Alto Alfié (antigo Bicudo) à meia légua de arraial de Alfié.

A sua posição topográfica ou viticulamente falando, é magnifica oferecendo uma bela paisagem ao viajante que, deixando a cidade do Prata após travessias de espessas matas e a íngreme subida da serra do Alfié, estendendo-se por entre um extenso chapadão a 850 metros sobre o nível do mar, em cuja extremidade ocidental estão colocados a casa e o vinhedo, onde o dr. de Caux tem empregado seis anos de trabalho, resultado da sua máscula e constante energia.

Realmente, é uma surpresa agradável ver surgir, como por encanto, dentre terrenos, como anteriormente os conheci, uma engraçada casa de campo, rodeada de bonito pomar e com seu cortejo de 10.100 pés de videiras em perfeito alinhamento.

Esta boa impressão que se tem ao chegar a “quinta de Caux”, é acompanhada do bem-estar que se sente ao aconchego do cavalheirismo com que o seu proprietário recebe ali os que vão visitar, como tive ocasião de experimentar, juntamente com meu pai, ao apearmos em sua casa, sendo-nos servido logo uma deliciosa pinga de vinho licoroso Herbemont, de sua fabricação, que muito reanimou o nosso organismo fatigado por uma viagem de 8 léguas.
No dia seguinte pela manhã, a convite do dr. Caux, percorri detalhadamente uma área de 6 hectares e meio caprichosamente plantada de videiras, onde figuram, em grande escala, 4 variedades dispostas pelo modo seguinte:
Izabella 8.000 pés de 2m sobre 3m;
Herbemont 1.000 pés de 2m sobre 4m;
Campos da Paz 700 pés de 2m sobre 4m;
Jaquez 100 pés de 2m sobre 4m, e mais 300 pés de diversas variedades em experiência.

A plantação é feita em cordões com 2 fios de arame em estacas da altura regular de um homem, o que achei muito vantajoso para facilitar o tratamento e colheita, a poda curta, relativamente a adaptada em nosso país, manifestam vigorosa força principalmente as de Herbemont, Campos da Paz e Izabella, o que vivem e o bom trato que lhes fornece o seu proprietário.
Os instrumentos que este aí emprega no tratamento das moléstias existentes entre nós são: o fole Vermorel e pulverizador Besnard.
Incontestavelmente, é este um vinhedo modelo que pode muito bem servir de exemplo àqueles que quiserem dedicar-se a esse ramo de cultura.

Visitando também a adega que se acha instalada num edifício novo, devo dizer que é a única construção nesse gênero mais bem montada que conheço nessas nossas circunvizinhas; as suas condições são perfeitamente adequadas aos mistérios da vinifleação. [vinificação]
Compõe-se de uma casa de 100 metros quadrados, de 2 andares sendo um subterrâneo (adega) onde a temperatura conserva-se a 15 graus centígrados e em que repousa o vinho em depósito.

No outro andar, está o lugar que se compõe de um cômodo para a recepção e desencaroçador, sistema Gaillot, podendo tratar 250 hectolitros de uva por dia, e de mais um outro cômodo para fermentação. Este é feito de cimento vidrado para evitar que seja atacado pelos ácidos do vinho: daí, terminada a fermentação, sai o vinho por meio deum tubo de borracha para a adega que tem capacidade para guardar 60.000 litros de vinho.
Para as operações vinícolas existem nesse compartimento uma prensa também sistema Gaillot, uma bomba sobre carrinho para trasfegas do vinho, um alambique contínuo sistema Besnard, o mais aperfeiçoado que tenho visto por aqui, uma máquina para a lavagem das garrafas e uma outra para o arrolhamento das mesmas.

a este andar, existe um pequeno laboratório onde o dr. Caux tem os principais instrumentos requeridos pela vinificação, como: o ebulioscópio para a dosagem do álcool do vinho, o gleneômetro e termômetro para a dosagem da acidez.
Eis, pois, uma ligeira notícia do que pude colher no curto espaço de tempo que reservei para visitar o meu amigo e antigo mestre dr. Caux, visita que me foi de muito proveito, tanto quanto pode ser também àqueles que se interessam pela indústria do vinho.
[In. Revista Agrícola Comercial e Industrial Mineira, Belo Horizonte – Imprensa Oficial – 1905]
A cada dia que passa Minas me surpreende ainda mais. Há menos de três anos fiquei sabendo que Diamantina tem história com a viticultura a mais de 200 anos e agora tive a grata surpresa de conhecer a história de São Domingos do Prata. Pois é meus amigos, Minas é referência até no vinho!!! Andradas, Itabira, Bom Jesus do Amparo, Grão Mongol, Três Corações…
Minas é bâo demais da conta!!!