Vereadores exaltam a Apae e criticam doações ao programa Criança Esperança, da Globo
Com a pauta da reunião da Câmara vazia nessa terça-feira (21), e para não perder a exposição nas emissoras de rádio que transmitem as sessões legislativas, os vereadores aproveitaram a apresentação dos trabalhos da Apae na cidade para criticar o programa Criança Esperança, uma campanha nacional da rede Globo de televisão em parceria com a Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco).
As Apae’s promovem em todo o país a Semana Nacional da Pessoa com Deficiência Intelectual e Múltipla, que acontece todos os anos entre os dias 21 e 28 de agosto.
O presidente da Câmara, Neidson Freitas (PP), após ouvir as dificuldades enfrentadas pela Apae de Itabira, expostas pela sua presidente, Maria Raimunda Lacerda Sobrinho, citou a postagem do líder do governo na Câmara, vereador Carlos Henrique Silva Filho (Podemos), para endossar a necessidade de se dirigir à Apae local as doações de itabiranos que todos os anos são feitas ao Criança Esperança .
“O vereador Carlinhos postou um apelo na rede social dirigido às pessoas que fazem doação ao Criança Esperança, que é importante, mas muitos não percebem a importância do trabalho desenvolvido pela Apae em nossa cidade”, disse o vereador, para quem é importante reforçar a necessidade de a população apoiar esse trabalho como doações de recursos à entidade.
O vereador André Viana (Podemos) também reforçou essa necessidade. E foi mais incisivo na crítica. “A rede Globo faz campanha para o Criança Esperança e apoia o aborto”, afirmou, referindo-se às novelas que abordam o tema – e também ao fato de muitos atores globais terem participado de campanha pela legalização do aborto.
A posição do vereador sobre o tema já é conhecida. Evangélico, ele liderou a Marcha da Inocência em Itabira. Viana, como a maioria dos evangélicos fundamentalistas, considera o aborto como crime hediondo.
Ele se esquece de que trata de uma dura realidade que afeta milhares de mulheres, a maioria negra e pobre. Já a maioria das mulheres brancas aborta com segurança em clínicas particulares.
Segundo o DataSus, departamento de informática do Sistema Único de Saúde (SUS), todos os anos são realizados mais de 190 mil internações de mulheres vítimas de abortos clandestinos. Isso sem contar o número das que morrem por não terem tido atendimento adequado.
A legalização, que dificilmente será aprovada no país pelo seu conservadorismo, seria uma forma de encarar a questão como um problema de saúde pública, que afeta principalmente as mulheres de baixa renda. E que, portanto, devem ter autonomia em sua decisão pelo aborto, devendo ser assistida pelo Estado, com segurança.
Apoio às Apae’s
Não deveria ser, portanto, o suposto apoio à campanha pela legalização do aborto o motivo pelo qual se deve privilegiar as doações às Apaes – e não ao Criança Esperança.
Para o vereador Carlinhos Filho, doando recursos à Apae o doador pode ver que realmente está sendo dada esperança a uma criança. “Doe para as crianças de nosso município. Doe à Apae”, esse é o apelo que ele fez recentemente pela rede social.
Essa doação, entretanto, segundo a presidente da Apae, já vem ocorrendo no município. De acordo com ela, 60% dos itabiranos com residência na cidade contribuem com a entidade por meio da conta de água, cobrada pelo Saae.
Ainda assim os recursos são escassos diante das demandas crescentes. “Precisamos de mais equipamentos para o atendimento à saúde. Temos muita gente na fila esperando oportunidade para fazer tratamento em nossa clínica médica.”
A entidade assiste 410 pessoas com algum tipo de deficiência em Itabira. “São as nossas eternas crianças. A deficiência é para toda a vida.”
Inclusão social é direito conquistado
A Apae de Itabira foi fundada há 45 anos. Além das assistências educacional, pedagógica e à saúde, desenvolve ações permanentes em prol da inclusão social da pessoa com deficiência intelectual e múltipla.
As Apae’s constituem hoje o maior movimento nacional em defesa dos direitos e na prestação de serviços que amenizam o sofrimento e as angústias de familiares e das pessoas com deficiências – e que necessitam de cuidados especiais.
O movimento apaeano considera que esses seres humanos especiais são dotados de sentimentos, emoções e elaborações mentais. Portanto, as suas deficiências devem ser entendidas como uma de suas múltiplas características – e não como a única configuração possível de sua individualidade.
São pessoas dotadas de desejos. Por isso, as suas manifestações devem ser respeitadas e naturalmente aceitas. Considera ainda que cada pessoa, assim como todo ser humano, possui diferentes possibilidades e habilidades.
Além disso, a inclusão social é um direito, que deve ser assegurado e promovido por toda a sociedade, não só pelas famílias e pelas entidades filantrópicas, como são as Apae’s.
É preciso, portanto, desenvolver o potencial dessas pessoas especiais, para que alcancem o máximo de autonomia, manifestando as suas habilidades nas artes e no mundo do trabalho.
Só assim os preconceitos são eliminados. E a inclusão social acontece, de acordo com as limitações e as potencialidades de cada indivíduo. Afinal, escreveu o poeta Drummond, como todos os seres humanos, eles “são estranhos ímpares”.
Sobre a APAE,demagogia pura…exaltar até exaltam mas em conversa com mães e voluntárias,durante reunião na terça-feira(21/08),escutei das mesmas que nenhum se faz presente.