Vereadores de Itabira aprovam LOA 2026 com projetos voltados à promoção social, infraestrutura urbana e diversificação econômica

Foto: Jessica Estefani/
Ascom/CMI

Orçamento de R$ 1,2 bilhão é aprovado por unanimidade; vereadores destacam planejamento estratégico e inclusão de projetos importantes para o futuro sustentável de Itabira

Na reunião ordinária realizada nesta terça-feira (4), os vereadores da Câmara Municipal de Itabira aprovaram por unanimidade, com ausência justificada do vereador oposicionista Luiz Carlos de Souza (MDB), o projeto de lei nº 156/2025, de autoria do prefeito Marco Antônio Lage (PSB), que institui a Lei Orçamentária Anual (LOA) para o exercício financeiro de 2026.

A previsão de arrecadação em 2026 é de R$ 1,2 bilhão, valor ligeiramente inferior ao projetado para 2025, que é de R$ 1,3 bilhão.

A redução na estimativa de receita para 2026 está diretamente ligada às oscilações no mercado internacional do minério de ferro e à queda na produção local, que deve se estabilizar em 25 milhões de toneladas anuais (Mta), ante as 32 Mta registradas em 2024.

Essa tendência de declínio na extração de minério no Distrito Ferrífero de Itabira deve se manter progressivamente até a exaustão das reservas e dos recursos minerais – um horizonte ainda indefinido, inclusive para a própria Vale.

A única projeção oficial disponível sobre a continuidade da atividade minerária em Itabira consta no relatório Form-20F, enviado anualmente pela Vale à Bolsa de Valores de Nova Iorque. Nele, estão estimadas apenas as reservas já medidas e com plano de lavra definido até o ano de 2041, sem os recursos que podem ser explorados no futuro, inclusive com os rejeitos das barragens.

É certo que a exaustão mineral já teve início em Itabira – e será gradativa, como já está sendo, até que se chegue à derrota incomparável. Ou não, desde que, mesmo com o atraso de décadas, o município consiga enfim diversificar sua economia e romper com a dependência histórica da mineração.

O tempo é curto, mas ainda há tempo.

Planejamento estratégico e visão de futuro

Durante a discussão do projeto, o vereador Hudson “Yuyu da Pedreira” Junior Diogo Santos (PSB) destacou investimentos estruturantes previstos na LOA, como a implantação do novo condomínio industrial de Itabira, voltado à atração de empreendimentos e geração de empregos.

O novo distrito industrial está mais uma vez anunciado para se instalar na antiga fazenda Palestina.

Outra promessa antiga da Vale, que se arrasta desde a LOC 2000, agora prevista na LOA, é a instalação de uma Central de Resíduos, também na fazenda Palestina. O vereador salientou também a previsão de instalação de uma fábrica para reaproveitamento de rejeitos minerais, a ser instalada também no futuro DI da Palestina.

Consta ainda na LOA a alocação de recursos para a Requalificação urbanística do centro histórico, com foco no turismo cultural. “O orçamento não é apenas uma peça contábil, mas um instrumento de desenvolvimento sustentável e inclusão”, afirmou o vereador Yuyu da Pedreira.

Sustentabilidade e superávit como metas

Durante a discussão do projeto da LOA para 2026, os vereadores reforçaram o papel do orçamento como ferramenta de planejamento e desenvolvimento.

O vereador Bernardo Rosa (PSB) destacou que a LOA 2026 representa uma mudança de paradigma em relação às peças orçamentárias anteriores. “Diferente das leis que vimos na legislatura passada, esta se adequa à nova realidade de Itabira, voltada para a diversificação econômica e o futuro sustentável da cidade”, afirmou.

Ele ressaltou que, embora o orçamento seja uma projeção, há expectativa de superávit. “Tomara que a arrecadação supere as estimativas. Isso nos permitiria ampliar os investimentos previstos e implementar novos equipamentos e serviços públicos, como a duplicação da nossa rodovia estadual”, disse ele, referindo-se ao trecho que liga Itabira ao trevo da BR-381/262, contemplada na LOA e que consta do projeto Itabira Sustentável.

Rosa também parabenizou as secretarias de Planejamento e Fazenda pela elaboração da proposta. “Conseguiram adequar a LOA à nossa realidade, sem deixar de lado áreas essenciais como saúde, educação e infraestrutura. É um orçamento que olha para o futuro sem esquecer o presente.”

Rodrigo Diguerê (MDB) reforçou a necessidade de eficiência na gestão pública, especialmente diante dos desafios enfrentados em 2025. “Este ano foi de adequações. Não houve crise financeira, mas sim dificuldades administrativas que precisam ser superadas. Que sirva de aprendizado para um governo mais eficiente em 2026”, pontuou.

Ele também destacou que o orçamento elevado exige responsabilidade e planejamento. “É preciso garantir que esses recursos se traduzam em serviços públicos de qualidade e em políticas que atendam às demandas da população.”

Já o vereador Reinaldo Lacerda (PSDB) enfatizou o papel do Legislativo na aprovação de projetos estruturantes e na fiscalização da aplicação dos recursos.

“A LOA é uma das peças mais importantes que passam por esta Casa. Todo gasto público precisa da chancela do parlamento, e é nossa responsabilidade garantir que esses recursos sejam bem aplicados”, afirmou.

Lacerda também defendeu o diálogo permanente entre os poderes. “A boa política se faz com diálogo entre Executivo, Legislativo e comunidade. É assim que construímos uma Itabira melhor para todos.”

Pinga-fogo

Minuto de silêncio

Antes do início da sessão legislativa dessa terça-feira, a Câmara Municipal de Itabira realizou um minuto de silêncio em homenagem aos quatro policiais mortos durante operação no Rio de Janeiro, por requerimento do vereador bolsonarista Cidnei “Didi Caldo de Cana” Camilo Rabelo (PL).

O gesto, embora legítimo no reconhecimento da dor das famílias dos agentes, revelou um silêncio dos vereadores ainda mais profundo e incômodo sobre as demais vítimas da mesma ação nas comunidades da Penha e do Alemão, na zona norte do Rio de Janeiro, onde ocorreu a operação policial mais letal da história da cidade, em 28 de outubro de 2025.

Ao menos 121 pessoas foram mortas, incluindo os quatro policiais, mas também dezenas de civis, entre eles moradores sem qualquer envolvimento com o Comando Vermelho, atingidos em meio ao fogo cruzado.

Nenhuma palavra foi dita, nenhum gesto simbólico foi feito em memória dessas outras vidas ceifadas na ação policial. A operação que mobilizou 2,5 mil policiais deixou um rastro de violência, medo e luto nessas comunidades.

A escolha de homenagear apenas os policiais, ignorando o massacre que vitimou inocentes, escancara a seletividade institucional da dor e da empatia.

Em tempos em que o Estado se faz presente nas periferias com fuzis e blindados, e ausente com escolas e políticas públicas, o silêncio da Câmara sobre essas mortes não é apenas omissão. É falta de empatia com os demais mortos, mesmo que a maioria tenha vínculo com a organização criminosa – e com o luto das famílias.

Dia do Gari

Outro destaque da reunião foi a aprovação do projeto de lei nº 155/2025, que institui o Dia do Gari em Itabira. A proposta, apresentada pelo vereador Ronaldo “Capoeira” Meireles de Sena (PRD) com emenda da vereadora Dulce Citi Oliveira (PDT), estabelece o dia 11 de agosto como data oficial de celebração, em homenagem ao gari Laudemir de Souza, brutalmente assassinado enquanto trabalhava em Belo Horizonte.

A medida busca valorizar os profissionais responsáveis pela limpeza urbana e promover ações de conscientização sobre o papel fundamental desses trabalhadores no bem-estar coletivo.

“São pessoas que enfrentam riscos diariamente, lidando com materiais cortantes, trânsito perigoso e condições adversas. Precisam ser reconhecidas e protegidas”, afirmou Ronaldo “Capoeira”.

Solidariedade

Os vereadores manifestaram solidariedade ao colega vereador Elias dos Reis de Lima (Solidariedade), ausente na sessão por estar em recuperação de uma cirurgia oncológica. Os parlamentares desejaram força, saúde e retorno breve às atividades legislativas.

As manifestações foram marcadas por respeito e empatia, reforçando o espírito de união entre os membros da Casa.

Câmara ignora Flitabira

Apesar de ter movimentado a cena cultural da cidade entre os dias 29 de outubro e 2 de novembro, o 5º Festival Literário Internacional de Itabira (Flitabira) não foi mencionado por nenhum vereador durante a sessão legislativa.

O silêncio sobre o evento, que reuniu escritores, artistas e público de diversas regiões, revela uma desconexão preocupante entre o Legislativo e a produção cultural local.

Poucos parlamentares estiveram presentes – e mesmo assim, apenas de passagem. Foram registradas as presenças da vereadora Jordana Madeira (PDT) e do vereador Marcos Antônio Ferreira da Silva, o “Marquinhos da Saúde”.

Pode até ser que outros edis tenham circulado pelo festival, mas não houve envolvimento público, nem reconhecimento formal da importância do evento.

Em uma cidade que carrega o legado de Carlos Drummond de Andrade, a ausência de apoio institucional à literatura e à cultura é mais que um descuido – é um sintoma do descaso dos mesmos vereadores que aprovaram lei designando “Itabira como capital da poesia” (sic).

 

Posts Similares

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *