Vereadores aprovam, com apenas um voto contrário, apoio financeiro de R$ 1,5 milhão para o Valério disputar o Módulo II do Campeonato Mineiro
Fotos: Jessica Estefani/ Ascom/CMI
Carlos Cruz
“O Valério sequer carrega o nome de Itabira, mas sim o da antiga Vale do Rio Doce, que já o abandonou. É ela quem deveria sustentar o time profissional”, afirmou um torcedor cruzeirense itabirano, presente à reunião da Câmara Municipal nesta terça-feira (18).
Ele pediu para não ter o seu nome divulgado por temer represálias, já que não concorda com o repasse, pela Prefeitura, de R$ 1,5 milhão para estruturar o time de futebol a tempo de disputar o Módulo II do Campeonato Mineiro.
No ano passado, o repasse foi de R$ 1 milhão, quando foi formado um time de última hora para disputar a Segunda Divisão do Campeonato Mineiro. Foi quando o clube se classificou para o Módulo II neste ano, ficando na segunda colocação após perder o título nos pênaltis.
“Se vai virar uma SAF, por que alocar recurso público em uma iniciativa privada?”, questiona o torcedor, certamente ainda ressentido com as muitas derrotas do seu time para o Dragão Vermelho. (A fachada do estádio Israel Pinheiro agora mudou de cor, e não demora para que o uniforme também passe a ser laranja, cor da empresa patrocinadora).
A última vez que jogou contra o Cruzeiro, o derrotou por 1 a zero, em 2003, com um gol de falta no último minuto, no Mineirão abarrotado de camisas azuis, em uma de suas últimas partidas pela primeira divisão do Mineiro. Talvez isso explique o ressentimento do torcedor ressabiado.
Sem o patrocínio da mineradora Vale, após sua privatização, o Valério deixou de disputar a primeira divisão do Campeonato Mineiro (Módulo I) em 2004. Desde então, o clube passou a competir em divisões inferiores, a segunda divisão do campeonato estadual, e agora o Módulo II.
Voto contrário

Assim como esse torcedor cruzeirense, o vereador Luiz Carlos de Souza (MDB) também se posicionou contra o repasse, votando contra o projeto, salvando a Câmara de uma unanimidade burra.
Segundo Souza, o Valério tem dívidas com o Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS), o que impediria o repasse de recursos municipais, já que não teria como apresentar certidões negativas de débitos fiscais.
O vereador oposicionista afirmou que irá ao Ministério Público de Minas Gerais para que sejam investigados indícios de irregularidades nos repasses de recursos municipais ao clube. Ele também destacou a falta de prestação de contas pelo Valério do repasse feito pela Prefeitura no ano passado.
Entretanto, os argumentos contrários à aprovação, incluindo o pedido de retirada de pauta, parcialmente atendido, não impediram a apreciação, apresentação de emendas e aprovação do projeto do prefeito Marco Antônio Lage (PSB), em dois turnos simultâneos, já que o projeto chegou à Câmara em caráter de urgência.
Para isso, os vereadores situacionistas sustentaram que, antes de efetivar o repasse, o setor responsável da Prefeitura fará a análise de todos os documentos e certidões negativas necessárias, garantindo conformidade com a legislação.
Uso compartilhado

Uma emenda apresentada pelo vereador Bernardo Rosa (PSB), e aprovada, incluiu no projeto a contrapartida de o clube abrir espaços para os treinos dos blocos pré-carnavalescos, geralmente realizados a partir de setembro.
“Moradores mais idosos do bairro Pará reclamam do barulho quando os ensaios ocorrem na pracinha. Com isso, esse impacto deixará de existir”, justificou o vereador ao apresentar a emenda.
Esse “impacto de vizinhança” com os ensaios dos blocos, na verdade, não é o que mais incomoda os moradores. Pelo contrário, muitos idosos do Pará acompanham os ensaios, que encerram em horário compatível com o respeito ao silêncio necessário para quem precisa descansar e ter um sono tranquilo.
O que realmente incomoda é o grande fluxo de pessoas no período carnavalesco. Isso se deve ao fato de que os eventos noturnos na cidade, durante o carnaval, ocorrem apenas na pracinha do Pará e na praça do Campestre. Com o crescimento do carnaval itabirano, torna-se necessário abrir novos espaços noturnos para o tríduo momesco.
Eventos esportivos

Ainda como contrapartida ao repasse financeiro ao Valério, o projeto de lei aprovado, e que deve ser sancionado pelo prefeito nos próximos dias, prevê a disponibilidade de espaços do clube para a realização de eventos esportivos promovidos pela municipalidade, além de investimento na formação de novos atletas.
Para o vereador Carlos Henrique de Oliveira (PDT), essa é a segunda vez que vota a favor do repasse financeiro ao clube itabirano, mas espera que isso não se torne uma prática recorrente. Segundo ele, o repasse é importante para que o Valério tenha um time competitivo capaz de voltar à primeira divisão do Mineiro.
“O Valério é patrimônio itabirano e precisa retornar à elite do futebol mineiro. Se isso acontecer, facilitará sua venda para uma SAF”, defendeu Oliveira, referindo-se ao modelo de Sociedade Anônima do Futebol.
Esse modelo, criado no Brasil pela Lei 14.193/2021, tem salvado muitos clubes de sucessivos rebaixamentos. Por esse formato, os clubes de futebol tornam-se empresas, podendo ser controlados por acionistas, como ocorre em países europeus e também já adotado por clubes brasileiros como Atlético, Cruzeiro, Botafogo, Vasco.
Recursos públicos no futebol
O uso de recursos públicos para financiar clubes de futebol profissionais, especialmente em cidades do interior, continua a suscitar debates no Brasil.
Embora permitido por lei, o apoio financeiro público vem acompanhado de uma série de regulamentações e pode gerar impactos significativos, tanto positivos quanto negativos, no desempenho esportivo das equipes e em sua administração, que deve ser profissional e transparente.
Entre os benefícios mais evidentes está a melhoria da infraestrutura esportiva e a contratação de atletas, criando condições para um melhor desempenho em campo.
Outro ponto destacado é o investimento em categorias de base, conforme definido no projeto aprovado pelos vereadores. Isso possibilita a formação de novos talentos e contribui para o fortalecimento do futebol no longo prazo, no caso do Valério, ajudando-o a voltar à primeira divisão do Campeonato Mineiro.
Dependência financeira
No entanto, o financiamento público também apresenta problemas. Um dos principais riscos é a dependência financeira: clubes que contam excessivamente com recursos públicos podem enfrentar dificuldades para se manterem sustentáveis caso o apoio seja reduzido ou interrompido.
Além disso, a má gestão e a falta de transparência no uso dos recursos podem levar a casos de corrupção e prejuízos à imagem das entidades esportivas e de quem aprovou o repasse.
Dessa forma, o financiamento público no futebol envolve um delicado equilíbrio entre benefícios sociais, desenvolvimento esportivo e a necessidade de atender outras demandas prioritárias, como saúde e educação.
Para muitos, a transparência na gestão desses recursos e o alinhamento com políticas públicas são fatores essenciais para que o investimento traga resultados positivos e sustentáveis. Que assim seja, amém!
A Prefeitura de Itabira poderia também firmar um acordo com repasses, é claro, em uma parceria com o clube, onde os funcionários, depois de aderirem, tornar sócio do clube, onde poderiam desfrutar de seus atrativos, utilizando piscinas, quadras de esportes, saunas. Poderia também de ter juntamente com a secretaria de esportes e lazer um aproveitamento de suas dependências para fomentar o esporte na cidade. Seria de bom senso e de certa forma ajudaria a erguer o glorioso Valério Esporte Clube.
Caro Bernardo, de seu Rosinha, enquadrar bloco de carnaval não cola. Bloco é na rua, pô!!!