Vereador pede renúncia de prefeito e é repudiado por colegas
Na sessão legislativa seguinte à sentença da juíza eleitoral Fernanda Chaves Carreira Machado cassando a diplomação do prefeito Ronaldo Lage Magalhães (PTB) e de sua vice Dalma Barcelos (PDT), o vereador Weverton “Vetão” Leandro dos Santos (PSB), único que até aqui faz oposição ao governo na Câmara Municipal, não perdeu tempo e do alto da tribuna conclamou: “Renuncie ao cargo de prefeito, Ronaldo Magalhães. Para o bem de Itabira.”
É que segundo ele, só o fato de suas contas eleitorais terem sido julgadas irregulares e, por consequência, segundo a sentença, ter cometido falsidade ideológica e abuso de poder econômico nas eleições passadas, já é o bastante para acarretar prejuízos financeiros a Itabira. “Que empresário de fora vai querer investir no município em que o seu prefeito pode ser cassado a qualquer momento?”, perguntou, alegando que a renúncia abreviará a situação de incerteza política que vive a população itabirana.
Foi o bastante para os seus colegas de parlamento refutarem o apelo à renúncia, por a considerarem descabida. O primeiro a se manifestar foi o vereador Neidson Freitas (PP), presidente da Casa, que assume o cargo de prefeito, caso a cassação de Magalhães seja confirmada em segunda instância até que novas eleições sejam realizadas.
Mesa diretora da Câmara: preocupação (Fotos: Carlos Cruz)
“Ronaldo vai recorrer às instâncias superiores. Por isso, esse debate sobre a sua renúncia é inteiramente descabida nesta Casa e é fora de propósito”, sentenciou. “Não devemos trazer uma disputa eleitoral pelo tempo que durar o processo. Se isso ocorrer, Itabira sai perdendo”, disse ele, que cita casos homólogos ocorridos em cidades vizinhas, como Ipatinga que teria ficado quatro anos do mandado anterior convivendo com a incerteza de quem seria o prefeito.
“Quando vejo as pessoas comemorando o fato de nossa cidade passar por um desgaste dessa natureza, isso me deixa preocupado. A justiça irá decidir e acredito que Ronaldo cumprirá o seu mandato até o fim.”
O vereador Allaim Figueiredo Gomes (PDT), líder do prefeito na Câmara, bateu na mesma tecla. “Foi uma péssima notícia que recebemos na semana passada. A cassação diz respeito à campanha eleitoral e nada tem a ver com a sua administração”, refuta. “É triste ver que tem gente feliz com esse fato.”
Vereador Vetão pede: renuncie prefeito
Inferno
Paulo Soares (PRB) disse que não aposta no quanto pior, melhor. “Nem vou apostar no inferno. Não vou bater palmas para o desastre, para a falta de esperança, para a coisa virar uma guerra civil”, exagera. Ele critica quem aposta no caos. “É lamentável.”
Paulo Soares tem medo do inferno
Para o vereador Weverton “Nenzinho” de Freitas (PMN) o problema maior não é da atual administração. “É a gestão passada”, esquiva-se, utilizando-se do velho artifício de achar que o inferno é o outro, por certo aproveitando a deixa de Paulo Soares, que se referiu à casa de Mefistófeles, onde ninguém quer ser recebido. Segundo ele, uma guerra política não muda a triste conjuntura que vive Itabira. “Denunciar é um ato covarde”, vaticina, como quem prefere o silêncio dos omissos.
André Viana (PTN) considera o assunto importante, mas acha que não pode descambar para um rito que foge da liturgia do legislativo.”Todos têm direito à ampla defesa”, disse ele, alegando que até que isso ocorra, nada há para se fazer. “Se o TRE de Minas Gerais confirmar a sentença de primeiro grau, aí sim, tomaremos as medidas cabíveis. O presidente desta Casa assume a prefeitura até que se realize nova eleição.”
Defesa ampla, geral e irrestrita
O prefeito Ronaldo Magalhães, por uma decisão política e de precaução, adotou a postura de não dar entrevista até que o seu recurso seja julgado em segunda instância. Segundo a sua assessoria de imprensa, o recurso foi apresentado na terça-feira, 2 de maio. Os seus advogados, da mesma forma, não dão declarações sobre o assunto, preferindo só apresentar nos autos as estratégias da defesa.
Não foi essa mesma cautela que se viu no desastrado pronunciamento do advogado Gustavo Milânio, chefe de Gabinete do prefeito Ronaldo Magalhães, para quem o processo não vai dar em nada. Conforme ele afirmou em pronunciamento em vídeo que viralizou nas redes sociais, o principal fundamento da sentença é que teria ocorrido arrecadação em cheques durante a campanha eleitoral pelo candidato eleito “Isso de fato ocorreu”, confessou. “É contra a legislação, mas os bancos estavam em greve”, alegou.
Ronaldo Magalhães já entrou com recurso no TRE-MG
Mas o pior ainda estava por vir: “Podem ficar tranquilos. Segue tudo do jeito que está. Se der errado, e eu tenho certeza que não vai dar, o prefeito só entrega o mandato depois de (a sentença) transitar em julgado em última instância. Isso certamente levará o tempo suficiente de seu mandato”, disse Milânio, acreditando piamente que os fundamentos da sentença da juíza Fernanda Machado não procedem.
Esses mesmos vereadores que refutaram o pedido de renúncia e alegam que isso será nocivo para a cidade provavelmente são os mesmos que apoiaram o golpe de estado sem se preocupar com a situação política e econômica do país. Lamentável.