Vereador denuncia na ALMG que a Vale manipula dados de poeira em Itabira com irrigação; mineradora alega controle ambiental

Caminhão fora-de-estrada levanta poeira na estrada da mina – sinal de que o sistema de irrigação não está funcionando bem em Itabira

Foto: Carlos Cruz

O presidente da Câmara Municipal de Itabira, vereador Carlos Henrique “Sacolão” Silva Filho (Solidariedade), ao participar da audiência pública na sexta-feira (30), promovida pela Comissão de Meio Ambiente da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) para discutir os impactos da barragem do Pontal nos bairros Bela Vista e Nova Vista, fez graves denúncias contra a mineradora Vale.

Segundo ele, a empresa orienta seus empregados a irrigarem as áreas próximas das estações de monitoramento ambiental para camuflar os índices de poluição do ar, reduzindo artificialmente os registros de poeira.

Carlinhos “Sacolão”, presidente da Câmara Municipal de Itabira, fez graves denúncias contra a Vale na ALMG (Foto: Guilherme Bergamini)

A declaração gerou grande repercussão entre os presentes e reforçou as preocupações com a transparência das informações ambientais fornecidas pela empresa. “A manipulação é intencional, para não gerar multas ambientais”, afirmou o vereador, que trabalhou nove anos na mineradora.

Conforme relatou ter presenciado – e até participado, seguindo ordens –, essa prática era recorrente na empresa. Aliás, ainda é uma medida comum para umectar as áreas expostas nas minas, como vias de acesso, taludes descobertos e pátios de estocagem.

Essa ação faz parte das iniciativas para mitigar o impacto na cidade da poluição do ar causada pelo pó preto, carregado de partículas de minério de ferro e sílica (areia).

No entanto, mesmo com essas medidas, os índices de poluição frequentemente extrapolam os limites máximos estabelecidos por resolução do Codema, mais rigorosos, e do Conama, mais flexíveis.

Na denúncia, faltou ao vereador explicar melhor onde a ordem para irrigar áreas próximas às estações ocorria. Se isso acontecia dentro da cidade, nas redondezas dos equipamentos de monitoramento, seria fraude para mascarar os índices de poluição urbana.

Já no caso de ocorrer em áreas internas da empresa, trata-se de um procedimento de controle necessário para cumprir as condicionantes ambientais de controle e mitigação da poeira, e mesmo assim tem extrapolado inúmeras vezes os índices máximos estabelecidos por resolução do Codema, mais rígidos, e também do Conama, mais flexíveis..

Outro lado

Procurada pela reportagem, a mineradora, como tem sido de praxe, não respondeu diretamente à denúncia do presidente da Câmara na nota enviada à redação deste site:

“A Vale reforça que segue rigorosamente a legislação e as normas ambientais aplicáveis às suas operações, garantindo a transparência e a confiabilidade dos dados coletados pelas estações de monitoramento ambiental.”

Disse ainda que, para reduzir a emissão de particulados na cidade, “investe continuamente em novas tecnologias para incrementar os controles de poeira em cumprimento à legislação, como a umectação de vias, aspersão e hidrossemeadura de taludes, aplicação de polímero, utilização de canhões de névoa, nebulizadores, dentre outros”.

Embora a reportagem não tenha perguntado, falta à mineradora responder a outra grave denúncia do vereador Carlinhos “Sacolão”.

É que segundo ele, a Vale descarta resíduos de forma irregular, mencionando casos em que restos de equipamentos de escritório, pneus e outros materiais foram soterrados junto aos rejeitos de mineração.

“O caminhão fora de estrada jogava tudo lá dentro e aquilo era tampado, como se nunca tivesse existido”, afirmou.

Falta de fiscalização e pedidos de auditoria independente
Deputada Bella Gonçalves pede ao MPMG que providencie uma auditoria independente nas estações de monitoramento da qualidade do ar em Itabira (Foto: Guilherme Bergamini)

As denúncias do vereador são gravíssimas e precisam ser esclarecidas pela empresa.

E, sobretudo, investigadas pelos órgãos estaduais que estão na iminência de emitir licenças ambientais para ampliação das cavas das minas do Meio e Conceição e instalação de duas imensas pilhas de estéril/rejeito.

E, que em breve, devem deliberar sobre o próprio licenciamento ambiental do complexo minerador de Itabira, que está vencido desde 2016.

As denúncias reforçam também a necessidade de uma auditoria independente para monitorar a qualidade do ar em Itabira, proposta que já havia sido mencionada pela deputada Bella Gonçalves (PSOL).

“É fundamental que o monitoramento seja feito por órgãos externos, porque a própria empresa se autoavalia e controla a divulgação dos dados”, declarou a parlamentar durante a audiência pública na ALMG.

A deputada também sugeriu o encaminhamento de um requerimento ao Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) para exigir que os dados ambientais apresentados pela Vale sejam revisados por equipes técnicas imparciais.

“O povo de Itabira precisa saber a verdade sobre os impactos da mineração e ter acesso a informações confiáveis”, afirmou.

Outros encaminhamentos

A audiência pública da ALMG encaminhou uma série de medidas para reforçar a fiscalização sobre a mineradora e garantir maior transparência na divulgação dos dados ambientais.

Entre as ações sugeridas, além do pedido para que o MPMG solicite uma auditoria independente dos dados de qualidade do ar em Itabira, cobra-se também do Estado uma fiscalização mais rigorosa sobre o descarte de materiais inservíveis.

As denúncias do vereador expõem um dos muitos desafios enfrentados pelos moradores de Itabira, que convivem há décadas com os impactos da mineração e buscam maior controle sobre as atividades da Vale na cidade, que está chegando ao fim, previsto para exaurir em 2041, com redução lenta, gradual e solerte da produção no complexo minerador local até a “derrota incomparável”.

Assista ao vídeo completo da Audiência Pública na ALMG clicando aqui.

 

 

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