Vale explica poluição do ar com poeira de minério como sendo decorrente de ventos atípicos em alta velocidade

Sobre a poeira que por mais de duas horas foi despejada sobre a cidade de Itabira nessa sexta-feira (5), a assessoria de imprensa da Vale emitiu a seguinte nota:

“Algumas regiões de Minas Gerais, inclusive Itabira, estão sofrendo condições meteorológicas com elevada velocidade de ventos, que influenciam na dispersão de materiais particulados provenientes de diversas fontes.

Em decorrência disso, as atividades nas minas da empresa no município foram paralisadas na manhã desta sexta-feira (5 de julho) e houve redução do trânsito de veículos em estradas e acessos das áreas operacionais.

Estação de monitoramento da qualidade do ar na Vila Paciência (Fotos: Carlos Cruz e Internet)

De todo modo, foram mantidas e ampliadas ações de aspersão de água nas frentes de lavras, pilhas de homogeneização e de produto, além de aspersão de água nas vias das minas com caminhões-pipa.

A Vale mantém, em Itabira, a Rede Automática de Monitoramento da Qualidade do Ar, composta por cinco estações. Quatro delas monitoram qualidade do ar e uma delas é meteorológica, sendo seus dados consolidados conforme estabelece a Resolução CONAMA 491/2018.

Os dados coletados nas estações de monitoramento, a cada hora, são recebidos simultaneamente pela Vale, Secretaria de Meio Ambiente/CODEMA e Fundação Estadual de Meio Ambiente. 

As estações estão nas seguintes localidades: EAMA11 – Chacrinha/Pará; EAMA21 – Praça do Areão; EAMA31 – João XXIII; EAMA41 – Escola PREMEN; EM11 – Alto dos Pinheiros (Meteorologia).”

Análise

Divulgação dos índices da poeira é restrito, quando deveria ser amplo e em tempo real

Poluição do ar vindo das minas assustou moradores de Itabira, embora todo ano esse fenômeno seja recorrente

Em resposta anterior a este site, quando foi cobrada sobre a divulgação on line dos índices apurados com o monitoramento da qualidade do ar, a Vale esclareceu que isso é atribuição dos órgãos ambientais (Codema e Feam).

A divulgação dos índices de poeira é importante para que moradores e comunidade científica (profissionais de saúde, faculdades e Unifei) tomem conhecimento para cobrar ações mais eficazes, assim como para desenvolver estudos científicos sobre a dispersão geográfica da poeira. É importante também para que sejam avaliados os efeitos dessas ocorrências sobre a saúde da população.

O que se espera é que sejam observados os princípios da transparência e da ampla divulgação. Afinal, são fenômenos ambientais e meteorológicos que impactam, em diferentes graus, a qualidade de vida da população.

Entretanto, não é o que ocorre em Itabira. Não há, até aqui, disposição na Secretaria Municipal de Meio Ambiente em divulgar esses índices assim sejam dos computadores da Vale acoplados às estações de monitoramento da qualidade do ar.  A divulgação dos dados apurados só ocorre, burocraticamente, nas reuniões mensais do Codema.

Portanto, se alguém quiser saber qual foi o índice de poeira despejada nessa sexta-feira na cidade terá que aguardar a próxima reunião do Codema, quando deveria estar disponível on line, publicado duas horas após a ocorrência, no recém-lançado portal do meio ambiente da Prefeitura (meioambiente.itabira.mg.gov.br).

Mas nada disso acontece. Nenhuma informação consta no portal da Secretaria de Meio Ambiente sobre a ocorrência dessa sexta-feira. Quando se procura no site do meio ambiente pelos dados do monitoramento do ar e meteorológico, o que se encontra é a resolução nº 49, de novembro de 2018, do Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama), que estabelece os padrões de qualidade do ar.

Por essa resolução, com certeza nessa sexta-feira era para ter sido decretado estado de alerta, que é quando o índice supera 625 microgramas por metro cúbico (µg/m³). Isso enquanto, pela mesma resolução, o índice máximo admitido é de 240 µg/m³ – e não pode ser superado mais de uma vez por ano.

Estranhamente, o portal do meio ambiente da Prefeitura ignora a deliberação nº 1 do próprio Codema, de 4 de outubro de 2007, que estabelece normas e padrões mais restritivos para a qualidade do ar. Por essa deliberação, o índice máximo de concentração passou a ser de 150 µg/m³, sendo que antes era de 240 µg/m³.

Ter acesso a essas informações é direito da população. Afinal, são os moradores que sofrem, principalmente nesta época de estiagem e ventos fortes, com as doenças respiratórias decorrentes da poeira de minério em suspensão,  como rinite, sinusite, bronquite, asma. Leia mais aqui e aqui.

Com o recém-lançado portal da Secretaria Municipal de Meio Ambiente não há mais desculpas. Que haja divulgação ampla, geral e irrestrita de todos os dados relativos à qualidade do ar já! Que essas informações passem a ser publicadas de hora em hora no portal do meio ambiente da Prefeitura.

É o mínimo que se espera, além da divulgação das medidas adotadas relativas a punibilidade dessa e de outras ocorrências que certamente irão se repetir mais vezes, conforme prescreve a lei municipal de meio ambiente. (Carlos Cruz)

 

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6 Comentários

  1. Da janela de casa presenciei toda a dissipação da poeira vinda da mina, uma verdadeira cortina branca cobrindo a cidade. Sabendo que todos os anos neste período acontece ventos fortes facilitando a poeira se espalhar, Por que as medidas necessárias não são praticadas pela companhia para minimizar este problema?
    Por que a saúde pública não se faz presente, sendo que há um o alto índice de doenças respiratórias na cidade?
    Estamos no Texas?

  2. Quem sofre com isso é o meu nariz. Em casa a poeira provenientes deste vento faz estrago. E enquanto tudo ocorre meu nariz não para de coçar e parece um chafariz. Tenha dó!

  3. Uai, mas naquele processo contra a poluição de partículas em suspensão no ar que, o promotor Bevilacqua tocou pra frente e o editor desta Vila insistiu destemidamente, num ficou estabelecido que a CVRD deveria cobrir com uma massa com base em fubá para evitar a poerança? Mas a Vale Assassina é dona das almas de Itabira, portanto não há o que reclamar e sim sofrer sorrindo dando pulinhos em torno do buraco do Cauê – a montanha pulverizada. Quem poderia reclamar é o Aníbal Moura….

  4. Onze anos morando em Itabira. Mas chegou a hora de dizer adeus. Ótima cidade, com povo hospitaleiro. Vou embora levando minha filha de 3 anos, itabirana, que sofre com as crises de asma, além da minha esposa e suas alergias. Desejo que ocorra melhoras na qualidade do ar, pois ninguém merece conviver com isso.
    Este ano, sem nenhuma consulta a base de informações, até porque o acesso é difícil, eu sempre comentei aqui em casa que a VALE, agora preocupada com a questão das barragens, tem sido mais desleixada com esse controle da poeira sobre a cidade. Pode ser uma intuição falha da minha parte, mas a população e o poder público deveriam fiscalizar com mais afinco essa questão.

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