Vale diz adotar mais ações de controle da poeira em Itabira, mas elas ainda são insuficientes
Fotos: Carlos Cruz
Em apresentação na reunião do Conselho Municipal de Defesa do Meio Ambiente (Codema), na sexta-feira (8), representantes da mineradora Vale disseram que foram ampliados os meios empregados para diminuir a poeira de minério que cai na cidade de Itabira, impregnando as vias respiratórias do itabirano, agravando as doenças respiratórias.
Os dados apresentados confirmam as inúmeras reportagens que este site vem publicando desde a sua primeira postagem, em 5 de maio de 2017. Nos últimos anos, pelo que se conclui dos números de controle apresentados, a Vale vinha fazendo muito pouco para conter o “pó preto” despejado na cidade.
Agora promete ampliar as medidas de controle da poeira. Não por estar havendo mais cobrança da sociedade itabirana, que é pouca, mas com certeza é para obter boa performance nos indicadores de atendimento e relacionamento com as comunidades em seu entorno.
É certo que poeira despejada em Itabira, inclusive extrapolando os flexíveis parâmetros da resolução Conama em muitas ocasiões, pode ser um “pó preto” no meio do caminho da Vale para ficar bem nos requisitos ambientais e de relacionamento com as comunidades vizinhas. Para melhorar a sua performance, vai ter que investir muito mais para diminuir a poeira.
Tanto é que a empresa já estuda, inclusive, instalar em alguns pontos das minas as telas de Wind fences, uma barreira com material apropriado para conter poeira, a exemplo da que já vem empregando no porto de Tubarão, na grande Vitória (ES).
“Vamos lá (ao porto de Tubarão) levar o que temos de bom e trazer o que eles têm de mais eficiente no controle de poeira”, contou o conselheiro Breno Caldeira Brant, representante da Vale no Codema. “Nem sempre o que é eficiente lá (em Vitória) serve para o controle aqui”, observou o conselheiro da Vale no órgão ambiental municipal.
Para ampliar e aprimorar os investimentos no controle da poeira, para este ano em Itabira, os investimentos apresentados na reunião do Codema somam R$ 61,9 milhões. Mas para a professora Maria Alice de Oliveira Lage, ex-presidente e homenageada pelo Codema na mesma reunião, isso é nada se comparado com o que a Vale investe no porto de Tubarão.
“No Espírito Santo ela vai investir R$ 4,6 bi. Aqui ela está falando em alguns milhões. É muito pouco”, diz a ambientalista itabirana.
Leia sobre mais sobre o Wind fences e os investimentos da Vale no porto de Tubarão aqui:
Redimensionamento
Segundo o supervisor da Gerência de Infraestrutura das Minas de Itabira, Israel Alves Madeira, a partir deste ano, todos os equipamentos de controle da poeira foram redimensionados.
Para isso, foram ampliadas as áreas que estavam expostas e que passaram a ser cobertas por polímeros (substância biodegradável) ou por vegetação (gramíneas), reduzindo o locais com solo exposto.
No total ele informou que 600 hectares de áreas expostas, e que eram focos de poeira, receberam polímeros, um produto selante que impede o arraste de maior volume de poeira para a cidade.
Os polímeros são aplicados geralmente na cor verde e podem ser vistos da cidade, em alguns pontos das minas. A cor é para diferenciar as áreas onde a substância já foi aplicada das que ainda devem receber o selante.
Antes, em 2020 foram aspergidos polímeros em apenas 138 hectares, aumentando para 180 hectares no ano passado. A aplicação de polímeros ocorre principalmente nas pilhas de estéril que ainda não foram revegetadas, explicou o supervisor da Vale.
Madeira contou que a empresa está pesquisando novos polímeros para aumentar a eficiência dessa forma de controle. Para isso, busca no Canadá, onde as minas empregam um produto mais caro e eficiente, para que possa também ser aplicado nas minas de Itabira. “A Vale não vai economizar para trazer esse polímero.” Ou seja, deduz-se que até aqui vinha economizando.
Irrigações
Ampliação semelhante ocorreu com relação a quantidade de caminhões-pipa irrigando as vias de acesso às minas, consideradas também focos permanentes de geração de poeira.
Se hoje essa irrigação passou a ser feita por 17 caminhões, em 2021 eram apenas seis, sendo que em 2020 o quantitativo foi ainda menor: apenas dois caminhões operavam para apagar a poeira nas vias de acesso às minas.
Sem controle eficiente nas vias de acesso, coloca-se em risco a segurança até mesmo de quem opera esses pesados equipamentos. É que pode prejudicar a visão de quem opera os caminhões fora-de-estrada, com graves riscos à segurança.
Outro meio de controle são os aspersores fixos. Nas décadas de 1980/90 e no início deste século, esses equipamentos eram vistos da cidade em operação. Com o tempo foram reduzidos.
Em 2020/2021 cobriam apenas três quilômetros. Agora, segundo informaram os técnicos da Vale, voltaram a cobrir 20 quilômetros, de Conceição a Cauê, com um total de 22 aspersores. Mas esses equipamentos de controle da poeira ainda não foram vistos da cidade em funcionamento.
“O acionamento desses aspersores é pela sala de controle sempre que as condições atmosféricas exigem. Os operadores de equipamentos (os fora-de-estrada), ao perceberem o aumento da poeira, acionam a central para colocar o sistema em funcionamento”, assegurou Israel Madeira.
Outro equipamento de controle da poeira são os nebulizadores – e que também eram insuficientes, como reconhece a própria Vale. Em 2020 havia apenas quatro, saltou para oito em 2021 e agora são nove. Funcionam formando uma cortina de névoa com gotículas de água, diminuindo o arraste da poeira pelos ventos até a cidade.
Rebaixamento
Perguntado pela conselheira Maria da Conceição Leite Andrade, representante da Caritas Diocesana, de onde vem tanta água para apagar a poeira nas minas, se falta o precioso líquido na cidade para abastecimento da população, Breno Caldeira Brant respondeu:
“Vem dos poços subterrâneos (aquíferos) que são rebaixados”, disse ele, que completou: “Utilizamos também a água que ingressa no circuito (de concentração de itabiritos). Mais de 90% da água que entra no processo recirculam internamente”, assegurou.
Composição
A representante da Caritas quis saber também qual é a composição do “pó preto” que é lançado na cidade e impregna as vias respiratórias do itabirano. A resposta veio do presidente do Codema, Denes Lott:
“Vamos conhecer essa composição nos próximos meses, por meio de sensores que serão instalados em voluntários, que serão monitorados periodicamente para saber a quantidade e como age (a poeira de minério) no organismo das pessoas”, informou.
Ele se referiu ao programa CityNova, uma parceria da Prefeitura com a Unifei. “A Vale também está participando (dessa pesquisa)”, complementou Breno Brant.
Cinturão verde
Ao ser questionado pelo presidente do Codema sobre o raquítico cinturão verde que restou separando as minas da cidade – e que é uma das condicionantes permanentes da Licença de Operação Corretiva (LOC) do Distrito Ferrífero de Itabira – Breno Brant reconheceu que houve perdas, mas que já estão sendo recuperadas.
“Estamos adensando o cinturão com o plantio de espécies nativas. Muitas espécies foram suprimidas por queimadas”, afirmou. Ele se comprometeu apresentar na próxima reunião do Codema um relatório com os quantitativos e quais espécies arbóreas já foram plantadas neste ano para adensar “a cortina verde” e o que ainda deve ser plantado no próximo período chuvoso.