Vale declara à ANM que Itabira ainda dispõe de mais de 1,1 bilhão de toneladas de minério de ferro
Exploração das Minas de Itabira pode ganhar mais tempo, mas o prefeito eleito Marco Antônio Lage quer trabalhar como se o fim fosse para já
Viabilizadas as alternativas para a disposição de rejeitos das usinas Cauê, Conceição I e II, a vida útil das minas do complexo de Itabira pode durar mais alguns anos além do horizonte de exaustão declarado pela Vale, neste ano, à Comissão de Valores Imobiliários dos Estados Unidos.
É que, de acordo com o volume das reservas e dos recursos informado pela mineradora à Agência Nacional de Mineração (ANM), e que consta do Plano Integrado de Aproveitamento Econômico das Minas de Itabira, o município ainda dispõe de 842.1 milhões de toneladas (Mt) de reservas medidas – e mais 306,5 Mt de reservas indicadas, totalizando mais de 1,1 bilhão de toneladas, entre reservas e recursos.
Itabira dispõe, ainda, de mais 306,5 Mt de reservas inferidas. São os recursos minerais existentes no complexo, mas que ainda não contam com estudos detalhados e precisão nas prospecções – e que podem estar localizadas para além dos limites das minas, tornando a sua recuperação incerta e até mesmo improvável.
A Vale não informou à ANM se nesse volume estão incluídos os recursos existentes nas pilhas de “estéril” e nas barragens de rejeitos, que, em alguns pontos chegam a alcançar percentual acima de 30% de ferro.
Todo esse volume de recursos e reservas é muito mais do que está divulgado no relatório Form20 deste ano. À Bolsa de Nova Iorque, por meio do Formulário 20F, a Vale declarou uma reserva de apenas 418,9 Mt provadas e mais 377,4 Mt prováveis, totalizando 796,3 Mt.
Projeção
Considerando que a proporção entre minério de ferro e rejeitos nas minas de Itabira é de 46% para o primeiro, e que a capacidade produtiva do complexo é de 50 milhões de toneladas anuais, é perfeitamente factível projetar um horizonte de exaustão para além de 2031, com base nas informações prestadas à ANM.
Isso sem contar com o aproveitamento das reservas inferidas, além dos recursos existentes nas barragens e nas pilhas de estéril, o que inclui parte dos recursos de itabirito compacto.
Esse possível novo horizonte de exaustão coincide com o que projetou o ex-gerente Fernando Carneiro, que, em maio de 2017, disse que Itabira teria minério suficiente para produzir pellet-feed para depois da virada da década, com o aproveitamento do itabirito compacto. Leia aqui.
Procurada pela reportagem deste site, por meio de sua assessoria de imprensa a Vale informa que continua valendo as informações prestadas no relatório Formulário20F deste ano, que prevê a exaustão das minas de Itabira em 2029. Mas admite que essa projeção pode ser alterada, como historicamente tem ocorrido.
“Conforme o relatório 20F (páginas 79 e 80), o plano de exaustão das minas do Complexo Itabira foi ajustado para 2029 em função da revisão dos planos estratégicos de lavra e de produção da empresa”, assinala.
Esclarece ainda que as reservas minerais, provadas e prováveis, são de material in situ, isto é, conforme elas se encontram nas minas, composto por minério de ferro e material estéril, além de rejeitos.
“Importante esclarecer, ainda, que premissas econômicas, demandas de mercado e avanços tecnológicos podem interferir na estimativa dos recursos e reservas minerais declarados”, acrescenta a empresa.
Assegura que as pesquisas para o aumento do aproveitamento das reservas indicadas estão em constante evolução. “Os estudos levam em consideração aspectos tecnológicos, ambientais, legais e sociais. Após conclusão de viabilidade, os resultados serão submetidos ao processo de obtenção das licenças requeridas para a continuidade de qualquer empreendimento da empresa”, sinaliza.
Urgência
Para o prefeito eleito Marco Antônio Lage (PSB) uma projeção mais elástica para a exaustão das minas de Itabira em nada altera a necessidade de buscar a diversificação da economia local. “Estamos atrasados, já era para Itabira ter uma economia diversificada, ancorada em outros segmentos. Não temos tempo a perder.”
Lage disse ainda que pretende cobrar, assim que empossado, mais transparência nas informações da Vale, além de apoio a novos arranjos produtivos no município. “Temos que ter um plano estratégico de ação com objetivos e metas já pensando na imediata exaustão mineral”, é o que ele projeta para a política de desenvolvimento econômico no próximo governo.
Projeções da exaustão das minas não são precisas e mudam com o tempo
As projeções para a exaustão mineral mudam conforme a demanda de mercado, o avanço das tecnologias de processamento de minério de ferro mais pobre, assim como as condições ambientais e territoriais para que novos recursos possam ser incorporados às reservas itabiranas.
No início do século passado, as reservas de Itabira foram avaliadas em “1 bilhão e 500 milhões de toneladas de minério com um teor superior a 65% de ferro, que darão para ‘abastecer quinhentos mundos durante quinhentos séculos’, conforme garantia o visconde do Serro Frio”, registrou Drummond na crônica Vila de Utopia.
O poeta e cronista itabirano se referia à riqueza posta na montanha venerável do Cauê. “Os números que exprimem a quantidade de minério de Itabira”, confirma o professor Labouriau, “são astronômicos: de tão grandes tornam-se inexpressivos”.
“Inexpressivo é bem o termo: e não encontro também outro para qualificar a minha, a nossa indiferença diante de tanta opulência inerte. Somos tão ricos, em Itabira, que não nos preocupamos com a nossa própria riqueza”, assinalou o cronista.
Fim do minério
Desde 1942, quando teve início a exploração de minério de ferro em larga escala no município, as projeções para a exaustão mineral vem sendo alteradas.
Em 2001, quando a Vale iniciou a publicação da série histórica dos relatórios Form20, a mineradora informou ao mercado internacional que as minas de Itabira iriam exaurir em 2014.
Já no relatório do ano seguinte a previsão foi mais otimista: a exaustão ocorreria em 2021. Em 2003, aumentou em um ano o horizonte de exaustão, com projeção de o minério da mina Conceição e Minas do Meio exaurir em 2022 – e Cauê em 2004, como de fato ocorreu.
Ainda em 2004 a empresa declarou que a mina de Conceição iria exaurir em 2023 e as Minas do Meio em 2020. Dez anos depois, já em 2014, a previsão de exaustão saltou para 2025 (Conceição), mantendo 2022 para o horizonte de exaustão das Minas do Meio. Leia mais aqui.
Agora, o fim do minério de Itabira está previsto para 2029. É bem provável que esse horizonte se estenda por mais alguns anos no próximos relatórios, até que ocorra o sempre protelado fim inexorável.
O prefeito, Marco Antônio Lage foi eleito no momento certo, Itabira não poderia continuar na mão de ursupadores do bem público. Os eleitores de Itabira, com inteligência se livraram dos maus políticos.