Vale dá início à instalação da ECJ2 no Pontal em meio a incertezas e conflitos com moradores dos bairros Bela Vista e Nova Vista
Fotos: Reprodução
Começaram nesta semana as escavações para a construção da segunda Estrutura de Contenção a Jusante (ECJ2) no Sistema Pontal, com o início da cravação dos tubos de aço que formarão o imenso muro de contenção. O impacto da obra já é sentido pelos moradores, que observam a grande quantidade de água que emerge do solo ferroso durante o processo.
“Olha como está saindo água”, alerta a moradora Maria Inês de Alvarenga, conselheira suplente pela Cáritas Diocesana do Conselho Municipal de Meio Ambiente (Codema) e ativista do Comitê dos Atingidos pela Mineração em Itabira e Região.
Para ela, esse excesso de água reforça as dúvidas da comunidade sobre a eficácia da ECJ2 em conter rejeitos caso haja uma ruptura nas estruturas a montante, que estão sendo descaracterizadas.
“Nessas condições, como a Vale pode garantir que esta ECJ vai ser capaz de conter a lama com rejeitos no caso de um rompimento? Não é esta a função da ECJ2?”, questiona a ativista, que reside no bairro Bela Vista, um dos mais impactados pela obra, juntamente com o Nova Vista.
Insegurança e incerteza prolongadas
A apreensão dos moradores dos bairros Nova Vista e Bela Vista não é recente. Desde que a Vale anunciou a necessidade de descaracterização das barragens alteadas a montante, moradores desses bairros vivem em um estado de incerteza, sem saber quantas e quais residências serão removidas. A mineradora ainda não divulgou um número exato de remoções, deixando famílias sem respostas sobre seu futuro.
A notícia inicial sobre as remoções foi revelada por este site Vila de Utopia, em 11 de fevereiro de 2021, após a informação ter sido vazada pelo ex-secretário municipal de Meio Ambiente Denes Lott, em reunião com ativistas do Comitê dos Atingidos com o prefeito Marco Antônio Lage (PSB), em seu gabinete no Paço Municipal Juscelino Kubitschek, sede da Prefeitura de Itabira.
Isso ocorreu após a Vale manter silêncio sobre o impacto da obra na comunidade. Desde então, a mineradora tem se negado a divulgar detalhes sobre a extensão das remoções, mesmo com ações que já correm na Justiça local.
A situação chegou a tal ponto que o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) recentemente determinou, por um período, a paralisação das obras da ECJ2 após a mineradora alterar a mancha de inundação sem auditoria prévia e sem comunicação adequada aos moradores e à Assessoria Técnica Independente (ATI-FIP).
A mudança impacta diretamente o número de pessoas e residências que podem ser removidas, aumentando a insegurança da população.
Na ocasião, a Vale teria comunicado a alteração apenas ao Sistema de Gestão de Barragem de Mineração da Agência Nacional de Mineração, sem apresentar estudos técnicos de ruptura para justificar a nova mancha de inundação. Após novos entendimentos, as obras foram reiniciadas.
Impactos à saúde e qualidade de vida
Além da insegurança emocional e psicológica causada pela incerteza das remoções, os moradores enfrentam outros impactos diretos à saúde e qualidade de vida.
A construção da ECJ2, um imenso muro de contenção formado por tubos de aço justapostos e fincados ao chão ferroso, tem gerado ruídos intensos, poeira em excesso e tremores nas residências próximas.
Muitas casas já apresentam rachaduras antes mesmo do início das obras, e os moradores relatam que os impactos da construção estão agravando os danos estruturais.
A poeira constante afeta a saúde respiratória da população, especialmente crianças e idosos, enquanto o barulho das máquinas e a vibração do solo aumentam o estresse e a sensação de vulnerabilidade.
Segurança da ECJ2 em xeque

Uma barragem de rejeitos funciona como um grande aquífero, retendo água como uma esponja. Isso tem levantado mais dúvidas entre os moradores sobre a real eficácia da ECJ2 em conter a lama em caso de ruptura das estruturas a montante.
A mineradora afirma que tomará medidas para minimizar os impactos na comunidade, incluindo o tratamento das vias de acesso e adaptações nos equipamentos para reduzir ruídos, mas os moradores afirmam que essas medidas não têm sido eficazes.
Eles seguem preocupados com os riscos. E exigem maior transparência e participação no processo de decisão, com negociações coletivas, além das individuais já em curso para aquisição e venda dos imóveis que terão de ser removidos.
Isso é história que se repete como farsa e tragédia. Relembrem Explosivo, Santana, Rio de Peixe, Vila Paciência, Camarinha, Vila Amélia, Bela Vista, Nova Vista… Enquanto isso, os itabiranos cruzam os braços e deixam a vida passar devagar. “Acordará um dia”, já perguntou o poeta maior que “pensa cruamente que Itabira vendeu a sua alma à Companhia Vale do Rio Doce