Utopias-Distopias santa-marienses e itabiranas na década de 30

Indústria de laticínios 1*

Por Quito Guerra

Alguns fazendeiros de Santa Maria estão levantando a ideia de se fundar uma fábrica de manteiga para solucionar o problema da superprodução de leite.

Esta ideia deve merecer o apoio de todos porque soluciona o problema atual e proporciona aos interessados ocasião de aumentar a sua produção, aproveitando melhor a sua atividade.

Santa Maria de Itabira no início do século passado, onde havia uma indústria de laticínios (Fotos: acervo Cristina Silveira)

Sem aumento do gado poder-se à, com aproveitamento melhor, aumentar 1/3 a produção atual, tirando-se todo o leite produzido pela vaca, inclusive o que ora se deixa para o bezerro, que será alimentado com leite desnatado.

Ora esse aumento será o menor que se pode obter, pois pela maioria, as nossas pastagens são aproveitadas pela metade, porque com dificuldades na colocação do leite os fazendeiros não aumentam o número de vacas, o que poderão fazer até o máximo com a instalação de uma boa fábrica de manteiga, que poderá consumir uma litragem muitas vezes superior à produção atual.

Segundo estamos informados alguns fazendeiros não querem compartilhar emprestando o seu concurso a iniciativa, alegando que ficando eles, o queijo subirá e terão com isso grande lucro.

Um dos produtos da indústria de laticínios de Santa Maria de Itabira era a mussarela bola

São verdades indiscutíveis, mas que dependem de êxito da empresa que sem o concurso de todos parece-nos impraticável.

Pelo mesmo informante soubemos que certa companhia está interessada no assunto, mas só se estabelecerá ali sob contrato de fornecimento de determinada quantidade de leite, ora faltando esta condição que é a garantia da empresa tudo fracassará e a situação continuará insolúvel.

Enquanto todos, sem exceção e sem prejuízo, poderão se comprometer a fornecer a produção atual porque, melhorando o mercado de queijo, poderão aproveitá-lo com o aumento da produção, o que seria melhor do que sofrerem as consequências da baixa inevitável que se verifica na época das chuvas e que acentuam por ocasião da abertura das roças de milho.

Jornal de Itabira, 18 de novembro de 1933.

Indústria de laticínios 2

Itabira, peito de ferro e coração de ouro. Fez o centenário há pouco e só possui duas fábricas de tecido; única indústria que chama atenção.

Conheci nos meus tempos de criança – uma fábrica de chapéus e de boas mantas de lã, iguais as “150”, fábricas de arreios de sola d’anta, muitas de artefatos de ferro, com freios de superior qualidade e feitio, esporas, etc.

Será que as companhias estrangeiras fecharam os portões deste peito ou nós, fiados na grande riqueza do ferro, que já não é nossa, nos esquecemos de novas indústrias? Deixemos com os ingleses e americanos o que lhe demos e que tirem bom proveito, que estou certo reverterá também para nós ou para nossos vindouros. Não lhes censuro por isso e nem tão pouco aos vendedores – desconhecedores do que possuímos e ainda sem coragem de enfrentar tão grande empreendimento. Não descuidemos, porém, do nosso futuro, levando novas indústrias, sobretudo, agora, que tamanha crise devasta o mundo inteiro.

Bem me lembro quando se fundou a Fábrica da Gabiroba, ninguém acreditava na execução do projeto, entretanto, apesar dos revezes, houve um incêndio e nova chamada de capitais, ela aí está beneficiando não tanto aos acionistas, como à Itabira, em geral, principalmente aos operários que precisam do ganha pão.

A fábrica da Pedreira funcionava onde hoje é a barragem de Santana, no caminho para Santa Maria

Foi um grande esforço de meu tio dr. Guerra, de saudosa memória que, por causa dos benefícios desinteressados prestados ao povo conseguiu acionistas e nova chamada de capital. Relevem-me esta expansão, pois, falo, não como sobrinho e amicíssimo que fui do meu tio e, como tal, tenho guardada até hoje, no coração, a sua santa memória.

Fundou-se depois a fábrica da Pedreira que, igualmente beneficia à Itabira e aos seus filhos e, só mais tarde instalou-se o Banco do Comércio e Indústria de Minas Gerais e fundaram-se o Colégio Sul Americano e duas escolas normais (Colégio Nossa Senhora das Dores e a Escola Oficial), estabelecimentos que honram a nossa operosidade e cultura.

Porque não reunimos os nossos capitais, montando uma fábrica de manteiga, por meio de cooperativismo, com ações módicas, ao alcance de todos e com o concurso dos nossos vizinhos mais próximos? Li a história da pequena Rosalina, filha de um tamborileiro que, envelhecido, adquiriu uma pequena nesga de terra, onde cavou o pão para a família.Brincando, Rosalina começou a fabricar queijos de cabra, economizou tostões, interessou vizinhos pobres, pagando o suficiente para suas despesas e, no dia dos dividendos, distribuía aos amigos pobres e, então remediados, o que lhes cabia do saldo de sua grande fábrica de queijos.

Façamos como a pequena Rosalina; ela começou pobre, sozinha, ao passo que nós poderemos nos reunir, formando, de início, o capital preciso que, mais tarde, aumentado, dê lucro aos acionistas, aos fornecedores de leite e ainda trabalho a tanta gente precisada de dinheiro para as suas inadiáveis necessidades.

Fundemos novas indústrias, cada qual lance sua ideia em prol da nossa emancipação econômica e consequente interesse coletivo.

Esboçando esta ideia, em ligeiras linhas, confio da indulgência do leitor e aguardo a germinação desta semente, que lanço nas entranhas [inelegível] de nossa querida terra.

Jornal de Itabira, 25 de novembro de 1933.

[EXPOSIÇÃO DE FRUTAS. O dr. Altivo Drummond de Andrade, nosso prezado companheiro de redação, expôs no salão da Associação Comercial, em dias da semana passada, algumas laranjas de qualidade cultivadas na sua fazenda do Pontal.]

 [ABÓBORA GIGANTE. Em exposição na Casa Todinho, esteve por vários dias uma abobora que, pelo tamanho, vinha causando admiração de quantos a viam. Foi colhida na fazenda do Pontal, de propriedade de nosso companheiro de redação dr. Altivo Drummond. A gigantesca abóbora pesa 26k e 400 gramas.]

[SODA CAUÊ. Recebemos uma amostra da Soda Cauê, fabricada nesta cidade pelo sr. Joaquim Letro. Muito bem fabricada agradará por certo aos mais exigentes paladares.]

[VINHO CASTILHO. Quereis um bom vinho? Pedi. Castilho.]

[CIA UNIÃO ITABIRANA. Tecidos preferidos pelos fregueses, pela sua longa duração. PREÇOS RAZOAVEIS. Itabira – MG]

[FRANÇOIS BOISSON. Gêneros, ferragens, sementes de hortaliças garantidas, etc. GARAGES para AUTOMÓVEL otimamente situadas, separadas e fechadas a chave. Rua dos Operários, 54.]

[MERCEARIA SÃO MIGUEL. FABRICA DE MÓVEIS DE ESTILO. Dormitórios, Salas de visita, Salas de jantar, Guarda-roupa, Toiletes, Camas, etc. Reforma de móveis. Grande exposição de dormitórios, tipo colonial. Henrique Pirani, ACEITA ENCOMENDAS PARA PRONTA ENTREGA. Rua Tiradentes, 29 – Cidade de Itabira.]

 *Utopias-Distopias Itabiranas, na década de 30, armazenadas na Biblioteca Nacional, o quinto acervo no ocidente, resgatadas por Cristina Silveira

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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1 Comentário

  1. Primeiramente Lula Livre! Lula Livro! Lula Luta!

    querido Carlos querido, fantástico o acervo fotográfico desta Vila. “Bamburrando”, eu não conhecia esta palavra e deveria, dado que nós, do centro mineiro somos vitimas da bamburração do passado. O ouro rareou, o Divino Caué, tornou-se Cauê no congresso de Estocolmo e agora é uma cava dolorosa; deveriam devolver à Cidade pelo menos a ALTURA do Cauê, a identidade da Cidadezinha.
    A VILA de Utopia é essencial na defesa da Cidade e você Carlos tem espirito para não nos deixarmos esquecer o passado e tomar visão do presente. Por isso insisto, publicamente, para que vocês pensem na digitalização do velho e bom jornal, O Cometa Itabirano. Ouso dizer que vocês, “os mininos do Cometa”, pensem na ideia, que entendo como dever dos que pensam a Itabira, a lendária Itabira que só atendeu ao apelo da elite. Talvez se fosse “as minas do Cometa”, tudo estaria resolvido porque as “minas” tem o espirito antenado no futuro.
    PS. O Mauro Andrade nos tem oferecido o passado de Itabira, que ele busca em Portugal e África (ele até fala crioulo) por isso fica aqui o meu abraço ao melhor colunista da Vila. Beijoca pra todos vocês.

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