Unifei abre dois novos cursos acadêmicos, mas ainda não se pode dizer que Itabira tem uma universidade federal

Carlos Cruz

O campus de Itabira da Universidade Federal de Itajubá (Unifei) anunciou a abertura de dois novos cursos de graduação em bacharelado em Ciência e Tecnologia (Bctec) e Matemática Tecnológica.

Para o lançamento dos novos cursos, com toda pompa e circunstância, na noite de terça-feira (31), no teatro do Centro Cultural, veio a Itabira o reitor Edson da Costa Bortoni, que apresentou o formato do curso de Ciência e Tecnologia, enquanto o diretor Gilberto Cuzzuol fez a apresentação do curso de Matemática.

Gilberto Cuzzuol, diretor do campus de Itabira explicou como será a graduação em Matemática Tecnológica (Fotos: Ascom/PMI)

Com relação ao curso de Matemática Tecnológica não foi explicado se será integralmente presencial, mas o curso de Ciência e Tecnologia será 60% no formato de Ensino à Distância (EAD), “com algumas aulas presenciais em cada semestre”, informou o reitor Bortoni.

Segundo Cuzzuol, no curso de Matemática o aluno vai se preparar para desenvolver soluções matemáticas relacionados a problemas industriais, “com um programa de linguagem de alta capacidade” – e serão oferecidas 25 vagas.

A formação de bacharel para o curso de Ciência e Tecnologia, de acordo com o reitor, será completada após três anos de estudo. Embora tenha salientado que será um projeto audacioso “e disruptivo” (sic), o curso utilizará técnicas específicas do ensino à distância, com menos da metade da carga horária presencial no campus de Itabira.

“Com esse novo modelo esperamos alcançar o nosso objetivo que é levar o ensino para o Brasil”, destacou o reitor, sem, contudo, explicar o que vem a ser um projeto “disruptivo”. No release encaminhado à redação deste site pela assessoria de imprensa da Prefeitura não foi informado o número de vagas para esse curso “audacioso e disruptivo”.

Parque Tecnológico

O reitor Edson da Costa Bortoni disse que o curso de Ciência e Tecnologia será “audacioso e disruptivo”

Mas foi salientado que os dois novos cursos fazem parte do plano de expansão da Unifei em Itabira, que contará, ainda, com a implantação de um Parque Científico Tecnológico e aumento do número de alunos no campus de Itabira.

Contudo, esse parque tecnológico, que o ex-reitor Renato de Aquino Farias Nunes dizia que seria o carro-chefe para a diversificação da economia local, está atrasado em pelo menos 14 anos. Mas nunca é tarde, que seja logo implantado.

O prefeito Marco Antônio Lage (PSB) exaltou a iniciativa juntamente com a abertura dos dois novos cursos. Para ele é um avanço nos propósitos que nortearam a implantação do campus local, em 2008.  “O que vemos agora é a Unifei começando a cumprir efetivamente os três pilares fundamentais de sua presença para o desenvolvimento de Itabira.”

Esses pilares, segundo o chefe do executivo itabirano, passam pela ampliação das instalações das faculdades e o consequente aumento do número de estudantes para 10 mil. Atualmente são pouco mais de 1,9 mil alunos matriculados no campus de Itabira. O terceiro pilar, que também está atrasadíssimo, é o projeto do Parque Científico Tecnológico de Itabira.

“É o que vai contribuir para o avanço da nossa diversificação com as inovações tecnológicas, que são fundamentais para um novo ciclo econômico sem a mineração”, é a aposta que o prefeito faz, como fizeram também os primeiros mandatários anteriores, sem que saíssem da teoria para a prática.

Marco Antônio Lage espera ver a expansão do campus da Unifei e um Parque Científico e Tecnológico efetivamente implantado

Inovações tecnológicas

“A Prefeitura vê nesse projeto a oportunidade de aproveitar o potencial dos alunos da Unifei, contribuindo para criar um ambiente de inovações e empreendedorismo”, foi o que também salientou o assessor de Gestão Projetos e Metas da Prefeitura, Breno Pires.

“Alguns programas já existiam e foram reestruturados e potencializados para melhor aproveitamento”, explicou o assessor do prefeito. Na pauta de desenvolvimento estão 35 projetos com foco no empreendedorismo e inovação.

O investimento previsto é de R$ 15 milhões, o que inclui a implantação do Centro de Empreendedorismo-Unifei (CEU) para o desenvolvimento de “projetos empreendedores voltados para a inovação”.

Breno Pires explicou a formatação e os projetos do CITInova

O CITInova foi desenvolvido pela Unifei em parceria com a Prefeitura de Itabira e a Fundação de Pesquisa e Assessoramento à Indústria (Fupai).

As ações propostas devem contar com a participação de 43 docentes, 228 estudantes de graduação e 14 técnicos administrativos.

Eles atuarão nos ambientes do Centro de Empreendedorismo Unifei, campus Itabira (CEU) no Maker Space Coworking Itabira Hub, Incubadora de Negócios de Impacto e Base Tecnológica (Btec) e a Incubadora Tecnológica de Associativismo Comunitário.

Está claro que tudo isso vem a somar com o objetivo de sempre, e que já foi de longo prazo, ainda inalcançado, embora dele se fale em Itabira pelo menos desde a década de 1980, quando entrou em operação o complexo de Carajás (PA) e a exaustão das minas de Itabira entrou na pauta de discussão no município, que é a diversificação da economia local.

Pode-se dizer que até então Itabira está na escala pouco acima de zero – basta observar as “indústrias” instaladas no Distrito Industrial, a maioria prestadora de serviços à mineração, incluindo até mesmo a presença de garagem de ônibus e empresas da construção civil, o que foge do objetivo original de sua instalação, em 1981.

Por uma universidade de Itabira pluralista, pública, gratuita e engajada

Unifei em julho de 2015 (Foto: Humberto Martins)

Historicamente, Itabira tem se contentado com pouco. Tem sido assim, inclusive, com a implantação do campus da Unifei-Itabira, que dispunha de um projeto bem mais arrojado, conforme foi seguidamente apresentado pelo ex-reitor Renato Aquino, como proposta de uma universidade pluralista, pública e gratuita, sem taxas e mensalidades como querem passar a cobrar os neoliberais.

Não se pode nem mesmo dizer que se tem um campus universitário em Itabira, se for se apegar à sua definição da pelo Ministério da Educação (MEC).

O que se tem no campus de Itabira é um conjunto de faculdades de engenharia, com formações específicas, agora com mais esses dois novos cursos da mesma área das ciências exatas. Portanto, a Unifei continua focada numa única área do conhecimento.

Está longe de ser uma universidade, que para ser assim classificada deve ofertar uma variedade de cursos em diferentes áreas do conhecimento, incluindo as ciências sociais e humanas, destinadas a promover a formação profissional e científica de pessoal de nível superior, com realização de pesquisas científicas também voltadas ao saber humanístico, não só tecnológico.

Portanto, a Unifei-Itabira somente poderá ser considerada uma universidade quando abrir novos cursos nessas outras áreas, o que em muito contribuiria para a formação de cidadãos e profissionais nas mais diferentes áreas do conhecimento.

Quem sabe no futuro próximo, com um pouco mais de esforço, abnegação e vontade política, o campus da Unifei em Itabira possa ser de fato uma universidade?

Se isso acontecer, disporá da autonomia necessária para abrir novas faculdades, como por exemplo, de Letras (que Itabira já teve, hoje não tem mais na cidade de Drummond), Filosofia, História, Geografia, Sociologia, Pedagogia, Economia, tanto para a formação de professores (licenciatura) como de acadêmicos (bacharelado) – e também para a área de saúde.

Cadê o projeto da faculdade de Medicina, pública e gratuita, para o campus da Unifei de Itabira? O projeto “caducou”, desbotou, perdeu a cor com a possível instalação do mesmo curso de graduação pelo Uni-Funcesi?

 

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