União Europeia está contra o governo brasileiro pelo descaso com o meio ambiente

Veladimir Romano*

Descrédito, instabilidade diplomática e até situações emocionais comandam membros governamentais, políticos, comissários, parlamentares e líderes europeus da União, levantando vozes contra orientações estratégicas entendidas como prejudiciais ao meio ambiente, implementadas desde que Jair M. Bolsonaro assumiu a presidência do Brasil.

A recente passagem por Lisboa da ministra Tereza Cristina, do ministério agrícola brasileiro, é nota máxima dentro dessa perturbação política sentida diante das ações descabidas do governo brasileiro e sua equipe.

Com Portugal muito em breve assumindo comandos da governança europeia, o Brasil procura antecipadamente tirar proveito, na mira do primeiro-ministro português António Costa, para não deixar cair no saco roto essa questão que anda atrapalhando exportações brasileiras ao mercado europeu.

São mais de 500 milhões de consumidores habituados e conhecedores dos produtos brasileiros [mais de dez mil chegando ao valor comercial de 300 bilhões de dólares], tanto de qualidade como pela variedade. Quem no Porto, Lisboa, Coimbra ou em Faro não conhece os produtos brasileiros?

Mas causa frustração e muita tristeza ver prateleiras vazias, numa situação em que colocam negócios em risco depois de corajosos investimentos… Pois são brasileiros empreendedores apostando numa saída generosa para suas vidas, enquanto o governo finge que não vê o desastre ambiental, que prejudica os seus negócios além-mar.

Queimadas florestais e mal arranjos ambientais partindo de Brasília, de onde o ministro da tutela há muito perdeu credibilidade na opinião da União Europeia. Além disso, tem ainda as Organizações Não Governamentais dando em cima do governo de Jair M. Bolsonaro.

A vida para os exportadores brasileiros vai se tornando mais difícil. E para terminar o fecho de um círculo negacionista que vem aumentando a cada dia, a Presidência verde-e-amarela tropeça feio quando nunca conseguiu deste lado do atlântico enganar ninguém, ainda mais quando se inclui Ricardo Salles como ministro do Meio Ambiente.

Podemos afirmar que a apressada viagem governamental do ministério da Agricultura, nem que fosse especialista em magia, levando encantos aos governantes portugueses, conseguiria desfazer a imagem negativa.

União Europeia com nações poderosas como a França e Alemanha, ou das mais pequenas mas também influentes Holanda, Áustria, Suécia e Dinamarca, mantém sua ferocidade contra governantes brasileiros diante de tamanho descaso para com a questão ambiental.

De nada adianta usar o charme de Portugal, pela irmandade histórica ou do aplicativo vindo da CPLP [Comunidade de Países de Língua Portuguesa]. Nada disso terá valor para mudar a relação favorável ao Mercosul com os apelos de Brasília.

Analisando rapidamente, enquanto o Brasil quebra 5.8% do seu produto interno, Portugal anda nos 7,5%; ambos esperando crescer no próximo 2021: enquanto o Brasil adianta que será 2,8%, Portugal espera atingir crescimento de 5,4% igualmente do seu PIB, quando o Brasil poderia crescer muito mais.

Mas depois dos recentes acontecimentos no Pantanal, Jair M. Bolsonaro assinou em definitivo sua funesta sentença pessoal como dirigente máximo dessa grande República Federativa do Brasil.

Está sem crédito na Europa dos 27. Com isso prejudica milhões de brasileiros, comerciantes, exportadores, produtores, como prejudica igualmente toda a imagem do país.

Portugal, por muita boa vontade que o Brasil tenha dos governantes portugueses, por mais que desejem ajudar a nação irmã, nunca poderá fazê-lo.

A União Europeia não funciona dando o velho e costumeiro “jeitinho” ou empurrando vontades oportunistas com a barriga. É séria, exigente.

E faz tempo que está de olho nos falsos movimentos dos governantes brasileiros, desde a primeira hora, aterrando no apetitoso cadeirão administrativo de Brasília.

O realismo na defesa e aplicação dos acordos defensivos, e progressistas pelo Meio Ambiente, exige de pessoas como o presidente francês Emmanuel Macron, da chanceler Ângela Merkel ou até da presidente da Comissão Europeia Úrsula von der Leyden, sem fofoca, antes transparência, um firme comando sobre qualquer assunto na proteção do bem ecológico.

Com as suas preocupações, agentes políticos europeus querem neste momento várias coisas: combater e ultrapassar o coronavírus, implementar “Plano de Recuperação”, debelar a saga do “Brexit”.

Além disso, estão de olho vivo nas eleições norte-americanas, como também precisam encontrar solução definitiva para os migrantes, entre mais alguns escolhos mantidos no alerta da mesa de trabalho em Bruxelas.

No entanto, mesmo com tudo isso, uma coisa é certa: a União Europeia não vai descartar acérrima luta contra irresponsáveis brasileiros dada a situação de descaso e agressão ao meio ambiente. É assim que o Mercosul vai ser uma enorme dor de cabeça para quem governa o Brasil.

*Veladimir Romano é jornalista e escritor luso-cabo-verdiano.

No destaque, queimadas e devastações ambientais no Brasil têm sido o maior entrave para fechar acordo comercial entre a União Europeia e o Mercosul (Foto: Folhapress)

 

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1 Comentário

  1. O restante do mundo civilizado deveria fazer uma sansão geral contra o Brasil e suas desfaçatezes com o cuidado ao meio ambiente.
    Inicialmente parar de comprar a carne bovina produzida nestas áreas invadidas e também da produção de cereais.
    Queria ver se ia demorar pararem com isto.

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