Ucrânia: é preciso compreender a neutralidade africana

Veladimir Romano*

Como em tantas outras ocasiões, pouco crédito é dado ao continente africano pela maioria dos países dominantes da cena mundial, entre várias outras razões dessa indiferença ocidental está que algumas nações olham para o conflito ucraniano descobrindo que ele seja uma incumbência encomendada pelos Estados Unidos contra a Rússia. Das velhas memórias vindas da famosa “Guerra Fria”, deixando o assunto do que foi, foram deixadas também profundas marcas na África.

Não esquecer a época de múltiplas independências africanas e a maré de confrontos indiretos entre simpatizantes pró-russos e pró-norte-americanos, envolvendo enorme venda de armamento patrocinado pela Espanha, Alemanha, Inglaterra, EUA, Itália, Paquistão, China, Rússia e França.

Com mais recentes intervenções no desenvolvimento direto, afetando o continente em todas as frentes onde somente nos últimos 20 anos a China ganhou relevância jamais alcançada por outros ao longo das regiões sul, ocidental e oriental.

Parcerias pródigas trazendo e fazendo diferença marcante, justificando a esses povos alianças com resultados efetivos como nunca. Só em dez anos a China superou os investimentos norte-americanos na África, acumulando mais de 40 bilhões de dólares nas infraestruturas e transportes.

Assim, melhor neutralidade tem ficado em válida apreciação do que vai passando na Ucrânia, na maioria dos estados, tal como a própria União Africana se tem colocado em posição não alinhada.

Por isso não surpreendem atitudes dos 17 membros africanos da Assembleia Geral das Nações Unidas, em 25, quando exigiram “diálogo”, apostando determinadamente em abstenção.

Sem exagero, essa neutralidade tem atrapalhado planos e cálculos a quem tem mantido o conflito, tal como igualmente das piores desconfianças têm crescido e muito sobre as forças da OTAN e das motivações agressivas dos últimos anos da organização militar liderada pelas influências e ambições estratégicas dos norte-americanos.

Se podemos chamar de “equilibrismo”, os africanos não esquecem toneladas de trigo, fertilizantes, combustível e bolsas acadêmicas na preparação futura de quadros técnicos facilitados pela Rússia ao longo de três gerações [a Rússia produz 16% dos grãos agrícolas do mundo e 13% dos fertilizantes].

Calculando novas tentativas ou ambições imperiais, mesmo coloniais, para condenar a Rússia, antes, no entendimento africano, passa o sentido declaradamente humano, mas tão somente metendo política pelo meio… preferencial preocupação, aos africanos, na hipocrisia dos europeus e norte-americanos, eles apenas vão ignorar o número da porta onde uma guerra vai acontecendo.

*Veladimir Romano é jornalista e escritor luso-cabo-verdiano.   

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1 Comentário

  1. Os EUA iniciaram outra intromissão destrutiva, agora provocaram um conflito no Sudão. Mas pode pode dar ruim como foi o vergonhaço no Afeganistão.
    A Ucrânia destruída e perdida. Quem diria a perda da “Rússia de Kiev”!!!!

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