Tem gente com fome mesmo com produção de alimentos suficiente para alimentar mais que o dobro da população mundial, revela eCycle

Foto: Freepik

Desigualdade e má distribuição mantêm milhões sem acesso à comida, mesmo com produção recorde

De acordo com a eCycle, uma publicação especializada em economia circular e sustentabilidade, a produção global de alimentos é suficiente para alimentar mais que o dobro da população mundial. Ainda assim, milhões de pessoas continuam passando fome.

A desigualdade, os conflitos e as mudanças climáticas são os principais responsáveis por essa situação. A solução não reside apenas em inovações tecnológicas, mas em decisões políticas corajosas que enfrentem as causas profundas da insegurança alimentar.

Desnutrição e má distribuição

A produção mundial de alimentos nunca foi tão alta. No entanto, mais de 700 milhões de pessoas sofrem de desnutrição crônica, e 2,3 bilhões não têm acesso a uma dieta adequada. O problema não é a falta de comida, mas a má distribuição e o acesso desigual.

Grandes corporações preferem destinar alimentos para ração animal, biocombustíveis ou produtos ultraprocessados, em vez de vendê-los a preços acessíveis para populações carentes. Além disso, um terço de toda a comida produzida é desperdiçada, grande parte para manter preços lucrativos.

Impacto da desigualdade

Segundo a eCycle, a fome é, antes de tudo, um problema político e econômico. Conflitos armados, como os observados em Gaza e no Sudão, transformam regiões inteiras em zonas de fome.

Governos frequentemente ignoram táticas de guerra que usam a fome como arma, optando por oferecer ajuda emergencial em vez de resolver as causas dos conflitos.

A desigualdade também desempenha um papel central. Nos Estados Unidos, por exemplo, estados como Iowa, conhecidos por sua produção agrícola industrializada, têm 11% da população e uma em cada seis crianças enfrentando dificuldades para se alimentar.

Exemplo brasileiro: Fome Zero

No Brasil, o programa Fome Zero mostrou que políticas públicas direcionadas podem gerar resultados significativos.

Em 18 meses, o país reduziu a fome severa em 85% por meio de assistência financeira, programas de alimentação escolar e políticas de salário mínimo.

Essas medidas comprovam que a redistribuição de renda e o acesso a recursos são essenciais para combater a insegurança alimentar.

Soluções sustentáveis e agroecologia

A eCycle aponta a agroecologia como uma solução promissora para enfrentar a fome e as mudanças climáticas. Esse sistema agrícola aplica princípios ecológicos para garantir a sustentabilidade e promover a equidade social.

Além de sequestrar carbono e aumentar a resiliência a choques climáticos, a agroecologia reduz a dependência de fertilizantes e pesticidas sintéticos, que são caros e prejudiciais ao meio ambiente.

Investir em mercados locais e territoriais também é fundamental, pois eles fortalecem a resiliência econômica e garantem o acesso a alimentos diversificados e nutritivos.

Concentração corporativa e poder de mercado

No entanto, a concentração corporativa nas cadeias globais de alimentos continua a ser um obstáculo.

Desde sementes e agroquímicos até o comércio de grãos e o empacotamento de carne, grandes empresas controlam preços e exercem influência política desproporcional.

Políticas antitruste mais rigorosas são necessárias para limitar esse poder e garantir que os alimentos cheguem a quem mais precisa.

A eCycle destaca ainda que regiões pobres frequentemente ficam presas em ciclos de dependência de importações de alimentos, tornando-se vulneráveis a crises econômicas e interrupções nas cadeias de suprimentos.

Para romper esse ciclo, é essencial apoiar a produção local e regional, que não só gera empregos, mas também fortalece a segurança alimentar.

Além disso, é preciso reconsiderar o uso de cultivos alimentares para biocombustíveis, uma prática que desvia recursos essenciais para a alimentação humana.

Ação política para mudanças reais

A tecnologia pode desempenhar um papel importante, mas as inovações mais valiosas são aquelas que promovem sistemas alimentares equitativos e sustentáveis, e não apenas lucros corporativos.

Sem políticas que priorizem a equidade e enfrentem o poder concentrado, a fome continuará a ser uma realidade. A solução para a fome não é um mistério: o que falta é vontade política para enfrentar suas causas profundas.

A reportagem da eCycle deixa uma mensagem é clara: a fome persiste porque a injustiça persiste. Para erradicá-la, são necessárias ações políticas corajosas, e não apenas avanços científicos.

O combate à fome exige uma transformação radical no modo como produzimos, distribuímos e consumimos alimentos. E essa transformação só acontecerá quando os governos e a sociedade priorizarem a justiça social e a sustentabilidade.

 

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