Técnicos da Vale garantem que barragens são seguras, mas moradores continuam apreensivos
Carlos Cruz
A barragem do Itabiruçu, que aguarda licenciamento para ser elevada para a cota final de 850 metros de altitude em relação ao nível do mar – e assim garantir mais dez anos de mineração no complexo Conceição, segundo os técnicos da Vale, é segura. E o risco de rompimento é insignificante.
“Desde a sua construção, na década de 1980, Itabiruçu nunca apresentou problema de segurança e estabilidade. O alteamento será feito à jusante do maciço, que foi projetado já prevendo esses alteamentos”, afirmou Túlio Praes, engenheiro da Vale, na Reunião Pública realizada na quinta-feira (28 de junho), na Câmara Municipal.
Segundo ele, o alteamento aproveita a estrutura já existente do maciço da barragem. “O alteamento não irá alterar o nível de segurança do maciço, que permanecerá o mesmo”, assegurou.
O maciço, com o novo alteamento, passará a ter 85 metros de altura, enquanto a área do reservatório passará a ser de 870 hectares, com volume do reservatório de 313 milhões de metros cúbicos de água.
Para atingir essa cota, haverá supressão de 233,05 hectares da reserva legal do Itabiruçu, entre remanescentes de Mata Atlântica (128,09 hectares), pinus/eucalipto, pasto e solo expostos.
Para compensar esse desmatamento, a Vale irá criar outra reserva legal com área de 615 hectares. Mas não dito, e nem perguntado, onde será feita essa compensação. Pela legislação, ela deve ocorrer na mesma bacia hidrográfica, mas não assegura que ocorrerá no município onde ocorre o desmatamento. Trata-se de uma informação que ficou faltando na Reunião Pública e que precisa ser prestada à comunidade.
Segurança monitorada
Segundo ainda o engenheiro da Vale, na empresa não se economiza quando se trata de segurança das barragens. “Não há orçamento restrito para isso. São empregados o que existem de mais moderno e atual para garantir a segurança”, disse ele, para quem a possibilidade de rompimento é próxima de zero. “Todas as nossas estruturas são monitoradas e nos avisam em caso de ocorrer alguma anomalia em suas estruturas a tempo de fazer ações preventivas e corretivas.”
As explicações, no entanto, não dissiparam o temor com um eventual rompimento. A moradora Maria da Conceição, da Comissão de Meio Ambiente da Diocese de Itabira, lembrou que a barragem de Fundão, da Samarco, uma joint-venture da Vale e BHP Billinton e que rompeu no dia 5 de novembro de 2015, também era considerada segura pelos órgãos ambientais e por auditores externos.
“Qual é a garantia de que Itabiruçu também não pode romper?”, questionou. O trágico acidente ocasionou a morte de 19 moradores do distrito de Bento Rodrigues, em Mariana. Destruiu o povoado e deixou um rastro de destruição por toda a extensão do rio Doce até o litoral capixaba.
Sem comparação
Para o também engenheiro da Vale, Quintiliano Guerra, responsável pelo monitoramento das barragens em Itabira, a comparação com a barragem de Fundão não procede. É que, segundo ele, Fundão tinha outra tipologia construtiva.
“Em Itabiruçu temos estruturas geotécnicas que não sofreram danos e são permanentemente monitoradas. Se ocorrer alguma anomalia em suas estruturas, somos avisados a tempo de fazer as ações preventivas e corretivas”, afirmou. Além disso, o alteamento ocorrerá à jusante do maciço, que é mais seguro.
Moradores pedem mais explicações e Vale fará reuniões nos bairros
Mas as explicações da Vale não foram suficientes para tranquilizar a aposentada Maria José, moradora da Vila Conceição de Baixo. Ela contou que ao mudar para o bairro, vinda de Governador Valadares, não fazia ideia de que havia o risco de rompimento das barragens vizinhas – e que só passou a se preocupar após o rompimento da barragem de Fundão.
“Temos três barragens vizinhas (Itabiruçu, Conceição e Rio de Peixe). Falam que elas são 100% seguras, mas eu não acredito”, disse a moradora, que acrescentou:
“Eu fui a uma reunião e falaram que até patos podem provocar o rompimento de uma barragem. Itabiruçu está perto de uma rodovia e disseram também que tremores do tráfego podem ocasionar o rompimento. Como, então, os moradores podem ficar tranquilos? Quais as comunidades que correm riscos no caso de rompimento?”, quis saber.
A jornalista Liliane Dante passa os fins de semana e feriados na comunidade do Rio de Peixe, próxima de Itabiruçu. Ela disse acreditar que a empresa não economiza com a segurança de barragens, mas sabe também que o risco, por menor que seja, existe – e que por isso, preocupa os moradores.
Ela também quis saber como os moradores seriam retirados, caso ocorra o rompimento da barragem “Como é que sairemos vivos se houver um acidente?”, indagou, lembrando que nas comunidades próximas da barragem residem crianças e idosos.
Gestão de Emergência
Os técnicos da Vale responderam que existem dois programas para garantir a estabilidade da barragem e a vida das pessoas que residem em bairros por onde a lama de rejeito escorreria em caso de rompimento. São as gestões de segurança e de emergência.
Na gestão de segurança, disse Túlio Praes, são seguidos os protocolos preconizados pela legislação, que incluem o monitoramento permanente e auditorias periódicas.
E, para o caso de rompimento, existe o Plano de Ação de Emergência das Barragens de Mineração (PAEBM). É nesse plano que estão as medidas necessárias para a retirada de moradores.
Como precaução, serão feitos treinamentos em parceria com a Defesa Civil do Município. “Todas as ações emergenciais estão previstas nesse plano. Mas tenho certeza que não precisaremos empregá-las”, procurou tranquilizar, mais uma vez, o engenheiro da Vale.
Muitas outras perguntas formuladas pelos moradores, e também pelos vereadores, ficaram sem respostas. Infelizmente, após mais de duas horas de explicações, perguntas e respostas, o pronunciamento final do gerente Rodrigo Chaves, que iria tentar esclarecer as dúvidas pendentes, foi por diversas vezes interrompido por quem teve oportunidade de questionar a empresa.
Com isso, a reunião se encerrou antes de o gerente da Vale concluir o seu pronunciamento final, o que acabou deixando muitas dúvidas sem respostas. A Vale, entretanto, irá se reunir mais vezes com os moradores residentes em áreas que podem ser impactadas pelas barragens.
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