Sociedade Brasileira de Imunologia (SBI) se manifesta a favor do isolamento social como forma de prevenção e contenção da Covid-19
Existe um novo vírus em território brasileiro sobre o qual há muito a se conhecer para que soluções de saúde sejam encontradas. Contudo, com relação ao Novo Coronavírus, há algo que já é um consenso entre imunologistas, epidemiologistas, infectologistas, virologistas e todas as demais áreas científicas que, ano após ano, combatem epidemias das mais variadas: o isolamento social como forma de prevenção, contenção e auxílio à mitigação.
Hoje, mesmo o Reino Unido que, com seu sistema hospitalar de excelência, havia escolhido no início da pandemia seguir em padrão científico diferente – o da exposição dos cidadãos ao vírus -, já adotou medidas mais duras tendo o isolamento social como um marco de ação.
A COVID-19 não é um resfriado, mesmo que muitos infectados apresentem sintomas similares. Ela é uma doença que em sua forma mais grave leva o infectado a um quadro agudo de pneumonia, que hoje já resultou em mais de 16 mil mortes e aproximadamente 400 mil casos confirmados no mundo todo. Esses números estão subestimados, pois, inclusive no Brasil, grande parte dos casos suspeitos não está sendo testada.
É uma doença que infecta a todos: de crianças a idosos. Sobre a orientação internacional de manter as escolas sem aulas durante a fase de contenção, isso se dá pelas crianças, quando acometidas, geralmente não apresentarem sintomas, o que pode facilitar a rápida disseminação do vírus.
A COVID-19 possui um grupo de risco para o desenvolvimento de sua forma mais grave, mas não se restringe a ele. Dentro do grupo de risco estão pessoas idosas e já com a saúde fragilizada, como homens e mulheres com cardiopatias, diabetes e doenças pulmonares. Em um país como o Brasil isso representa milhões de pessoas.
O pronunciamento feito nesta terça-feira, 24 de março, em cadeia nacional, pelo Presidente da República, vai contra todas as orientações das sociedades científicas e da Organização Mundial de Saúde (OMS), especialmente em um momento em que o país já apresenta transmissão comunitária sustentada.
Por certo, todos nós entendemos o impacto que medidas de isolamento social podem causar aos mais diversos setores. Afinal, somos parte de uma mesma sociedade que está vivenciando e vivenciará os impactos da pandemia. Contudo, é preciso destacar aqui alguns pontos:
- O estímulo a atividades que podem ser feitas “home office” mantém pessoas produtivas, ativas e, sobretudo, seguras. Reduzir o número de pessoas na rua neste momento é uma ação preventiva e também de contenção que fará com que a COVID-19 no Brasil seja controlada de forma mais rápida;
- Uma sociedade doente em um mesmo período pode produzir por um tempo, mas não por muito tempo;
- O tratamento de doentes em ambulatórios e Unidades de Tratamento Intensivo (UTIs), bem como a compra de produtos destinados ao combate e cura dentro de um sistema hospitalar que pode vir a ficar esgotado – como previsão feita pelo próprio Ministério da Saúde – também é uma questão financeira;
- Por ser um vírus de fácil transmissão, os recursos humanos que hoje atuam em ambulatórios e hospitais também estão propícios a se infectar – e a ausência de profissionais aptos a lidar a com a pandemia nos hospitais também é uma questão financeira.
A Sociedade Brasileira de Imunologia acredita veementemente que prevenir e conter o avanço da doença, bem como investir em ciência e tecnologia são ações menos onerosas, mais efetivas e humanitárias. Portanto, ela vem por meio deste manifesto reforçar a necessidade de isolamento social.
A SBI Imuno também reafirma o comprometimento dos imunologistas brasileiros no combate ao Novo Coronavírus. Nossa comunidade está em força-tarefa para encontrar soluções de saúde de forma rápida e segura; atuando arduamente, mesmo em um momento em que o Governo Federal continua realizando cortes, como os determinados com a Portaria 34/2020.
Este é o momento de termos uma sociedade unida, que receba direcionamentos claros e alinhados do que deve ser feito. As orientações devem ser realizadas a partir de apontamentos científicos e em afinidade entre todas as áreas para que as pessoas e instituições possam se organizar e fazer o planejamento essencial para o período. A COVID-19 é um caso de Saúde Pública. Por que não ouvir os que trabalham na área diariamente?
Ricardo Gazzinelli
Doutor em Imunologia
Presidente da Sociedade Brasileira de Imunologia
sbi@sbi.org.br // Instagram: @sbi.imuno // Facebook: @sociedadebrasileiraimunologia.sbi
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No destaque, Vírus Sars-COV-2 (em rosa) infectam células humanas, que replicam material genético e morrem. Imagem: NIAID
E agora a nova notícia: a corona sofreu mutação aqui no Brasil. O pior está por vir.