Sirene do Mart Minas dispara na madrugada de sexta-feira e assusta moradores vizinhos. Hipermercado decide desligar equipamento
A dona-de-casa Kênia dos Santos, moradora do bairro Gabiroba, acordou por volta de 4h da madrugada dessa sexta-feira (13) com um estridente som de sirene. Assustada como muitos itabiranos, pensou que era um aviso da Vale de que havia rompido alguma barragem.
Ou que se tratava de mais um alarme falso, como ocorreu na noite de 27 de março, quando todas as recém-instaladas sirenes da mineradora foram acionadas, segundo a empresa, por um “erro técnico”, desculpou-se na ocasião.
O bairro Gabiroba está na rota da lama em caso de rompimento das barragens Conceição, Itabiruçu e Rio de Peixe. Mas como Kênia mora na parte alta do bairro, não se desesperou. Afinal, ela já havia sido instruída que, em caso de a sirene ser acionada, permanecesse em casa, pois a lama com rejeitos não chegaria até lá.

Por precaução acordou o marido José Geraldo, que permanecia dormindo, não tendo ouvido a sirene tocar. Da janela ficaram observando a movimentação no bairro. Viram algumas luzes acesas, mas nada de correria pelas ruas do bairro.
Mas como o seguro morreu de velho, Kênia e o marido não mais voltaram a dormir. “De manhazinha liguei para o telefone da Defesa Civil e ficou um jogo de empurra. Ninguém soube informar nada a respeito. Fiquei sem saber se era a sirene da Vale que disparou sem motivo, ou se era de algum outro lugar”, conta a dona-de-casa.
Só depois, conversando com os vizinhos, foi levantada a hipótese de que a sirene deveria ter sido acionada pelo sistema de segurança do recém-inaugurado hipermercado Mart Minas. A suspeita se baseou em um precedente: logo que o novo estabelecimento comercial foi aberto em Itabira, a sirene acionou à noite, assustando os moradores.
“O som da sirene é bem parecido com o que a gente ouviu no simulado do rompimento de barragem”, compara a moradora, referindo-se ao treinamento da Defesa Civil de Minas Gerais, realizado em Itabira no dia 17 de agosto.
Mas como os moradores ficaram sabendo no simulado, o acionamento das sirenes de alerta da Vale é acompanhado da recomendação para que todos se dirijam para os pontos de encontros, demarcados como sendo aonde a lama com rejeitos não chegaria. Como isso não ocorreu, estava desvendado o mistério. “Só podia ter sido a sirene do Mart Minas”, conclui a moradora.
Desligada

A gerência do hipermercado confirma ter sido disparado o sistema de alerta antifurto na madrugada de sexta-feira. E informa que a direção decidiu, nesta mesma sexta-feira, desativar as sirenes do sistema de segurança. “Vamos fazer o monitoramento apenas com as câmeras de vigilância”, informa o gerente Jorge Mourão.
“Não queremos mais incomodar ou mesmo assustar os moradores vizinhos. Sabemos que estão preocupados e podemos manter o sistema de segurança sem precisar acionar as sirenes”, informa, assegurando que acompanha, juntamente com os empregados do hipermercado, as medidas de prevenção para o caso de rompimento de alguma barragem.
“Participamos do simulado da Defesa Civil e sabemos o quanto essa questão das barragens tem assustado os moradores de Itabira”, reconhece. “Temos outros meios de garantir a integridade da loja sem precisar acionar a sirene.”
Itabiruçu

Antes de confirmar que a sirene foi acionada pelo sistema de segurança do hipermercado, a reportagem procurou a assessoria de imprensa da Vale, levantando a hipótese de ter sido, mais uma vez, acionada por engano ou “por erro técnico”.
A resposta foi que “não há registro de acionamento de sirene pela Vale”. E que todas as estruturas de contenção de rejeitos existentes em Itabira estão seguras, reafirma. Sobre a barragem de Itabiruçu, a empresa também informa que não há novidades.
“A Vale realiza o monitoramento integral da estrutura, que teve a sua declaração de Condição de Estabilidade (DCE) renovada em 30 de março deste ano”, reitera a assessoria de imprensa da mineradora.
Alteamento
Segundo esclareceu o gerente executivo de Operação da Vale, Rodrigo Chaves, em entrevista coletiva antes do simulado, o que levou à paralisação da obra foi o surgimento de “rachaduras comuns em obras dessa natureza”. E que a empresa tem sido mais cuidadosa e detalhista na execução da obra de alteamento de Itabiruçu.
A recomendação para paralisar a obra partiu da Aecom Engenharia, empresa de auditoria independente que vistoria as 15 barragens da mineradora na cidade, a pedido da Curadoria de Meio Ambiente, do Ministério Público da Comarca de Itabira.
“Não há risco na barragem Itabiruçu. Não há necessidade de emergência e nem de evacuação. Estamos tranquilos e todos os consultores nos passam essa mesma tranquilidade”, é o que tem sustentado o executivo da Vale.
O alteamento de Itabiruçu, considerado imprescindível para a continuidade da mineração em Itabira, só deve prosseguir após o período chuvoso, a partir do mês de março.