Sindicato Metabase de Itabira, o maior da região, sob nova direção. Sai a CUT e entra a Conlutas
Carlos Cruz
O mecânico André Viana Madeira, 33 anos, que aos 18 anos ingressou na Vale, foi eleito presidente do sindicato Metabase de Itabira, o maior da região, com cerca de 3,8 mil associados, entre trabalhadores da Vale, Belmont Mineração e Anglo American.
A eleição mobilizou 2.091 votantes. Com 1.217 votos (58,2%), o dublê de sindicalista e vereador pelo Podemos, o “Pato Rouco”, apelido de André Viana entre os colegas de trabalho na Vale, desbancou o também vereador Paulo Soares de Souza (PRB), que obteve 811 votos (38,7%).
Viana é o atual vice-presidente do sindicato, mas abriu dissidência assim que tomou posse. A nova diretoria será empossada no dia 1º de novembro, para um mandato de quatro anos.
Na campanha, ele criou o grupo Novo Começo, que se aliou ao grupo Voz das Minas, liderado pelo sindicalista Carlos “Cacá” Estevam, ex-militante do PT, hoje no PSTU. E assim criaram uma oposição unificada, com Cacá sendo eleito vice-presidente do Metabase.
Vereador atuante, André Viana deixou claro a que veio em sua primeira entrevista coletiva, nessa segunda-feira (13). Ele pontuou algumas das plataformas que pretende implementar à frente do sindicato.
Evangélico, o vereador sindicalista já declarou apoio à candidatura do deputado Jair Bolsonaro, candidato do PSL à presidente da República.
É ferrenho adversário do Partido dos Trabalhadores (PT) e da Central Única dos Trabalhadores (CUT), à qual o Metabase era alinhado desde os tempos do ex-presidente Milton Bueno, ainda na década de 1980.
Frente sindical
“No sindicato, seremos assessorados pela Conlutas, que é a central sindical mais séria e aguerrida do Brasil, que não se vende aos patrões. Sai a CUT, sai a turma do PT do sindicato”, anunciou na entrevista coletiva.
“Vamos mudar a política ideológica e administrativa do sindicato, que é uma míni prefeitura, com orçamento anual de cerca de R$ 8 milhões.”
A Central Sindical Popular Conlutas (CSP Conlutas) surgiu em 2006, durante a realização do Congresso Nacional de Trabalhadores (Conat). É vinculada organicamente ao Partido Socialista dos Trabalhadores Unificados (PSTU).
Faz oposição à CUT e ao MST, que considera braços sindicais e sociais do PT, tendo-se incorporado ao Estado após a eleição de Lula em 2002.
Se propõe constituir uma organização sindical alternativa, com inserção também nos movimentos sociais. Ao defender um sindicalismo responsável, a central adota um discurso moderado.
Por seu lado, a CUT a acusa de ter apoiado o golpe que derrubou a ex-presidente Dilma Rousseff (PT). E de “pelegar”, isto é, de se colocar como amortecedora da luta de classes entre patrões e empregados.
Isso por, entre outras alegações, defender o diálogo com governo e empresários, tendo participado de comissões tripartites por ocasião dos debates e encaminhamento da malfada reforma trabalhista de Michel Temer (MDB).
Prioridade nas negociações com a Vale é a defesa do salário, diz Viana
Com a nova gestão sindical, André Viana adianta que o foco será a luta pela recomposição salarial. “Antes focaram (os atuais dirigentes sindicais) em penduricalhos, nos benefícios (vale-alimentação, vale-cultura, PR) que são importantes, mas não recompõem o poder de compra do trabalhador.”
De acordo com ele, trata-se de uma estratégia da Vale para reduzir a massa salarial e desmobilizar a categoria.
“Nossos pais, que trabalharam na Vale, ganhavam 15 salários mínimos. Hoje, o salário base é um mínimo e meio. Eu tenho 15 anos na empresa e o meu salário bruto é de R$ 2,3 mil (ele é mecânico). Com descontos, cai para R$ 1 mil”, exemplifica.
Na luta pela recomposição salarial, André Viana propõe reunificar os movimentos reivindicatórios dos empregados da Vale, como ocorria nas décadas de 1980/90, com o denominado CUT Vale.
São 13 sindicatos que representam 116 mil trabalhadores da mineradora em todo o país. Segundo o sindicalista eleito, cada sindicato negocia separadamente com a empresa.
“A camisa é a mesma, a pauta também. O reajuste para Itabira é o mesmo para os trabalhadores do Pará e do Maranhão. Por que os sindicalistas não se reúnem e negociam juntos com a empresa?”, questiona.
André Viana vê nisso uma estratégia divisionista. “Os sindicatos fazem assembleias em dias diferentes e isso enfraquece o movimento reivindicatório. A nossa luta é nacional e precisa ser unificada, com as assembleias sendo realizadas no mesmo dia”, propõe.
Político emergente
Político emergente, Viana é um dos vereadores mais atuantes e articulados na Câmara Municipal, com grande capacidade de mobilização.
Conservador quando se trata da moral e dos costumes, ele é, contudo, um político capaz também de levantar bandeiras populares.
Atua entre extremos. Liderou, por exemplo, a Marcha da Inocência, segundo ele, organizada para dar um “basta ao erotismo juvenil e à pedofilia chamada de arte” (leia aqui).
Foi quando as denominações evangélicas da cidade se uniram em uma grande passeata para protestar contra a exposição Queermuseu – Cartografias da Diferença na Arte Brasileira, censurada pouco depois de ser aberta ao público, em agosto do ano passado, no Santander Cultural, em Porto Alegre (RS).
É também adepto da Escola Sem Partido. Trata-se de um movimento também liderado pela bancada evangélica no Congresso Nacional, que quer coibir a liberdade dos professores em sala de aula. É contrário ao que se convencionou chamar de doutrinação ideológica nas escolas.
Nessa mesma linha, critica a “ideologia de gênero”: “menina é menina, menino é menino.” Para os defensores dessa “ideologia”, não existe apenas o gênero “masculino” e “feminino”, mas o que quiser ser, livremente escolhido pelo indivíduo.
Outras atuações
Mas André Viana é atuante também em causas de apelo popular. Denunciou o cartel do combustível e do gás na cidade (leia aqui). E promoveu audiência pública sobre o transporte coletivo, liderando movimento contra o reajuste das passagens neste ano, sem obter sucesso (aqui).
E tem sido, na tribuna da Câmara, um crítico contumaz da atuação da mineradora no município. “A Vale está saindo de Itabira à francesa”, disse ele, após a divulgação do relatório Form20, encaminhado aos investidores internacionais.
Foi nesse formulário que a empresa informou que as minas de Itabira devem exaurir em 2018.
“Precisamos ter um posicionamento muito forte em relação à Vale, que não pode sair de Itabira deixando só buracos.”
Nessa atuação, Viana defende que não se deve persistir no discurso de pânico, mas também não se deve esmorecer.
“A empresa diz que irá trazer minérios de outras localidades para processar em Itabira. Mas não vamos pagar para ver.”
Para isso, ele adianta que será realizada, ainda neste ano, uma mega audiência pública com presença de deputados estaduais e federais. “Vamos debater as saídas para o fim da mineração.”
Com André Viana na presidência do sindicato Metabase, não há dúvida de que uma nova liderança popular emerge na cidade. E, com certeza, ele almeja voos mais altos na política.
Assim, não será de admirar se ele sair candidato a prefeito nas próximas eleições. Se eleito, repete a trajetória do ex-prefeito Wilson do Carmo Soares, do antigo PTB, que dirigiu a cidade entre 1963 e 1967, ao mesmo tempo em que presidia o sindicato Metabase.
Amigo Cacá, sempre torci para que você fosse presidente, não vice, do Sindicato Metabase de Itabira mas diante do rumo que a coisa levou só posso lamentar e cantar:
“Pelo curto tempo que você sumiu
Nota-se aparentemente que você subiu
Mas o que eu soube a seu respeito
Me entristeceu, ouvi dizer
Que pra subir você desceu
Você desceu”
Moisés!
Sai a CUT e entra Bolsonaro.
Itabira não tem jeito, já era. Da CUT pro Bolsonaro, deu ruim