Sindicalista diz que vereadores fazem “pé de meia” e clima fica tenso na Câmara

A Câmara Municipal de Itabira teve sessão quentíssima nessa terça-feira (20), como há muito não se via na Casa legislativa. Com a presença de servidores municipais em campanha salarial, o clima começou a esquentar quando foi pedido à presidência da Câmara, por um dos presentes, certamente desafeto dos dirigentes do Sindicato dos Trabalhadores e Servidores Públicos Municipais de Itabira (Sintsepmi), para que fosse retirada uma das faixas dos manifestantes – e que estaria impedindo o público de acompanhar a atuação dos vereadores em plenário. A faixa foi retirada sob protesto dos manifestantes.

A faixa da discórdia, retirada a pedido por parte do público incomodada com a presença do sindicalista Auro Gonzaga à direita, segurando a faixa (Fotos: Carlos Cruz)

O clima, porém, seguia ainda amistoso, com os vereadores se revezando no apoio aos servidores, reconhecendo a existência de disparidade salarial. Ainda nesse clima cordial, como bom anfitrião, o presidente da Câmara, vereador Neidson Dias Freitas (PP), sugeriu aos seus pares edis que votassem uma inversão de pauta, para que o presidente sindicato, Auro Roberto Gonzaga, fizesse uso da tribuna já naquela sessão legislativa para apresentar as reivindicações da categoria.

Pois foi o presidente do Sindisepmi começar a falar, para o clima esquentar. Auro Gonzaga até que começou conciliador, pedindo desculpa ao público por ter a faixa do sindicato atrapalhado a visão do plenário. Mas a conciliação parou aí. O sindicalista até concordou com os vereadores quando disseram que a manifestação dos servidores era pacífica, mas ponderou que não deveria ser assim tão ordeira.

“As coisas só mudam quando a gente pode manifestar. Mas quando a manifestação é pacífica de mais, ninguém dá ideia. Muitas vezes é preciso chutar o balde, se for necessário quebrar o balde, pois só assim a população é ouvida. As pessoas pediram para retirar a faixa por estar incomodando. Pois saibam que o servidor está incomodado, está sofrendo com três anos sem reajuste. O servidor está revoltado. E essa revolta precisa transparecer, senão o prefeito vai achar que está tudo bem.”

Sem reajuste

Na tribuna, o presidente do Sintsepmi, Auro Gonzaga, critica uma suposta relação fisiológica dos vereadores com o prefeito

Nesse momento os vereadores já foram ficando desconfiados, mas ainda mantinham o clima solícito, cordial. Eram todos, ou quase todos, só ouvidos.

O sindicalista prosseguiu, contanto que há três anos a categoria não tem reajuste salarial, que está todo mundo no arrocho.

E que, por isso, o sindicato irá encaminhar ao prefeito uma pauta enxuta, com reivindicação de um reajuste salarial de 31,25%, suficientes para repor as perdas salariais, além de ganho real de 10%.

“Muita gente ri do sindicato quando vê esse pedido. A Prefeitura vai arrecadar mais de R$ 500 milhões, sem contar o que vai entrar com o leilão dos lotes e com o aumento dos royalties. Como é que não tem dinheiro?”, indagou o sindicalista.

E seguiu subindo o tom de seu pronunciamento. “O prefeito prometeu valorizar o servidor municipal, mas o que vemos é mais gente sendo nomeada para cargos públicos (em função de confiança), torrando o dinheiro do servidor.”

Foi em seguida que o balde começou a entornar, no momento em que o sindicalista acusou os vereadores de praticarem o fisiologismo, o famoso toma lá dá cá tão comum na política brasileira. “Eu não sei o que está acontecendo nessa legislatura com relação ao governo. Mas na legislatura passada, quase todos os vereadores tinham cargos no governo. Nessa legislatura tem alguém que tem cargos no governo? Quem tiver que levante a mão”, provocou o sindicalista, despertando a ira dos vereadores.

Coalizão

Neidson Freitas, presidente da Câmara, explicou as atribuições dos vereadores nas negociações

Neidson o interrompe pela primeira vez. “Peço que o senhor se atente ao que está na pauta”, solicitou. “Isso que o senhor está falando não procede”, protestou.

Ele contestou a existência de fisiologismo na relação entre o prefeito e os vereadores. “Um governo de coalizão se compõe com os partidos que o apoiam para gerir a administração pública. Isso é natural, é justo e é perfeitamente aceitável”, considera.

“Não é isso, de maneira alguma, que irá afetar as negociações da Prefeitura com os servidores. Peço que o senhor faça uso da tribuna para defender os interesses de sua classe (sic) e não fazer questionamentos políticos e partidários.”

Mas Auro não se intimidou. E prosseguiu com as suas provocações, para quebrar de vez o balde. “Quem paga vocês é o povo. E o que vocês irão ganhar em quatro anos dá para fazer o ‘pé de meia’”, provocou o sindicalista.

Foi o bastante para o clima fechar de vez. Revoltado com tamanho insulto de um “visitante” que fazia uso do plenário, o vereador Adélio “Decão” Martins da Costa (MDB) se dirigiu à tribuna e afastou o microfone, cortando a palavra do sindicalista. “Não vou respeitar quem não está nos respeitando”, disse ele.

Vereador Adélio “Decão” cortou o pronunciamento do sindicalista

O presidente da Câmara também abandonou de vez a tentativa de parecer cordial, procurando relativizar as críticas do sindicalista. “A Câmara não tem poder de decidir sobre o aumento salarial para o servidor. A negociação é entre o sindicato e a Prefeitura” disse Neidson Freitas.

Segundo ele explicou, os vereadores não têm como mudar o percentual de reajuste que vir a ser proposto pelo prefeito. “Ou aprovamos o índice que o prefeito enviar ou reprovamos. Não podemos apresentar um índice alternativo, não é nossa prerrogativa.”

Reações em cadeia

Com o encerramento abrupto do pronunciamento do presidente do Sintsepmi, os vereadores se revezaram no desagravo coletivo diante das “maledicências sem fundamento” lançadas pelo sindicalista ao sugerir a existência da prática do fisiologismo e do nepotismo na relação do prefeito com os vereadores.

Carlinhos “Sacolão” se comprometeu a agendar reunião do sindicato com o prefeito

“Ao não respeitar esta Casa, o presidente do sindicato perdeu a oportunidade de expor todas as reivindicações dos servidores. Aqui não se faz ‘pé de meia’, o que ganhamos é definido em lei. Se ele acha que há corrupção (de vereadores), que prove na Justiça”, desafiou o vereador Reinaldo Lacerda (PHS).

O vereador André Viana Madeira (Podemos) condenou o que classificou como radicalização do presidente do sindicato, que chutou e quebrou o balde. “Eu trabalho na Vale, sou formado pelo Senai. Não estou na Câmara para fazer ‘pé de meia’. É devido ao radicalismo que sindicalistas estão perdendo o respeito no Brasil.”

Já o líder do governo, Carlos Henrique “Sacolão” Filho (PTN), disse que, mesmo com os vereadores se sentindo ofendidos com as as palavras do sindicalista, mantém a promessa de intermediar o agendamento de uma reunião para que se dê início às negociações do acordo salarial. “O que não podemos é aceitar que transformem esta Casa num programa do Ratinho”, mal comparou.

Weverton “Vetão”, da oposição, também lamentou a conduta do sindicalista

O vereador oposicionista Reginaldo das Mercês Santos (PTB) lamentou que o sindicalista tenha “perdido a cabeça”. Mas justificou. “São três anos sem reajuste, está difícil para todos”, ponderou.

Também sindicalista, o vereador Paulo Soares (PRB) criticou o uso da tribuna da Câmara para fazer proselitismo político. “Esse tipo de posicionamento não leva a nada”, disse ele, sugerindo aos vereadores que assinem um documento pedindo ao prefeito que dê início imediato às negociações.

Autor do requerimento para que o presidente do Sintisepmi fizesse o uso da tribuna da Câmara, o vereador Weverton “Vetão” Leandro Santos Andrade (PSB) também lamentou o ocorrido.

“Quero dizer que em momento algum direcionei o pronunciamento do presidente do sindicato. A causa é justa. Afinal são 5 mil servidores sem reajuste há três anos, precisando pegar dinheiro emprestado aos bancos para pagar as suas contas.”

 

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