Semana do Trabalhador 2025 celebra 80 anos de lutas históricas do sindicato Metabase em Itabira
Fotos: Rodrigo Oliveira
Carlos Cruz
Aconteceu nessa segunda-feira (28), no teatro da Fundação Cultural Carlos Drummond de Andrade (FCCDA), a abertura da Semana do Trabalhador 2025, instituída pela lei municipal nº 5.119, de 3 de maio de 2019, de autoria do então vereador André Viana Madeira – atualmente presidente do Sindicato Metabase e representante dos trabalhadores no Conselho de Administração da Vale.
Neste ano, os trabalhadores celebram também, juntamente com a sociedade itabirana, o aniversário de 80 anos de fundação da maior entidade sindical da região, o Sindicato Metabase de Itabira e da Região, além de conquistas sociais e trabalhistas históricas.
Para marcar a data, uma grande festa já está acontecendo, e terá como ponto alto o 1º de maio – Dia Internacional do Trabalhador, instituído mundialmente, inspirado nos eventos de 1886, nos Estados Unidos, com destaque para a greve em Chicago, que reivindicava a jornada de trabalho de 8 horas.
A programação inclui palestras sobre direitos trabalhistas e a precarização do trabalho com o que os sindicalistas chamam de pejotização, que consiste na contratação de trabalhadores como empreendedores individuais, o que é uma contradição por só disporem de sua força de trabalho.
Haverá ainda grandes espetáculos musicais com o cantor Bruno Diegues, ex-vocalista do grupo Jeito Moleque, que se apresenta na quinta-feira (1º), no Clube Metabase, no Rio de Peixe. Outra grande atração é com o cantor Péricles, na noite de sexta-feira (2), no parque de exposições Virgílio Gazire.
Celebração e Conscientização

Para o presidente do sindicato Metabase, André Viana Madeira, o momento é de celebração, como é também de conscientização e união da categoria dos mineiros da Vale e de todas as outras empresas que formam a base do sindicato.
“São 80 anos de muitas lutas, de dirigentes que foram presos e perseguidos na ditadura militar”, disse ele, referindo-se ao ex-presidente Wilson Soares, afastado temporariamente do sindicato pelo golpe militar de 1964, assim como foi também exonerado por um período do cargo de prefeito de Itabira que ele exercia na mesma ocasião.
“Celebramos a história de lutas daqueles que começaram a extração de minério em nossa cidade no muque, à base de marretas e picaretas, que deram sangue para o crescimento da empresa, carregando o minério em lombo de burros”, disse André Viana.
Um importante recorte dessa história está registrado no documentário sobre os 80 anos do sindicato, apresentado após os pronunciamentos na abertura da Semana do Trabalhador 2025, com depoimentos de ex-presidentes e diretores históricos do sindicato.
“Neste momento em que a sociedade brasileira vive um dias difíceis, com muitas incompreensões, uma polarização que tem destruído pessoas e instituições, e nessa conjuntura de transição, quanto temos que enfrentar os avanços da inteligência artificial, da nova revolução industrial, o nosso sindicato cresce e se expande territorialmente”, enfatizou o sindicalista, convocando os presentes a seguirem de “mãos dadas”, declamando ao final de seu discurso o poema Mãos Dadas, de Carlos Drummond de Andrade:
“Não serei o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros.
Estão taciturnos, mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considero a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.
(…)
O tempo é a minha matéria, do tempo presente, os homens presentes, a vida presente.”
Greve Histórica

O ex-presidente da Central Única dos Trabalhadores em Minas Gerais (CUT-MG), o sindicalista e marceneiro Carlos Calazans esteve presente no Centro Cultural, na abertura da Semana do Trabalhador 2025. Ele recordou em seu depoimento na abertura, como também no documentário, os momentos decisivos da greve de 1989.
“Vim a Itabira com a roupa do corpo para passar um dia e acabei ficando até o domingo seguinte, quando em uma assembleia os trabalhadores decidiram pelo fim da greve. Tive que pegar roupas emprestadas com companheiros da Vale, inclusive para participar de uma reunião de negociações com a diretoria da Vale, no Rio”, disse ele.
Calazans se refere a uma reunião, convocada para acontecer extraordinariamente, na quinta-feira, 6 de abril, na sede da mineradora, no Rio, com os 18 sindicatos que em 1989 negociavam acordo coletivo com a Vale, numa clara tentativa de esvaziar a greve que acontecia em Itabira.
“Logo no início da reunião, o negociador da Vale (Miguel Jourdan, então superintendente de Recursos Humanos) pediu a minha retirada da mesa de negociações, o que não foi aceito pelos demais sindicalistas”, relembrou o então presidente da CUT-MG, hoje subdiretor-geral do Ministério do Trabalho em Minas Gerais.
Naquela altura, a greve já tinha paralisado mais de 80% da produção da Vale em Itabira, o que representava metade de sua produção nacional. “A greve só aconteceu por ter uma grande liderança sindical, que foi Milton Bueno”, ele fez questão de frisar.

Não houve acordo na reunião do Rio. Tanto que foi preciso o ex-diretor de Operações da Vale Francisco Schettino, que depois veio ocupar a presidência da mineradora, vir a Itabira para negociar pessoalmente o fim da greve.
A negociação teve início no escritório do Areão, na noite de sábado, 8 de abril – e só foi concluída às 3h30 de domingo (9), quando, em assembleia, os mineiros da Vale decidiram pelo fim da greve.
Pelo acordo final, a Vale se comprometeu a não demitir os grevistas por um prazo de 100 dias, assim como a compensação dos dias parados com horas extras. Foi aumentado o adicional de turno de 20% para 22%. Quanto ao reajuste salarial, prevaleceu o índice de 60,1% apresentado na reunião do Rio com todos os sindicatos, o que correspondeu a um ganho real de 39,15%.

“A greve na Vale foi um dos mais importantes episódios grevistas em Minas Gerais. Eu ainda vou escrever um livro contando o que vi e vivi nessa greve, vou tentar recuperar toda aquela história, toda aquela memória”, prometeu Carlos Calazans, que chamou a atenção dos presentes na abertura da Semana do Trabalhador 2025 para a logomarca do sindicato Metabase.
“Olhem para o símbolo do sindicato, vejam que bem no meio tem as ferramentas manuais, nada automático. Isso porque no passado (a extração de minério) era feita com as mãos. A história dos trabalhadores da Vale e do seu sindicato é uma das mais maravilhosas que temos no país”, disse Calazans.
Ele lembrou que foi carregado pelos mineiros da Vale ao fim da greve, enquanto a Câmara Municipal de Itabira o declarou como pessoa não grata na cidade. “Eu ainda quero retornar à Itabira para ser homenageado também pela Câmara de Vereadores.”
Desenvolvimento Sustentável

O prefeito Marco Antônio Lage (PSB) também exaltou a história do Metabase e a contribuição dos trabalhadores mineiros para a economia municipal, lembrando que o município é ainda, transcorridas mais de oito décadas, em mais de 80% dependente da atividade minerária.
“O sindicato construiu relações trabalhistas fortes, desenvolvendo essa relação capital e trabalho de maneira muito digna e justa para o trabalhador, que construiu a própria história da Vale”, acentuou o prefeito.
“Uma história que começou aqui em Itabira para produzir minério de ferro, extraído na maior mina a céu aberto do mundo para atender à indústria bélica na luta contra o nazifascismo na Segunda Guerra Mundial”, exaltou.
“Contamos agora com a participação dos trabalhadores da Vale e de seu sindicato juntamente com a sociedade civil organizada, e com a própria Vale na construção de um futuro sustentável para Itabira, promovendo a transição para uma base econômica diversificada após a exaustão mineral”, disse o prefeito, referindo-se ao projeto Itabira Sustentável, que se arrasta desde o seu primeiro mandato, ainda sem resultados práticos alcançados.
Realização
A Semana do Trabalhador 2025 é realizada pelo Sindicato Metabase de Itabira e Região, com o apoio de diversas empresas e instituições parceiras.
Confira a programação completa aqui e participe com toda a família. Ainda dá tempo de contribuir, garantindo seu ingresso para fazer parte desta grande celebração da força do trabalho e da solidariedade.