Sem candidato agregador, terceira via não se viabiliza com falta de consenso na disputa presidencial
Foto: Pedro França/ Agência Senado
Rafael Jasovich
Interesses pessoais e regionais de caciques partidários, disputas internas e a pressão do Palácio do Planalto minam a possibilidade de uma candidatura unificada no centro político.
Prevista para ser anunciada em breve na chamada terceira via, a opção à polarização Lula-Bolsonaro é menos provável hoje do que há cerca de 20 dias, quando União Brasil, MDB, PSDB e Cidadania anunciaram acordo para lançar um candidato único à Presidência.
O impasse no grupo alternativo se dá pouco mais de um ano depois do lançamento de um manifesto assinado por seis pré-candidatos, em 31 de março de 2021. A idéia de formar um palanque único foi reduzida agora a um possível acordo, ainda remoto, entre duas legendas.
Hoje dono do maior quinhão de recursos públicos do fundo eleitoral – cerca de R$ 1 bilhão –, o União Brasil está sob ameaça de perder cargos no governo federal e recuou do projeto de parceria com as outras legendas.
Ganha força nesses choques de reivindicações pessoais e regionais a manutenção da candidatura do presidente da legenda, Luciano Bivar. Lideranças partidárias afirmaram que o lançamento do mandachuva serve como um escudo.
Protegidos pela justificativa de que tem candidato próprio, caciques estaduais não precisam arcar com o custo político de se indispor com o eleitorado de Lula ou de Bolsonaro. Bivar é incapaz de gerar incômodos justamente porque não vai emplacar.
A desarticulação inclui também a crise interna do PSDB, agravada pela falta de harmonia entre o pré-candidato, João Doria – ex-governador de São Paulo –, e a cúpula do partido. O tucano se esforça para manter vivo um projeto eleitoral cada vez mais isolado.
A pré-candidata à Presidência pelo MDB, a senadora Simone Tebet (MS), foi exaltada como alternativa à polarização, enquanto Doria foi criticado.
O presidente do PSDB, Bruno Araújo, que está em viagem no exterior, foi representado pelo ex-ministro Pimenta da Veiga, desafeto do ex-governador paulista. Convidado, Bivar faltou.
Veiga disse que, pessoalmente, não acredita que Doria seja o nome mais forte para disputar a Presidência. “Essa eleição está acima de aspirações pessoais e de interesses partidários. Todos os candidatos devem avaliar suas potencialidades”, disse. “É hora de desprendimento.”
O senador Tasso Jereissati (CE), que é contra a candidatura do governador paulista, se reuniu com a bancada tucana recentemente. No encontro, surgiu a idéia de ele assumir a vice em uma eventual chapa com Tebet.
Derrotado nas prévias do ano passado e sem avanço em articulações recentes, Leite agora se volta ao Sul. Já circulam informações de que pode disputar novamente o Palácio Piratini.
“Especulação. O que, de fato, farei é me dedicar mais ao tema da sucessão no Rio Grande do Sul para garantir que não haja retrocesso no Estado”, disse.
Apesar do entusiasmo com Tebet, nem o MDB se entende.
Caciques do Nordeste preferem Lula, o que gera crítica na terceira via, exemplo no Piauí onde o PMDB será vice da candidata à reeleição pelo PT.
A candidatura de Ciro Gomes (PDT) também tenta atrair partidos que até agora compunham o chamado centro democrático.
Essa ausência de um nome agregador na terceira via empurra o eleitor para a polarização.
Os partidos da terceira via não têm tradição de lançar candidatura própria, o que reforça o peso dos interesses regionais de caciques partidários.
A definição da chapa estava prevista para 18 de maio, mas nem a data é certa.