Santana está em seu nível mais baixo; seca já afeta a Vale, que detém a maioria das outorgas de água, enquanto a cidade que fica com as sobras

Foto: Carlos Cruz

A estiagem prolongada que há meses atinge a cidade de Itabira, já está afetando também a mineradora Vale, que detém a maioria das outorgas de águas superficiais e subterrâneas (aquíferos Cauê e Piracicaba).

A barragem de Santana, pela rodovia estadual que liga Itabira a Santa Maria, e que abastece a usina Cauê com a água nova, está em seu nível mais baixo desde a sua instalação em meados da década de 1970, para suprir a demanda industrial por água nova para concentrar itabiritos.

A mesma situação deve estar acontecendo na barragem Conceição (Zé Cabrito) que fornece água para as usinas homônimas.

Mesmo havendo circuito interno fechado para reaproveitamento dos recursos hídricos, a demanda da Vale por água nova é muito superior ao que é consumido na cidade de Itabira – só dos aquíferos, antes da estiagem vinha captando cerca de 1,1 mil litros por segundo (l/s).

Com Santana esvaziada, e com a seca sendo prolongada, é bem possível que até outubro apareçam as ruínas das casas da antiga vila de Santana, com a torre da fábrica de tecidos da Pedreira se tornando-se até mesmo atração turística, testemunha de uma economia diversificada que não existe mais – e que está longe de ser retornada.

Barragem de Santana nunca esteve com o nível de água tão baixo como agora nesta estiagem

Sem previsão de chuvas

Infelizmente, o alerta emitido pelo Instituto de Meteorologia (Inmet) nesta terça-feira (27) de chuvas intensas para as próximas horas, com 152 cidades mineiras não  é válido para a região de Itabira.

Para essas cidades em situação de perigo potencial, a previsão é de chuva entre 20 e 30 milímetros hora (mm/h), podendo totalizar 50 mm/dia, volume razoável para amenizar a seca severa nessa região, mas não no restante do estado e no país.

Para Itabira nos próximos 15 dias, segundo o Clima Tempo, não há previsão de chuva. A cidade deve permanecer com temperaturas entre 14° e 25°.

O máximo que deve ocorrer é de se ter uma garoa com cerca de 4 mm/dia. Isso pode até contribuir para diminuir as queimadas em Itabira, que enfim teve hoje o registro de fragrante de piromaníaco ateando fogo em mato seco no Distrito Industrial. Mas essa garoa será insuficiente para arrefecer a estiagem prolongada, que já se arrasta desde abril.

Perda de vazão

Pelo vertedouro da barragem desce apenas um filete, comprometendo-se a vazão do rio Jirau

Além dessa histórica insuficiência de recursos hídricos para suprir a demanda da população itabirana, a seca prolongada tem reduzido drasticamente a vazão em todas as fontes disponíveis no município, inclusive na zona rural.

É uma situação ainda mais grave do que se viu nos anos anteriores, com a escassez hídrica na cidade se arrasta desde o século passado, tanto que virou condicionante em 2000, com a obrigação de a mineradora resolver o problema do desabastecimento – o que só deve acontecer com quase três décadas de atraso, quando tiver início transposição de água do rio Tanque em 2027.

Com isso, Itabira está sem água em quase todos os bairros, o que não é novidade. A novidade, mas não surpresa, é a intensidade como ocorre neste momento, resultado das mudanças climáticas, mas também da indisponibilidade de fontes alternativas.

Os poucos mananciais disponíveis para abastecer a cidade sofrem como nunca com a diminuição da vazão de todos os seus afluentes (córregos Candidópolis, Rio de Peixe, São João), o que compromete drasticamente o suprimento pelas Estações de Tratamento (ETA) Pureza e Gatos.

Até mesmo os poços profundos das Três Fontes estão com baixa vazão, um indicativo da não recarga dos aquíferos Cauê e Piracicaba. Essa situação de estiagem prolongada não é privilégio de Itabira, mas aqui a situação é mais drástica em decorrência da mineração.

Reforços necessários e urgentes

Esta é a situação do manancial da Pureza, que abastece a metade da população itabirana (Foto: Thamires Lopes/Ascom/Saae)

Para amenizar o impacto dessa escassez junto à população, o Serviço Autônomo de Água e Esgoto (Saae) tem executado manobras, buscando distribuir da melhor maneira possível os parcos recursos disponíveis para não deixar a população por muito tempo sem o precioso líquido jorrando nas torneiras das residências.

Informa que desde meados de julho, a Vale passou a fornecer mais 30 litros de água por segundo (l/s), além dos 160 l/s por força de condicionante do Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) do rio Tanque, firmado com o Ministério Público, antes definido como sendo suficiente para reforçar o sistema de abastecimento de água na cidade.

Esse reforço a mais também é distribuído pelos sistemas Areão, Alça Hidráulica, e ETA Rio de Peixe.

Além disso, desde a segunda quinzena de agosto o Saae deu início à captação emergencial no córrego Rio de Peixe – e está bombeando 12 l/s durante 12 horas por dia, amenizando a crise de fornecimento de água nos bairros abastecido pela ETA Pureza, que atende cerca da metade da população itabirana.

Mas é preciso aumentar a disponibilidade para não agravar ainda mais a escassez nos próximos dias. Para isso, a alternativa disponível é ampliar a captação emergencial para 50 l/s, com operação por 24 horas diárias no córrego afluente do rio de Peixe, que já está sendo utilizado para esse fim.

Orientações

Com esse cenário, é imprescindível que a população faça a sua parte para economizar a parca água disponível, adotando práticas de conservação, sem desperdícios.

Nada de ficar lavando carros e passeios com mangueiras e até mesmo para irrigar plantas. Utilize regador para não deixar morrer as flores e a vegetação dos jardins.

E no banho diário, reduza o tempo – e feche a torneira quando estiver escovando os dentes, ou lavando as mãos, só reabrindo-a para enxaguar.

Procure também manter a reservação em sua residência, com caixa d’água com capacidade para atender a demanda por pelo menos 24 horas.

De acordo com a Resolução nº 132 da Arisb-MG, o Saae deve assegurar o fornecimento de emergência às instituições que prestam serviços essenciais à população, mediante solicitação, quando a interrupção do serviço for superior a 24h.

Serviço

O Serviço de Atendimento ao Cliente do Saae ocorre pelo telefone 115, que funciona 24 horas. A ligação é gratuita.

Ao ligar, o usuário deve ter em mãos a conta de água ou o número de sua matrícula. Outra opção é entrar em contato pelo WhatsApp, pelo número (31) 3839-1330.

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