Santa Maria de Itabira tem ocupação desordenada em suas encostas e nas bacias de contenção

Carlos Cruz

Após a tragédia no município de Santa Maria de Itabira, é hora não só de apoiar às famílias atingidas, mas também de programar a execução de obras preventiva, assim como de outras medidas mitigadoras, como forma de prevenir para que, mesmo repetindo fortes temporais, não se repitam a devastação e mortes que ocorreram na madrugada do fatídico domingo (21).

O triste saldo da “cabeça d’água” foram seis mortes, 2.476 pessoas atingidas, sendo que 1.085 foram desalojadas de suas casas, segundo informa a Defesa Civil do município. Trata-se de uma tragédia natural, mas também decorreu de ações antropicas em suas consequências.

“Se Santa Maria ainda não tem um plano diretor, é preciso que defina e o aprove com urgência. Possivelmente não tem, pois se tivesse, muitas ocupações em áreas de enchentes naturais e em outras áreas de risco não teriam ocorrido”, afirma o hidrogeólogo ouvido pela reportagem deste site na condição do anonimato.

Além de um plano diretor para a cidade, o hidrogeólogo sugere também uma série de medidas, como a construção de diques secos abaixo da barragem de Santana e à montante da cidade, para amortecer a força da água de futuras enchentes. Leia aqui.

Novos bairros

Loteamento e vasta área com solo exposto nas margens rio Jirau, na chegada de Santa Maria. No destaque, outro loteamento recente bem no centro da cidade (Imagens: Google Earth e Reprodução)

Segundo ele, se houvesse um plano diretor bem estruturado, e que fosse cumprido à risca, com certeza novos loteamentos não teriam sido aprovados nas margens do rio Jirau, como também nas encostas, com despejo de esgoto sem tratamento no rio.

E todos esses loteamentos estão com solos expostos que contribuem também para o assoreamento do rio, como se observa em vários pontos da cidade.

“Novos bairros foram abertos sem observar as curvas de níveis, em encostas íngremes e instáveis, como se vê pelo seu método construtivo”, observa.

“É preciso que os empreendedores imobiliários façam a sua parte na mitigação desses problemas decorrentes, até mesmo para não serem corresponsabilizados por outros sinistros”, adverte.

 

Assoreamento de afluente do rio Jirau, com carreamento de solo vindo de loteamento à montante, no centro da cidade

Desmatamento

Segundo observa o hidrogeólogo, esses loteamentos são recentes, como se vê por uma série histórica de imagens do Google Earth. Pelos registros de um desses loteamentos, em sete meses, depois de 7 de fevereiro de 2019, foi suprimida toda a vegetação do local.

“Entraram com máquinas e abriram ruas e avenidas em pouco tempo e sem os cuidados urbanísticos necessários.” Esse loteamento fica próximo do centro da cidade, na cota 580, enquanto a rua Casemiro Andrade está na cota 530, uma diferença topográfica de 50 metros.

Já o rio Jirau corre em seu leito na cota 508, para onde direciona todo o material (terra, areia) que desce dessas localidades, além do esgoto sem tratamento.

Ele sugere a urgente construção de uma Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) para toda a cidade, além de medidas mitigadoras desses impactos decorrentes do mau uso e da ocupação desordenada do solo.

Outra demanda imprescindível, segundo o hidrogeólogo, é para que se instalem estações pluviométricas operadas remotamente, em pontos estratégicos do município. Isso para que as condições climáticas possam ser monitoradas em tempo real pela Defesa Civil.

Outra área com solo exposto já bem próximo do encontro do Jirau com o rio Tanque

Areais e pastagens

Além de cobrar medidas mitigadoras dos loteamentos para conter o arraste de material para o rio Jirau, é preciso também fiscalizar e exigir licença ambiental dos areais que estão à montante de Santa Maria.

Print de vídeo com gado fugindo de deslizamento em encosta com pastagem, postado em um grupo de geólogos

Sem isso, de nada adianta realizar as obras de contenção de fluxo d’água, assim como o desassoreamento, alargamento e aprofundamento do leito do rio Jirau, além de amortecer o seu encontro com o Tanque.

As áreas de pastagens nas encostas também devem ser suprimidas. Vídeo gravado em Santa Maria no momento do dilúvio, mostra o gado em debandada para fugir da morte com o deslizamento do solo.

Assista aqui o vídeo postado em um grupo de geólogos no Linkedin com comentários.

“Não é o pisoteio do gado que provocou o deslizamento. Mas o plantio de braquiária em solo fraco, impróprio para a atividade pastoril”, critica o hidrogeólogo, acentuando que o gado sentiu o tremor do solo e buscou por refúgio. Não se sabe se o rebanho conseguiu se salvar, mas foi grande a mortandade de animais no município.

Se medidas corretivas dessas situações não forem urgentemente empregadas, mantém-se as atuais condições de assoreamento e dos consequentes transbordamentos dos rios Jirau e também do Tanque

E a história pode se repetir como mais tragédias anunciadas – e de proporções que podem ser ainda maiores. Que sejam por todos os meios impedidas de acontecer, buscando-se os necessários onde eles estiverem.

 

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3 Comentários

  1. A pergunta é:
    O que fazer para que tragédias como essa não aconteçam ?
    A resposta exata é: Não deixar as mineradoras implodiram pedras na sua cidade.
    Quem autorizou ?
    Qual promotor, qual juiz ?
    Vamos isentar a mineradora ?
    Vamos fazer de conta que as 1089 pessoas não estão desalojadas de suas casas ?
    Assuma seus erros de assassinato coletivo, enfia o rabo entre as pernas e vá embora COVARDEMENTE, novamente, sem fazer nada .

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