Santa Maria completa 76 anos de emancipação política de Itabira, mas não faz festa
Por Cristina Silveira, meio garrucheira, neta de garrucheira, com prazer
“Amigo, seja bem-vindo! Esta é a minha casa. Entra. A casa é tua também. Não faça cerimonia, há sempre um lugar na mesa. Logo verás que em breve, nossos amigos, parentes, estarão conosco, no embalo de longa e gostosa conversa, no convívio fraterno de nossas lembranças, nossas vidas que se fazem história.” (Márcio Sampaio)
Havia ouro e água. Era um pequeno arraial, lugar provisório, na imensa e rica região do Matto Dentro até a lei provincial de n. 1.758, 1/4/1871, quando passa a ter jurisdição própria e torna-se distrito de Santa Maria do Itabira do Matto Dentro, topônimo longo como as águas do rio Tanque, vindas da Serra dos Alves formar no chão da cidade duas beiras de rio, ícone na paisagem garrucheira.
Santa Maria do Itabira do Matto Dentro era o seu nome até que o decreto-lei n. 148, de 17 de dezembro de 1938, Estado Novo, reduziu para Santa Maria de Itabira.
Os mineradores não gostam da palavra Mato Dentro. Cinco anos depois, o decreto-lei n. 1.058, de 31 de dezembro de 1943, emancipa Santa Maria da lendária Itabira do Matto Dentro.
Agora, temos essa procopada dos garrucheiros, que cismaram de não comemorar o aniversário de emancipação política.
Preferem celebrar o dia da padroeira Nossa Senhora do Rosário, com início no fim de setembro, culminando os festejos em 7 de outubro. Talvez para estarem em Itabira no feriado de outubro, podendo ser também uma natural subversão.
São 76 anos de libertação de Itabira, mas as duas cidades jamais se separaram como família, na amizade e nos negócios.
Santa Maria de Itabira, assim é que é … Quando a noitinha vem descendo
ouve-se sempre ave maria e a Dora Letícia Guerra Bretas respondendo, Santa Maria! Santa Maria!
Glycia Guerra Moreira, Elza da Costa Lage, Ila Pires Lage, Judite Procópio de Alvarenga, Maria Perpétua de Assis Bretas, Bernadete de Alvarenga Duarte, Terezinha de Assis Bretas, Rosária Alvarenga Lage, Luciene Aparecida Mendes, Arlete Guerra Bretas e o padre Almir Adoniram Duarte. Dez mulheres garrucheiras e um padre que, se não nasceu, tornou-se Garrucheiro, fez-se um servidor da cidade.
As onze garruchas de puro ferro abriram os arquivos da paróquia de Nossa Senhora do Rosário e coligiram dos papeis amarelados uma pequena história para comemorar os 130 anos da paróquia, mais velha do que a cidade e sempre bem cuidada.
Em 2004 celebraram o grande acontecimento, que se completou com uma caminhada histórica por mais 1.855,9 de km – de Santa Maria até São Leopoldo, RS – e imprimiu o livro muitíssimo bem editado pela Oikos (São Leopoldo, RS), contando a história de Santa Maria por intermédio da paroquia. Com um título forte nasceu Atos da Caminhada de um Povo.
Incluíram no livro o artigo, Santa Maria: Linha telegráfica e protestantismo. A cisma no Mato-Dentro, do professor Arp Procópio, garrucheiro de sangue e alma, nascido por acaso em Sete Cachoeiras (Ferros).
E para completar a delícia do livro, foram publicados dois poemas do garrucheiro Marcio Sampaio, que cedeu a imagem de um quadro seu para a capa do livro. Um grande acontecimento construído de pequenos acontecimentos de uns e outros.
Feliz aniversário, Santa Maria de Itabira!
Poema I
Márcio Sampaio
Santa Maria tem sua história.
História simples como toda cidade.
Mas, que encontros, que maravilhas não fazem cintilar!
A rua do Rosário ensina o mundo,
que esquerda e direita, não é senão os dois lados de uma coisa,
e que a salvação tem uma cor muito simples
que se chama fé na justiça dos homens
e no patrocínio de Deus.
As casas da rua do Rosário são pequenas contas
que marcam os “Pai-Nosso e as Ave Marias”
e levam aos céus as ladainhas de esperanças.
A rua padre José Martins lembra antigos mistérios
mergulhados na clara visão da misericórdia divina.
Poema II
Márcio Sampaio
Vem amigo.
Caminhemos nas veredas de Minas
nas trilhas do tempo.
Teus olhos pousarão sobre uma paisagem
e aos poucos descobrirás, nesta toda simplicidade
uma canção, um sorriso, palavras fraternas.
Tuas mãos encontrarão, de repente, outras mãos.
Verás que todo mundo, aqui, é teu amigo.
Eu te apresento, Santa Maria, terra de amigos,
a minha cidade.
É preciso porém, desprendermos do agora,
Virar a roda do tempo, reconquistar o passado,
raiz e início de tantas vidas que ora te festejam.
Embrenha de mansinho, numa tarde calma,
setembro é quase findo – encontrarás
entre verdes sombras e cintilantes luzes
o córrego da Lage, a Fazenda das Mamonas
e a Gameleira frondosa,
que como a mãe carinhosa, abriga em suas sombras
os nossos sonhos de crianças e nossa pressa de crescer e viver.
Depois a estrada crispada de poeira
que o sol transforma em ouro voador,
nos levará pelo Lambari, até a margem do Girau,
até acidade.
Tu não vês casinhas coloridas?
Não te parecem um presépio que as mãos ansiosas
de crianças vão formando
e conformando os seus sonhos,
nas esperanças dos prêmios de Natal?
Santa Maria é mesmo um presépio de ano inteiro…
[BN-Rio/pesq.mcs1375]
HINO A SANTA MARIA DE ITABIRA
Letra e música de Mozart Bicalho
Pelas manhãs claras e puras
Ouve-se uma linda harmonia
Os pássaros cantam as venturas
Das terras de Santa Maria!
Pelo meio serpeando
Lépidas águas com poesias
O Rio Tanque está saudando
as terras de Santa Maria!
Quando a noitinha vem descendo
ouve-se sempre ave maria
e as criancinhas respondendo
Santa Maria! Santa Maria!
Muito bom, óh Cristina, mas tu não és da procopada, fica ao lado como da parentada, viu…
Vou aproveitar para retirar essas datas para a Chorographia da parte de Santa Maria.
E a Paróquia dali foi criada ainda em 1875.
Ficas bem, garrucheiros descendentes que somos,
Mauro, que também não sou da procopada, mas sempre ao lado… rs