Saae quer que população pague pela água captada no rio Tanque para atrair indústrias
A Prefeitura e o Serviço Autônomo de Água e Esgoto (Saae) farão audiência pública nesta quarta-feira (10), a partir de 17h, no Centro Cultural, para apresentar proposta de transpor mais de 200 litros por segundo (l/s) de água do rio Tanque – e assim reforçar o sistema de abastecimento em Itabira.
Esse reforço, segundo defende o presidente do Saae, Leonardo Lopes, é necessário para resolver em definitivo o que chama de “problema de abastecimento de água na cidade” – e atrair novas indústrias.
Conforme ele sustenta, mesmo com a construção da ETA Rio de Peixe e da ampliação da ETA Gatos, prevista para entrar em operação no próximo ano, não há como suprir novas demandas para instalar indústrias de médio e longo prazo no município.
Custos e conta a pagar
A captação com a transposição de água do rio Tanque tem custo estimado em R$ 53 milhões, mas pode superar a casa de R$ 80 milhões, conforme projeções anteriormente apresentadas.
Como a Prefeitura não dispõe de recursos para esse investimento, a proposta é de se fazer uma parceria público-privada (PPP), cuja licitação deve ocorrer após a realização da Audiência Pública.
“O investimento não sairá da Prefeitura e nem do Saae, mas da empresa que ganhar a licitação”, assegura Leonardo Lopes. “O Saae só fará a distribuição dessa água, que será cobrada do consumidor”
Ou seja, o investimento com a transposição da água do rio Tanque será pago pela população itabirana, que arcará com os recursos necessários para se ter o reforço suficiente para atrair novas indústrias.
“Estudos apontam que a captação de água do rio Tanque é a alternativa mais viável. Sem isso, não temos como atrair indústrias de médio e grande porte para o município”, justifica o vereador Solimar José da Silva (Solidariedade), coordenador do Grupo da Água.
Disponibilidade e consumo
Conforme números apresentados pelo presidente do Saae, um litro de água por segundo é suficiente para abastecer 330 pessoas. Por essa projeção, a nova disponibilidade hídrica de 500 l/s, já a partir do ano que vem, é suficiente para suprir a demanda de uma população de até 165 mil habitantes. Segundo estimativa do IBGE, Itabira tem população estimada de 120 mil habitantes.
Além disso, a instalação de um anel hidráulico fará a ligação das estações de tratamento e reservatórios. Desse modo, se faltar água em um manancial, o déficit será suprimido por outra ETA onde a água esteja vertendo com maior vazão, inclusive com reforço dos poços profundos das Três Fontes e do bairro Areão.
Entretanto, segundo Solimar, além de não ser suficiente para atrair novas indústrias, ele justifica a transposição ainda pelo fato de o consumo de água em Itabira ser acima da média nacional. Sendo assim, mesmo tendo aumentada a disponibilidade hídrica, pode faltar água para suprir o futuro crescimento populacional.
“A OMS (Organização Mundial de Saúde) preconiza que o consumo diário de água ideal é de 110 litros por cada habitante. Nós, itabiranos, gastamos quase 200 litros de água por dia”, argumenta.
Se esse dado é real, com gasto por habitante de quase o dobro da média nacional, o que se faz necessário é promover uma campanha para racionalizar e reduzir o consumo.
Outra tarefa urgente é diminuir o volume de água tratada que se perde entre as ETEs e os reservatórios até chegar aos domicílios.
Ex-secretário de Meio Ambiente sustenta que existem outras alternativas
O ex-secretário municipal de Meio Ambiente Nivaldo Ferreira dos Santos sustenta que estudos realizados sobre as alternativas de abastecimento de água em Itabira contemplam também outras opções – e que não estão sendo consideradas pelo Saae e Prefeitura.
Entre elas, está a captação de água no Ribeirão São José e nos córregos Cachoeira e Santa Cruz. São mananciais que se encontram na vertente da bacia do rio Piracicaba. “Não implicam em transposição de bacias e os custos previstos são menores que a opção pelo projeto rio Tanque.”
A alternativa do rio Tanque implica em transposição de microbacia, uma vez que pertence à bacia do rio Santo Antônio. Ao trazer essa água para Itabira, o excedente de consumo será escoado para o rio de Peixe, afluente do rio Piracicaba. São todos afluentes da bacia do rio Doce.
O ex-secretário ressalta também que as alternativas de captação de água devem estar de acordo com o Plano Municipal de Saneamento Básico (PMSB). Esse plano foi elaborado com participação comunitária – e aprovado pela Câmara Municipal em agosto de 2016.
“O disposto nesse plano deve ser levado em conta para a implantação dos projetos relacionados ao abastecimento de água em Itabira”, salienta o ex-secretário.
Aquíferos também são alternativas
Além dessas alternativas, hidrogeólogos da empresa Vale já apontaram no passado a alternativa de o município utilizar as águas dos aquíferos Piracicaba e Cauê. Esses aquíferos foram rebaixados e são utilizados para o suprimento de água nova para as usinas Cauê e Conceição concentrarem minério de ferro.
Com a exaustão mineral prevista para ocorrer depois de 2018, esses aquíferos serão o grande “legado” da mineração para a sustentabilidade futura do município, conforme defenderam esses mesmos hidrogeólogos.
Entretanto, para que isso ocorra é preciso que a mineração não ocupe toda a cava das Minas do Meio e do Cauê com rejeito de minério. Se isso ocorrer, esse legado deixa de existir – e será mais uma perda incomparável para o município.
Barragens
Para atrair novas indústrias, há também água disponível nas barragens de rejeito, que seriam aquíferos artificiais “antropogênicos”. “São como esponjas que absorvem e acumulam água das chuvas num processo de permanente recarga”, defendeu um desses hidrogeólogos da Vale.
A mineradora doou terreno na fazenda Palestina para a Prefeitura instalar um novo Distrito Industrial. A sua localização é próxima das barragens Pontal e Santana. Pode-se, portanto, estudar essa alternativa de fornecimento de água para as indústrias, captada desse aquífero artificial.
Portanto, as alternativas são várias – e não contemplam apenas a transposição de água do rio Tanque. E a empresa Vale precisa fazer parte dessas negociações.