Saae pretende captar água no rio Tanque, mas existem outras alternativas
Carlos Cruz*
Para resolver em definitivo a questão do abastecimento de água na cidade para as gerações atuais e futuras, assegurando assim parte da sustentabilidade do município, a aposta do Saae e da Prefeitura é captar cerca de 500 litros por segundo (l/s) do rio Tanque (leia mais aqui)
É a opção mais cara, com custo estimado em R$ 80 milhões. “Vamos buscar parceiros para este investimento, inclusive com a Vale, que tem sido sempre nossa parceira”, é o que pensa fazer o diretor-presidente do Saae, Leonardo Ferreira Lopes. “Tão logo o projeto esteja concluído, iremos captar recursos para o investimento.”
No Plano Diretor de Recursos Hídricos de Itabira, realizado sob patrocínio da Vale como parte de uma de suas condicionantes relativas ao abastecimento na cidade, a captação de água do rio Tanque é uma entre várias outras alternativas apresentadas.
Dentre as outras opções, é apresentada a alternativa de captar água no ribeirão São José, que precisa ser saneado. As outras alternativas de captação de águas superficiais são os córregos Santa Cruz, Cachoeira e também o rio de Peixe.
A Prefeitura já está investindo R$ 2,5 milhões só para elaborar o projeto executivo para captar água no rio Tanque. Uma decisão que precisa passar por mais discussão, até mesmo por não ser aconselhável pelos órgãos ambientais a transposição de bacias, o que ocorrerá com água do rio Tanque vindo para a cidade, transpondo para o rio do Peixe. Os dois são microbacias. O primeiro deságua no rio Santo Antônio e o segundo no Piracicaba.
Ambos, porém, pertencem à bacia hidrográfica rio Doce. Antes de realizar esse investimento, é preciso ver se é realmente a melhor alternativa – e também para saber se é prioridade alocar vultosa soma de capital nessa captação.
Água dos aquíferos é classe especial e pode ser alternativa pós-exaustão
Uma outra alternativa, muito empregada em cidades da Espanha que tiveram as suas minas exauridas, é ampliar a captação de água subterrânea, como já ocorre em Itabira, nas Três Fontes – uma água de classe especial, e que nunca falta nos bairros Pará, Centro e Penha, únicos atualmente abastecidos por esse sistema.
Isso porque, no futuro não tão distante, com o fim da mineração, sobrará água dos aquíferos Cauê e Piracicaba, que estão abaixo da encosta da serra do Esmeril e da linha férrea.
Esses aquíferos são as grandes reservas de água de Itabira. Se essas reservas hídricas não podem ser disponibilizadas desde já, com certeza estarão disponíveis assim que exaurirem as minas de Dois Córregos, Onça, Periquito e Chacrinha. A cava Cauê também está acima desse aquífero e fornece parte da água demandada pelas usinas de concentração que ficam à jusante.
Antes de a Vale iniciar o rebaixamento desses aquíferos, foi feita uma prospecção que constatou a existência de 338,8 milhões de metros cúbicos de água nesses imensos reservatórios subterrâneos. A previsão era de que seriam bombeados 37,2 milhões de metros cúbicos até a exaustão das chamadas Minas do Meio – o que não está longe de ocorrer. Se assim for, restarão 89% da água acumulada nesses aquíferos. Ou até mais, uma vez que ocorre recarga todos os anos nos períodos chuvosos.
Para diminuir o impacto da disposição de estéril, a Vale tem ocupado as lavras exauridas com esse material. É o que já ocorre na cava Cauê e também nas Minas do Meio.
É preciso que essa operação seja feita de tal forma a preservar o acesso a esses aquíferos. Isso até mesmo para seguir o que dispõe o artigo primeiro da Lei Federal 9.433/97, que define a política de recursos hídricos, e que considera como uso prioritário da água para o consumo humano e a dessedentação de animais.
Esse mesmo atributo é estabelecido na lei estadual 13.199/99, reforçando o abastecimento público como prioridade. Nada mais justo que as águas da serra do Esmeril retornem aos seus antigos donos, a população de Itabira.
Barragens
As barragens de rejeito do Pontal e Itabiruçu são consideradas, geologicamente, como aquíferos artificiais. É que o rejeito, por ter grande porosidade e permeabilidade, é capaz de armazenar água, como um aquífero natural.
No futuro, essas águas podem ser utilizadas para suprir a demanda de futuras novas indústrias – uma forma até de compensação ambiental pela exaustão das minas, também em benefício do desenvolvimento sustentável do município
Essas possibilidades precisam ser melhor debatidas com a mineradora Vale, como parte da discussão, que já deve ser iniciada, sobre o descomissionamento (fechamento) das minas de Itabira.
*Carlos Cruz é jornalista, repórter e editor deste site Vila de Utopia
E a barragem de Santana, não pode suprir essa necessidade de abastecimento?