Remoção temporária de moradores em áreas de “autossalvamento” é admitida pela Vale até que cessem riscos com barragens

“Achei interessante a proposta, apresentada pela professora, de remoção temporária de moradores de regiões que possam ser afetadas pelas barragens. E que depois elas possam retornar às suas residências em segurança quando o problema deixar de existir”, considerou o gerente-geral do Complexo de Itabira, Rodrigo Chaves, ao reconhecer que não existe uma só atividade e ou empreendimento humano que seja 100% seguro. “Até para atravessar uma rua é perigoso e temos que ter cuidados.”

Tuani Guimarães, ativista do Comitê Popular (Fotos: Carlos Cruz)

A proposta de negociação coletiva com os moradores para uma remoção temporária foi apresentada pela cientista social, a professora Tuani Guimarães, representante do Comitê Popular dos Atingidos pela Mineração em Itabira e na Região, que compôs a mesa na Audiência Pública das Barragens, ocorrida nessa segunda-feira (9), no teatro da Fundação Cultural Carlos Drummond de Andrade.

Segundo ela, essa remoção não deve ser negociada individualmente, mas coletivamente com os moradores que residem nas áreas que a empresa chama de Zonas de Autossalvamento (ZAS) e que os ativistas designam como sendo de alto risco de morte, ou do salve-se quem puder. Isso pelo fato de que a empresa e nem autoridades admitem que nada podem fazer para salvá-las em caso de ruptura de uma das 15 barragens existentes ao redor da cidade.

“As mineradoras têm interesse em ocupar territórios e queremos dizer que não aceitamos esse terrorismo, disseminando o medo das barragens para ocupar essas áreas. Que se faça uma remoção temporária, negociada coletivamente com os moradores”, propôs.

Segundo explicou Rodrigo Chaves, a remoção de moradores só ocorre a partir do nível 2 de risco de rompimento. Em Itabira, três barragens se encontram no nível 1, que exige maior atenção, mas sem a necessidade de remover moradores das áreas por onde a lama irá passar em caso de ruptura de barragem.

Indenização

Sobre a reivindicação de a empresa indenizar os proprietários de imóveis que foram desvalorizadas em decorrência desse risco de ruptura, Chaves adiantou que isso está sendo tratado na empresa.

“Estamos discutindo se vai aumentar o risco (de ruptura) com o descomissionamento de diques construídos sobre o rejeito e alteado a montante. Porém, só iremos saber após a conclusão do projeto de descomissionamento e descaracterização”, adiantou.

Gosto de onde moro, mas vivo assustada, disse moradora do bairro Conceição

Maria José Araújo, moradora do bairro Conceição

A aposentada Maria José Araújo, moradora do bairro Conceição, que fica abaixo da barragem homônima, também conhecida como de Zé Cabrito, disse estar assustada desde que ocorreu o que chama de crime de Brumadinho, quando se rompeu a barragem da Vale matando 270 pessoas, entre trabalhadores, moradores e turistas – e que deixou um rastro de destruição socioambiental no leito e ao longo do rio Paraopeba.

“Quem mora na zona de alto risco de morte tem que se salvar sozinho e se a lama descer, muitos irão morrer. Têm muitos idosos, gente acamado e em cadeiras de rodas”, alertou, com base no que viu no treinamento simulado de 17 de agosto, promovido pela Defesa Civil em parceria com a Vale e a Prefeitura.

“A nossa luta é por sobrevivência. A casa da Vale na Vila Técnica de Conceição já não recebe hospedes. Eu gosto muito de minha casa e não gostaria de deixar o lugar onde moro. Mas também não quero conviver com esse risco de morte”, desabafou a moradora, que é também ativista do Comitê Popular.

“Parede e meia”

João Batista entrega dossiê a Rodrigo Chaves na Audiência Pública

Após entregar a Rodrigo Chaves um dossiê fotográfico e documentos mostrando o risco iminente que vive por dividir “parede e meia” com o cordão Nova Vista, na barragem do Pontal, o morador João Batista Carlos disse que não quer mais conviver com esse perigo.

”Se houver rompimento dessa estrutura, em menos de um minuto a lama atinge a minha casa. E não haverá tempo para salvar a minha vida e de meus familiares da lama de rejeitos.”

João Batista é um dos moradores que querem ser indenizados pela Vale, para que possa se mudar para outro local com mais segurança.  “Vivemos diariamente um filme de terror.” Leia também aqui.

Posts Similares

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *