Regresso do cavaleiro
Itabira em 1940, com a imponente Serra do Esmeril, devastada ainda impunemente pela mineração
Foto: Acervo IBGE
Por Joana d’Arc Torres de Assis
Sob o toque das ferraduras
os pés-de-moleque geram feixes
de fagulhas reluzindo ao meio dia.
É o itabirano chegando.
Da montaria de prata
apeia saudoso
na sua Itabira.
Casas, paredes, oh janelas,
feitas de indescritível mistério?
Ele olha.
Lento caminhar mineiro
Acostumado às grotas prenhes
brotos novos
nas rodas do amanhecer.
Despistado já nasce
o Beco-do-Caixão:
antigas mulheres em garimpo
mastigam o feijão-das-águas-de-cada-dia
brotado nas covas
férteis do Cauê.
Lá adiante, o Pico do Amor,
aqui a prefeitura, a
casa,
o Teatro, Fonte luminosa (um casal de namorados).
Segue a Tiradentes
e tantas ruas de Itabira.
Já é a tarde.
Retorna. Entre os nós de seu silêncio
Tira o chapéu à Matriz
Que lhe diz:
“Saúde, Senhor”
e fica alta de amor
e grita sermões
entre as prendas dos
leilões.
Só mais oito vezes dez passos:
eis o jardim
cuja a forma é o coração.
Sua única flor ele
colhe
– um sonho de aura azulada.
Ele parte em trote bem rápido
desejando a baforada
de um cigarro de palha.
[O Garrucheiro, suplemento do Jornal O Papel de Pão, Santa Maria de Itabira, maio de 1983, ano III, n. 04 – Pesquisa: Cristina Silveira]