Recorrentes poluições do ar afetam a saúde da população em todo o mundo

A cidade de Itabira, MG, tem “tempestade perfeita” com a poluição do ar por partículas de minério em suspensão e fuligens de queimadas

Foto: Carlos Cruz

A poluição atmosférica é responsável por cerca de 7 milhões de mortes e 90% da população mundial respira ar com níveis de poluentes que excedem os limites indicados pela Organização Mundial de Saúde, OMS (1, 2)

Por Carlos A. de Medeiros Filho

 EcoDebate – Com razoável constância recebemos, infelizmente, informações sobre graves ocorrências de poluição do ar em todo o mundo, com características e causas variadas. Seguem alguns exemplos recentes dos muitos reportados.

Nova Déli, com cerca de 20 milhões de habitantes, é uma das cidades mais poluídas do mundo. Ela é afetada a cada inverno (hemisfério norte) por uma densa camada de névoa tóxica. Um estudo publicado na revista The Lancet, em 2020, afirma que pelo menos 17.500 pessoas morreram em Nova Déli em 2019 devido à poluição do ar.

A Índia tem a maior taxa de mortalidade mundial por doenças respiratórias crônicas e asma, de acordo com a OMS (3). O relato de Nova Délhi é um caso extremo que, infelizmente, está presente, em diferentes graus, na maioria das grandes zonas urbanas e industriais.

Em 2013, a China registrou uma média de 52,4 microgramas por metro cúbico (µg/m3) de partículas poluentes PM2,5 — dez vezes mais do que o limite recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS). As partículas finas PM2,5, provenientes da combustão de resíduos e combustíveis fósseis, são muito prejudiciais à saúde devido à sua alta capacidade de penetração nas vias respiratórias.

Pequim vivia o denominado airpocalipsis, algo como “apocalipse do ar” (4). A China, entretanto, reduziu em 40% a quantidade de partículas nocivas no ar entre 2013 e 2020, segundo o relatório apresentado em junho pelo Instituto de Política de Energia da Universidade de Chicago (EPIC, na sigla em inglês), nos EUA, que realiza medições por satélite (4).

Uma nuvem gigante de poeira cobriu o horizonte em Franca-SP em setembro de 2021. A cidade enfrentava racionamento de água por causa da estiagem prolongada (5). Essa inquietante nuvem foi percebida no interior de São Paulo e em Minas Gerais.

O fenômeno é uma combinação da poeira acumulada ao longo de semanas de estiagem com os fortes ventos que ocorreram antes das chuvas. Em Ribeirão Preto (SP), por exemplo, as rajadas chegaram perto dos 100 km/h. Na mesma região, em Pradópolis (SP), os ventos chegaram a 80 km/h. (6).

No primeiro semestre de 2023, milhões de habitantes da Costa Leste dos EUA conviveram com fumaça carregada de cinzas dos violentos incêndios florestais canadenses.

A fumaça começou a se espalhar para os Estados Unidos a partir de Quebec, envolveu horizontes inteiros em uma espessa névoa de fuligem, agravando os ataques de asma e levando as autoridades a declarar alertas de qualidade do ar em Pittsburgh, Baltimore e Provincetown, Massachusetts.

A névoa chegou a cobrir toda a cidade de Nova York, bloqueando o sol e tingindo o céu de um sinistro laranja escuro – como uma cena de um filme pós-apocalíptico. O fenômeno foi apelidado na internet de Smokepocalypse (7).

Focos de incêndio na Amazônia, em setembro e outubro de 2023, lançaram uma capa de fumo cinzento sobre a cidade de Manaus com cerca de 2 milhões de habitantes. Segundo o World Air Quality Index, a qualidade do ar de Manaus está entre as piores do mundo.

Os sinistros ocorrem em meio a uma seca extrema na região, com os rios em níveis criticamente baixos, dificultando o transporte e o abastecimento de cerca de 500 mil habitantes.

O estado do Amazonas atravessa seu pior outubro em 25 anos, no tocante a focos de incêndio. O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) registrou 2.770 focos ativos no último mês – um aumento de 154% em relação ao mesmo período de 2022 (8).

Metrópoles iranianas ficaram sufocadas, em março de 2013, por ar poluído. Durante uma semana, o ar acre fechou as escolas e manteve os residentes, reféns, nas suas casas. Os dias perigosamente poluídos também dobraram quatro vezes em Teerã desde o início do ano em curso, em comparação com o mesmo período do ano passado (9).

As complexas composições químicas orgânicas e inorgânicas das partículas atmosféricas (PA) são referidas como “coquetel químico” e podem conter diversos elementos tóxicos, incluindo metais e metaloides (p.ex., Cd, Pb, As, Cu e Cr) que são prejudiciais para saúde humana (10, 11,12).

Alguns estudos mostram que a poeira de rua contribui de 20-95% para poeira doméstica (Meyer et al., 1999; Rasmussen et al., 2001).

Consequentemente, casas próximas a áreas industriais podem ter uma concentração de metal mais alta do que casas longe delas. Da mesma forma, casas nos subúrbios podem ter menor concentração de metal do que casas no centro da cidade. (Rasmussen et al., 2013).

Os estudos e discussões sobre a química e fontes das poeiras domésticas, com suas implicações para a saúde humana são questões ambientais de significante importância, até devido os seus corriqueiros acontecimentos e recorrências anômalas. Termino com Drummond: “A natureza não faz milagres; faz revelações”.

Referências

1 https://cacamedeirosfilho.blogspot.com/2021/11/5-gases-poluentes-que-respiramos-todos.html?view=timeslide

2 in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 11/11/2021

3 https://en.wikipedia.org/wiki/Air_pollution_in_Delhi

4 https://www.bbc.com/portuguese/internacional-62053174

5 https://g1.globo.com/sp/ribeirao-preto-franca/noticia/2021/09/26/moradora-de-franca-sp-registra-nuvem-gigante-de-poeira-ao-lado-do-apartamento-nunca-tinha-visto-isso.ghtml

6 https://g1.globo.com/sp/ribeirao-preto-franca/noticia/2021/09/27/entenda-o-que-causa-nuvem-de-poeira-que-atingiu-cidades-do-interior-de-sp-e-mg.ghtml

7 Kristoffer Tigue. Inside Climate News, 09/06/23,

8 https://www.dw.com/pt-br/nuvem-de-fuma%C3%A7a-de-inc%C3%AAndios-florestais-sufoca-manaus/a-67097303

9 https://www.tehrantimes.com/news/480351/Citizens-of-metropolises-dream-of-clean-air

10 Fontúrbel, F.E., Barbieri, E., Herbas, C., Barbiera, F.L., Gardon, J., 2011. Indoor metallic pollution related to mining activity in the Bolivian Altiplano. Environ. Pollut. 159, 2870–2875

11 Zheng, J., Chen, K., Yan, X., Chen, S.J., Hu, G.C., Peng, X.W., Yuan, J., Mai, B.X., Yang, Z.Y., 2013. Heavy metals in food, house dust, and water from an e-waste recycling area in South China and the potential risk to human health. Ecotoxicol. Environ. Saf. 96, 205–2012

12 Turner, A., Simmonds, L., 2006. Elemental concentrations and metal bioaccessibilllity in UK household dust. Sci. Total Environ. 371, 74–81.

. 13 Meyer, I., Heinrich, J., Lippold, U., 1999. Factors affecting lead and cadmiumlevels in house dust in industrial areas of eastern Germany. Sci. Total Environ. 234, 25–36.

14 Rasmussen, P.E., Subramanian, K.S., Jessiman, B.J., 2001. A Multi-element Profile of Housedust in Relation to Exterior Dust and Soils in the City of Ottawa, Canada. 267 pp. 125–140.

15 Rasmussen, P.E., Levesque, C., Chènier, M., Gardner, H.D., Jones-Otazo, H., Petrovic, S., 2013. Canadian House Dust Study: Population-based Concentrations, Loads and Loading Rates of Arsenic, Cadmium, Chromium, Copper, Nickel, Lead, and Zinc Inside Urban Homes. 443 pp. 520–529.

*Carlos Augusto de Medeiros Filho, geoquímico da empresa Canal Geoquímico, graduado na faculdade de geologia da UFRN e com mestrado na UFPA. Trabalha há mais de 35 anos em Geoquímica em Pesquisa Mineral e Ambiental.

 

 

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