Quem não se indigna com a falta de respeito com os mortos pela Covid-19 é porque perdeu a dignidade

Rafael Jasovich*

Quem perde a capacidade de se indignar é por que antes perdeu a dignidade. O Brasil, infelizmente, está cheio de gente que está nessa situação.

“Vamos fazer um estudo”, “abrimos uma apuração rigorosa”, “tomamos as providências cabíveis”, “vamos criar uma comissão de especialistas”…

Quantas vezes o distinto leitor vê estas platitudes sendo ditas como se fossem reações adequadas diante de monstruosidades, que ceifam a vida de pessoas?

E, com a pandemia, não de “pessoas”, assim, vago. Não, de milhares de pessoas a cada dia, de dezenas de milhares a cada mês, de centenas de milhares de pessoas em menos da metade de um ano?

Vejo, na televisão, comentaristas dizerem que a decisão de Bolsonaro de forçar o Ministério da Saúde, o do “um tal Queiroga”, é “uma temeridade”, “um perigo”.

Não, não é uma temeridade. É um assassinato em massa.

Será que farão um estudo para saber quantos dos obnubilados pelo fanatismo estarão, amanhã, nas ruas, deixando de usar máscara, porque o energúmeno que nos preside assim recomendou? E quantos, em função disso, contrairão a doença e morrerão?

Ainda que seja um só, é um homicídio, porque se assume o risco de provocar a morte.

Cada um que permanecer tolerante aos boçais que empalmaram o poder terá que pagar pelo que está fazendo.

Há uma conspiração da morte com finalidades políticas em curso em nosso país e não mais se pode aceitar que se alegue que “eu sou técnico” para isentar-se de responsabilidade, porque estamos diante da aniquilação em massa de brasileiros e de brasileiras.

Estar no Governo é estar no projeto genocida de Bolsonaro, porque ele não governa, faz apenas a sua política de radicalismo e de extermínio.

E se foi, com isso, a legitimidade de sua eleição: não lhe deram um voto para provocar o morticínio de meio milhão de brasileiros.

Por onde se olhe de Queiroga a Paulo Guedes, dos generais da ativa e da reserva que estão no governo, todos estão apenas para gozar de postos e benesses para si, sem nenhum projeto para o país e, ainda pior, aceitando que ele seja desmantelado, inclusive pelo ceifar de vidas.

Quem tergiversar, não espere que o país, amanhã, não o trate como um traidor da Pátria e um assassino de brasileiros.

*Rafael Jasovich é jornalista e advogado, membro da Anistia Internacional

No destaque, Jair Bolsonaro durante passeio de moto com apoiadores em São Paulo nesse sábado (Foto: Alan Santos/Prsidency of Braz/EFE)

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