Queimadas e poeira, uma combinação imperfeita que assola Itabira todos os anos na estiagem
Todos os anos a história se repete, não como farsa, mas como tragédia ambiental. Com o clima e o mato secos, o itabirano sofre com as queimadas e os incêndios florestais, que deixam a atmosfera carregada de partículas de minério e fuligens em suspensão, trazidas pelos ventos fortes que, não raro, sopram em várias direções.
Além de sujarem a cidade, as consequências imediatas dessas partículas são o agravamento das doenças respiratórias, principalmente das vias aéreas superiores, atingindo grande parcela da população, além da degradação da qualidade do ar. Com isso, fica difícil respirar em Itabira nesta época do ano, situação que se agrava ainda mais em tempos do novo coronavírus.
Para o tenente Marlon Pinho Medeiros Aguiar, comandante do Corpo de Bombeiros Militar de Itabira, o balanço das queimadas e incêndios florestais neste ano não é pior do que foi registrado no ano passado. Mas é também motivo de preocupação – e tem mobilizado os bombeiros, que, não raro se defrontam com vários focos simultâneos para serem combatidos.
Só neste ano, que teve chuva no inverno, o que amenizou um pouco a situação, o Corpo de Bombeiros já atendeu 89 ocorrências em Itabira. Mas o número de incêndios foi maior, nem todos foram debelados pelos bombeiros, só extinguindo quando não havia mais nada para ser queimado.
“Como não podemos atender vários lugares ao mesmo tempo, priorizamos o combate às ocorrências em que o fogo possa colocar em risco a vida das pessoas”, disse o tenente Medeiros, em rápido balanço que fez nessa terça-feira (29), no plenário da Câmara Municipal. “Temos, muitas vezes, três, quatro incêndios simultâneos na cidade.”
Segundo ele, desde 2018 o destacamento de bombeiros de Itabira fez 456 atendimentos. “Infelizmente, em nossa região, Itabira tem sido a campeã em queimadas e incêndios florestais”, diz o comandante, que classifica o município no triste primeiro lugar no ranking das queimadas e incêndios florestais na região.
Comparação
Exagero à parte, o comandante do Corpo de Bombeiros compara a situação de Itabira com o que tem ocorrido na Califórnia, nos Estados Unidos.
Não chega a tanto, como também a situação no município não se compara com as tragédias ambientais provocadas por incêndios que assolam a região do Pantanal, assim como no bioma amazônico.
Entretanto, mesmo que em proporções menores, todos essas ocorrências têm um ponto comum: são todas criminosas, provocadas por grandes grileiros de terra no Pantanal e na região amazônica, e não por índios, seringueiros e pequenos posseiros como mentiu o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) no tragicômico discurso na Organização das Nações Unidas (ONU).
No caso de Itabira, incêndios florestais e queimadas são provocados por piromaníacos, contumazes carbonários que todos os anos agem impunemente na região e em outras várias localidades de Minas Gerais. “A maioria dos incêndios em nossa região é provocada pelo homem é criminosa”, confirma o tenente Medeiros.
Ainda ontem à noite, uma forte ocorrência foi registrada na área da Vale, no alto da serra do Esmeril e queimou por vários horas sem que fosse combatido pelos brigadistas da mineradora.
Nesse caso, é pouco provável que um piromaníaco tenha sido o responsável por atear o fogo, que ardeu por várias horas, poluindo ainda mais o ar da cidade.
Na região da barragem do Pontal, também pertencente à mineradora, como ocorre todos os anos, numa tarde de sábado um grande incêndio consumiu grande parte da floresta homogênea de eucalipto – e também os sub-bosques que vinham se formando.
Depois de arder por muitas horas, as brigadas de combate contratadas pela Vale conseguiram debelar o incêndio.
Prevenção
O tenente Medeiros se preocupa também com os focos de incêndio que têm ocorrido na cidade, principalmente em lotes vagos abandonados com muita sujeira. “Muitas pessoas têm o mau-hábito de colocar fogo no lixo residencial lançado nos lotes vagos e não raro sai do controle”, critica.
Para ele, mesmo as queimadas autorizadas pelo Instituto Estadual de Florestas (IEF), quando o proprietário rural prepara o terreno para o plantio, numa prática arcaica, mas ainda corriqueira, é necessário que sejam precedidas de todo o cuidado.
“É preciso abrir aceiros (faixa de terra sem vegetação) para o fogo não sair da área delimitada e manter o controle para que a queimada não se alastre para além da área, atingindo inclusive propriedades vizinhas”, recomenda.
Riscos à saúde e para o meio ambiente
Queimadas e incêndios florestais produzem micropartículas de fuligem resultantes da queima da vegetação.
Levadas pelos ventos, essas micropartículas se espalham pelo ar carregadas de elementos tóxicos, como o monóxido de carbono e o dióxido de enxofre.
A fumaça funciona como um irritante a mais das vias respiratórias, que sofrem com a combinação de partículas de minério em suspensão, a poeira proveniente das minas da Vale.
Para o meio ambiente, além de destruírem florestas e toda a vegetação, queimadas e incêndios florestais empobrecem o solo, matando os micro-organismos que nele vivem.
Causam, também, danos à fauna e flora com a destruição de espécies vegetais e morte de animais silvestres.
Ao se queimar uma árvore, o gás carbono (CO2) acumulado em suas raízes, tronco, galhos e folhas, é liberado prejudicando a qualidade do ar.
Ao morrer, consumida pelo fogo, a árvore deixa de cumprir o seu papel de “sequestrar” o CO2 da atmosfera. Deixa assim de liberar oxigênio (O2), que é o ar que respiramos.
Resultado: piora a qualidade da atmosfera, afetando ainda mais a camada de ozônio (O3), que protege a vida na Terra (animais, plantas e seres humanos) dos raios ultravioleta emitidos pelo Sol. Sem essa proteção, a qualidade do ar deteriora, prejudicando a qualidade de vida para todos, bichos e gente.
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