Plantações comerciais homogêneas para captura de carbono ameaçam biodiversidade tropical

Foto: Fábio Pozzebom/Abr

A crise climática está levando a um boom nas plantações comerciais de árvores, na tentativa de compensar o excesso de emissões de carbono. No entanto, um novo estudo sugere que essas plantações podem vir com custos para a biodiversidade e outras funções do ecossistema.

EcoDebate – Os autores do estudo, pesquisadores da Universidade de Oxford e da Universidade do Texas em Austin, argumentam que as plantações de árvores para captura de carbono geralmente são monoculturas.

Isso significa que são plantadas com apenas uma espécie de árvore. Isso pode levar à perda de biodiversidade, pois as plantações suportam menos espécies de plantas e animais do que os ecossistemas naturais.

Além disso, as plantações homogêneas de árvores para captura de carbono podem degradar diretamente os ecossistemas, reduzindo o fluxo de córregos, esgotando as águas subterrâneas e acidificando os solos.

“A tendência atual de plantio de árvores focada em carbono está nos levando ao longo do caminho da homogeneização biótica e funcional em larga escala para pouco ganho de carbono”, escrevem os autores.

“Uma área equivalente à área somada total dos EUA, Reino Unido, China e Rússia teria que ser florestada para sequestrar um ano de emissões.”

O estudo analisou dados de 184 estudos sobre os impactos das plantações homogêneas de árvores para captura de carbono. Os autores descobriram que as plantações geralmente são menos biodiversas do que os ecossistemas naturais e podem degradar diretamente os ecossistemas.

Em um estudo, na savana brasileira do Cerrado, um aumento de 40% na cobertura lenhosa reduziu a diversidade de plantas e formigas em aproximadamente 30%.

Em outro estudo, na floresta tropical do Congo, as plantações de árvores para captura de carbono reduziram o fluxo de córregos em 25%.

Os autores argumentam que mesmo compromissos ambiciosos com as plantações de captura de carbono serão limitados em sua capacidade de capturar carbono.

Eles observam que há incentivos financeiros consideráveis para as empresas privadas compensarem suas emissões investindo na captura de carbono e que o boom das plantações de captura de carbono está sendo impulsionado pelo dinheiro, não pela ecologia.

“Em comparação com parâmetros como a biodiversidade e os serviços ecossistêmicos, o carbono é fácil de medir e monetizar”, escrevem os autores.

“Mas enfatizar demais os benefícios do plantio de árvores para captura de carbono ‘pode desincentivar a proteção de ecossistemas intactos e pode levar a trade-offs negativos entre carbono, biodiversidade e função do ecossistema’.”

Os autores sugerem que as políticas públicas devem priorizar a conservação e a restauração de ecossistemas intactos, que são mais biodiversos e fornecem mais serviços ecossistêmicos.

Referência:

Trends in Ecology and Evolution, Aguirre-Gutiérrez et al., “Valuing the functionality of tropical ecosystems beyond carbon” https://cell.com/trends/ecology-evolution/fulltext/S0169-5347(23)00223-9

 

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