Quando tudo se volta contra Temer, Diretas Já
Marcelo Procopio*
A Folha de S.Paulo exagera no UOL ao manchetar“O Brasil está em chamas”. Talvez como metáfora. Pode até ser. Vimos, a quarta-feira (24/05), foi de uma violência espetacular. E espetáculo quer dizer ruim, desastroso. Com cota Zero: Um show de horrores.
Não só a violência policial. Esta, sabe-se, é despreparada, militarizada, arrogante, prepotente, que nem nos tempos da ditadura. E se liberada e orientada pelo ‘comando maior’, a Presidência da República, aí é que esbaldam mesmo.
Um parêntese do passado: a cavalaria atacando nos gramados da Esplanada em Brasília, faz lembrar os protestos do ME – Movimento Estudantil, nos anos 1960/70. Quando vinha a cavalaria jogavam centenas de bolinhas de gude no asfalto das avenidas. Os cavalos – ‘tadinhos’, diria minha tia-avó dos cabelos azuis, tinham nada com isso, se estatelavam ao chão. Era ditadura, todas as armas valiam.
— Fui, com 15, 16 anos na avenida Afonso Pena. Por vezes. Saía do colégio na rua Ceará com Aimorés – chamava os colegas e descia para o centro. Ia ser mais um no protesto e ainda cheirava muito gás lacrimogênio. E palpitações de ser parte da História.
O show de horrores de ontem foi previsto por quem acompanha o desgoverno Temer e os seus golpistas apoiadores. O ápice foi quando Raul Jungmann chamou a imprensa para anunciar a intervenção das Forças Armadas sobre Brasília por sete dias.
— (Pegou tão mal que não durou 24 horas, a ordem degringolou. E os comandantes das três Forças, diz-se em Brasília os noticiários, não estão nada satisfeitos por Temer e seu general Sérgio Etchegoyen terem passado por cima de Exército, Marinha e Aeronáutica com atitude que cheirou a Estado de Sítio em plena Democracia).
E Jungmann ontem leu a nota oficial assinada pelo ex-presidente (quando anunciarão seu fim?) Temer que diz: “a pedido do presidente da Câmara dos Deputados…”.
Ao que quase no mesmo instante Rodrigo que-não-é-flor-que-se-cheire Maia desmentiu: não pedi intervenção. O Palácio faça-me o favor de desfazer essa mentira, disse com outras palavras. (Covarde é Temer que teme se assumir de vez).
E enquanto tudo o mais ocorria – manifestação de trabalhadores e estudantes, tiros de bala de revólver de PMs, violência, feridos, e resistência – no Palácio do Planalto Central do Brasil Temer e seus homens deviam pensar: mas será que não há mais um que goste da gente e do golpe que demos? Desespero delirante.
Os patos contra-atacam
E os patos empresários não sossegaram nem nessas horas do show de horrores. Ligaram e pressionaram seus deputados (como alguém pode chamar político de “meu”? No Brasil são: servem só aos seus) para que votassem a aprovação do Refis das empresas (mais um perdão das dívidas: taxas, impostos, multas não pagas). E com a oposição fora, todos solidários nos gramados da Esplanada, a Câmara aprovou.
— Porque as reformas da Previdência e a Trabalhista vão ter que esperar: só depois da queda. É o que se espera de quem é valente o suficiente para saber que a toque de caixa não é inteligente, nem no capitalismo selvagem. Só é bom pro Lucro Brasil empresarial, e é desumano com o trabalhador.
Gringo também degringola, mas…
Ignorante, fui pesquisar a origem da palavra degringolar. Achava ser termo popular, corruptela em ‘gringo’.
Achei essa no antigo No Mínimo, site que reunia dezenas de grandes nomes do jornalismo e outras áreas. Estava no blog, Todo Prosa, de Sergio Rodrigues:
“Curiosidades etimológicas: Degringolar
Parece gíria de malandro da Lapa carioca, talvez dos anos 20 do século passado, não parece? Alguma coisa com “gringo” no meio. Não é nada disso. O verbo – que quer dizer, como se sabe, “decair, desandar, deteriorar rapidamente” – é importado em linha direta do francês dégringoler, que por sua vez, ensina o Houaiss, saiu do holandês kringeln, “cair em círculo”. Tudo muito tradicional e, sim, globalizado: o inglês foi buscar na mesma fonte o substantivo – pouco usado, mas por isso mesmo expressivo – degringolade, “declínio rápido, colapso”. Tradução óbvia, e nesse caso também a mais correta: degringolada.
Pronto, o mundo já pode degringolar em uníssono.”
— Foi publicado em 12/12/2005 “NoMínimo”.
Ia escrever saudoso NoMínimo. Só porque detesto essa palavra, geralmente antecedendo ao nome de alguém que já morreu. Mas não. O Aurélio e o Caldas Aulete informam que é mais. Por exemplo: alguém ou algo que está longe ou fora e provoca nostalgia. Ufa.
E pra terminar
O mundo está de olho no Brasil. Não somos apenas nós que vemos que o golpe não deu certo e que os golpistas são de incompetência tamanha.
O jornalista e amigo José Antonio Orlando escreveu ontem pela manhã
Imprensa de verdade
“The Guardian”, o jornal mais importante
da atualidade, publica hoje editorial em que
defende a saída imediata da quadrilha Temer
do poder no Brasil e as eleições diretas já.
Por aqui, a imprensa criminosa faz silêncio.
Do The Guardian:
“Acusações explosivas contra Michel Temer
são apenas a mais recente manifestação de
um escândalo se alastrando. Conchavos
políticos não vão resolver o problema.”
https://goo.gl/zyZzg5
E pra terminar 2
Os chamados coxinhas estão pulando fora do barco. Digo dos comuns: uns estão até confessando que usam o SUS e elogiam o atendimento.
Mas outros, ah esses outros. Agora admitem que seus heróis, como o Aécio Neves e tantos outros canalhas são corruptos. Mas fazem seu porém em discursos atônitos e descabidos de informação:‘sim, dizem, tem que prender o Aécio, mas se prender o Aécio tem que prender o Lula’. E vão se repetindo nas lorotas, às voltas com os patrões desesperados.
*Marcelo Procopio é jornalista e editor de O Cometa