Publicação explica conceitos de saneamento para estudantes e profissionais de saúde pública

Estudantes e profissionais de saúde pública devem ter noções sobre saneamento para ampliar conhecimento que relaciona saúde e meio ambiente 

Foto: Valter Campanato/
Agência Brasil

Livro disponível para download gratuito no Portal de Livros Abertos da USP aborda o trinômio Saúde, Saneamento e Ambiente

Jornal da USP – Saneamento para Estudantes e Profissionais de Saúde Pública acaba de ser lançado no Portal de Livros Abertos da USP, e está disponível para download gratuito. O livro, ao contrário de outros títulos sobre saneamento, não é destinado a engenheiros e técnicos, mas sim a estudantes e profissionais de saúde pública, como o próprio título especifica, lembra o professor da USP Wanderley da Silva Paganini na apresentação da obra, que tem sua autoria ao lado dos professores Miriam Moreira Bocchiglieri e Leonardo Machado Pitombo.

Paganini, além de atuar como docente da Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP, em quase 45 anos dedicados ao saneamento, trabalhou na Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo) e, segundo ele, foi a partir da junção dessas vivências que ficaram claras as necessidade do mercado e das lacunas a serem preenchidas na formação do aluno de graduação em Saúde Pública.

“[…] nosso  trabalho não tem a pretensão de aprofundar os temas, mas sim de introduzir os estudantes e os profissionais da saúde nos aspectos básicos que envolvem o trinômio Saúde, Saneamento e Ambiente”, informa, e complementa: “A ideia foi somar conhecimentos básicos a respeito do saneamento aos conhecimentos do senso comum, ou seja, introduzindo o leitor aos poucos no assunto, desmitificando a visão errônea de que o assunto é complexo e somente para técnicos do setor”.

“Saneamento não se faz somente com obras, mas também e principalmente com a educação sanitária e ambiental, promovendo o envolvimento da sociedade”

Para o professor, a expectativa é que o livro estimule as pessoas “a utilizar as ações de saneamento como vetores da melhoria da qualidade de vida, que percebam que saneamento não se faz somente com obras, mas também e principalmente com a educação sanitária e ambiental, promovendo o envolvimento da sociedade”.

O professor reitera que, ainda hoje, o saneamento está diretamente associado à execução de obra, mas a prática tem mostrado que as obras são para sanear, e somente com educação e o envolvimento da sociedade é possível despoluir, ou seja, a disponibilização do acesso à infraestrutura sanitária não é suficiente para promover a melhoria das condições ambientais e da qualidade de vida, sendo inserido nesse contexto o profissional em saúde pública.

“É sob esse olhar que apresentamos este trabalho, e considerando nossas observações durante as aulas e palestras, e ainda, considerando a multidisciplinaridade e a dimensão coletiva da Saúde Pública, com inúmeras possibilidades de atuação destes  profissionais, buscamos oferecer uma referência básica, apresentando conceitos fundamentais para que compreendam que saneamento é assunto de todos e para todos, principalmente quando está a serviço das populações vulneráveis, que, em sua maioria, vivem em moradias subnormais, carentes de acesso ao saneamento”, escreve Paganini.

“Só a diarreia, principal moléstia relacionada ao problema, mata mais de 2 milhões de pessoas por ano – pelo menos 1,5 milhão delas são crianças com menos de 5 anos”

Livro mostra como ações de saneamento podem resultar em melhoria da qualidade de vida – Foto: Reprodução/FSP

Educação sanitária e ambiental

Dividido em nove capítulos, o livro traz conceitos básicos sobre o que é saneamento e sua relação com saúde e meio ambiente, passando por sistemas de abastecimento de água, sistemas de esgoto sanitário, até legislação ambiental e de recursos hídricos e educação ambiental, além de projetos de saneamento e desenvolvimento social.

Também aponta muitos problemas causados pela falta de saneamento, como doenças – cólera, febre tifoide, hepatite A e doenças diarreicas agudas, gastroenterite, leptospirose, entre muitas outras – provocadas por vários motivos, como ingestão de água contaminada, contato da pele ou até mesmo por insetos.

“Dados da Organização Mundial da Saúde registram que 6% de todas as doenças são causadas pelo consumo de água contaminada, pela falta de coleta de esgoto e de higiene. Só a diarreia, principal moléstia relacionada ao problema, mata mais de 2 milhões de pessoas por ano – pelo menos 1,5 milhão delas são crianças com menos de 5 anos”, segundo o texto.

Os autores escrevem que “os sistemas coletivos de abastecimento de água devem ser preferencialmente utilizados, pois oferecem vantagens significativas em relação aos sistemas individuais, especialmente em função da garantia da qualidade da água fornecida. Isso ocorre pois a legislação vigente estabelece os procedimentos e responsabilidades relativos ao controle e vigilância da qualidade da água para consumo humano e seu padrão de potabilidade, além de deveres e das responsabilidades em vários níveis, inclusive em relação  à  operação de sistemas, sendo que esses deveres também são rebatidos para os sistemas alternativos”.

Além disso, práticas de higienização das mãos podem reduzir muito a incidência de doenças. Segundo o livro, alguns estudos apontam que a higienização das mãos com água e sabão reduziria em 40% a incidência de diarreia na população, já para outros, que acreditam que essa porcentagem é superestimada, 23% seria uma boa estimativa. “Nesse cenário, indicam ainda que a higienização adequada das mãos preveniria 5 mil mortes.”

Livro destaca como a simples prática de higienização das mãos pode reduzir muito a incidência de doenças – Foto: Pixabay

Frentes de atuação

Em consonância com as iniciativas globais para uma educação de qualidade voltada para o desenvolvimento sustentável, e considerando-se as relações e interfaces entre saneamento, saúde, meio ambiente e desenvolvimento social, são inúmeras as práticas e perspectivas da educação sanitária ambiental, segundo os autores.

“A educação sanitária e ambiental deve ser um projeto social e ambiental, multidisciplinar, apoiado em ações coletivas, na participação de cada indivíduo, consciente de seu papel perante a sociedade. Nesse sentido, a educação sanitária e ambiental não é apenas um ‘manual de boas práticas’, pois contribui para a formação de cidadãos.”

Para os autores, “promover educação ambiental e sanitária nas escolas é uma importante forma de envolvimento da sociedade, mas para a efetiva inserção desses conceitos na cultura e na vida da população são necessárias iniciativas para o desenvolvimento de ações participativas, integradas às comunidades”.

O cuidado com os mananciais de abastecimento público tem se configurado como tema para poucos, e mesmo com a instituição da participação social na gestão das águas, o tema permanece distante da realidade das pessoas e da sociedade como um todo, informam os autores.

Ainda assim, relatam, há casos de sucesso que podem ser adotados em situações similares. “No que se refere à participação social e a ações individuais em relação ao uso consciente da água e ações para a sua conservação, a resposta da população tem sido rápida e efetiva”, afirmam.

Um exemplo citado é a crise hídrica, ocorrida em 2014/2015, na região metropolitana de São Paulo, “ocasião em que a população recebeu uma grande quantidade de informações e passou a compreender melhor a importância da água e o funcionamento do sistema público de abastecimento de água, considerando as etapas que compõem o caminho que a água percorre até chegar à torneira.

A abundância de informações veiculadas à época resultou em uma significativa redução no consumo de água pela população. Vale destacar que mesmo após superada a crise hídrica, o volume de água consumido pela população não voltou a alcançar os níveis de consumo anteriormente praticados”.

Para conferir gratuitamente o livro Saneamento para Estudantes e Profissionais de Saúde Pública clique aqui.


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