Projeto sobre CAC vira Dia do Atirador Esportivo e expõe desconforto de parte dos vereadores itabiranos com armamentismo
Fotos: Divulgação/ Ascom/PMI
A homenagem aos caçadores, atiradores e colecionadores é esvaziada por emendas que tentam dissociar o esporte do armamentismo
Carlos Cruz
A sessão plenária da Câmara Municipal de Itabira nesta terça-feira (28) foi marcada por tensão, divergências ideológicas e uma tentativa de conciliação que, embora tenha garantido a aprovação do Projeto de Lei nº 157/2025, deixou claro o desconforto de alguns vereadores diante de temas que tangenciam o debate sobre armas, segurança pública e identidade política.
O projeto original, de autoria do vereador Leandro Pascoal (PSD), propunha instituir o Dia do Caçador, Atirador e Colecionador, os chamados CACs. Mas a proposta foi modificada por emendas do vereador Bernardo de Souza Rosa (PSB), que substituíram a nomenclatura para Dia do Atirador Esportivo, numa tentativa de descolar o projeto da imagem armamentista que o termo CAC carrega.
Rosa justificou sua proposta com um discurso técnico e conciliador. “A nomenclatura CAC é do governo federal, mas o que estamos votando aqui é o reconhecimento do tiro esportivo, uma modalidade até olímpica.”
A emenda, segundo ele, busca “valorizar o esporte do tiro, reconhecendo seus praticantes como atletas que seguem regras, normas de segurança e princípios de jogo limpo”, relativizou.
A estratégia de Bernardo Rosa foi clara: preservar o mérito esportivo da proposta, evitando que a Câmara fosse acusada de fazer apologia à posse de armas. Mas a tentativa de neutralidade não convenceu todos os colegas – e nem o autor do projeto.
Autor descontente com as emendas
Leandro Pascoal se posicionou contra as emendas, defendendo o texto original com veemência. “O CAC é regulamentado. Não tem nada de ilegal nessa nomenclatura. Quando se muda o nome de um projeto, perde-se o sentido original”, protestou.
Segundo ele, a mudança com as emendas de Bernardo Rosa diluiu o reconhecimento pretendido.
Pascoal também criticou o foco excessivo nas redes sociais sobre a caça. “Ninguém vai caçar nada aqui em Itabira. O único objetivo foi explicado no projeto. Não dá pra distorcer o assunto e ficar com mimimi”, disse ele, antes de o projeto ser aprovado com as emendas.
O pronunciamento do vereador revela não apenas a frustração com a modificação de seu projeto, mas também uma tentativa de minimizar o impacto simbólico da proposta. Isso como se o nome fosse apenas um detalhe, e não um marcador político e até ideológico.
A Câmara dividida entre princípios e pragmatismo
A vereadora Dulce Citi de Oliveira (PDT) votou contra o projeto mesmo com as emendas, embora tenha reconhecendo o esforço de Bernardo para atenuar o projeto original. “Preservando os meus princípios, meu voto continua contrário ao projeto.”
A discussão do projeto na Câmara escancara um problema recorrente: a dificuldade do legislativo itabirano em lidar com projetos que envolvem identidade, ideologia e disputas ideológicas.
A tentativa de tratar tudo como “representatividade” ignora que nem toda representação é neutra, sendo que algumas homenagens carregam implicações políticas profundas, como é o caso desse projeto, que pode, a partir de agora, ser vetado ou sancionado pelo prefeito Marco Antônio Lage (PSB).
Plenário tenso

A sessão foi marcada por manifestações do público presente, especialmente de opositores ao projeto de lei, o que levou o presidente da Câmara, vereador Carlos Henrique “Sacolão” Silva Filho (Solidariedade), a intervir com firmeza para conter os ânimos e preservar o andamento dos trabalhos legislativos.
“Nessa sessão plenária cabe somente aos vereadores manifestarem. Se não tiver ordem, vou esvaziar o plenário”, advertiu o presidente.
Em seguida, reforçou que o espaço do plenário é destinado à deliberação parlamentar e que qualquer tentativa de pressão ou tumulto compromete o respeito institucional. “O momento de manifestação é nos gabinetes, conversando com os vereadores. O que não pode é fazer disso aqui uma balbúrdia. Isso não vai ser aceito.”
Embora tenha defendido o direito à manifestação, o presidente deixou claro que ela deve ocorrer fora do espaço deliberativo, nas reuniões das comissões, reforçando os limites da atuação pública durante as reuniões ordinarias da Câmara.
As emendas nº 1 e nº 2, que modificaram o projeto original para excluir os termos “caçador” e “colecionador”, foram aprovadas por nove votos favoráveis e seis contrários. Já o projeto final, com a nova redação que institui o Dia do Atirador Esportivo, foi aprovado por 14 votos a dois.




 





