Projeto de lei que proibe eventos culturais próximos às igrejas, se aprovado pela Câmara, vai matar o centro histórico de Itabira

Igreja vai voltar a mandar no Estado em Itabira, no caso de ser aprovado projeto que tramita no legislativo da cidade

Foto: Vila de Utopia

Daniel Cruz Fonseca*

Na semana passada, foi apresentado um projeto de lei, de autoria do vereador Heraldo Noronha Rodrigues (PTB), para proibir eventos próximos a templos religiosos.

Este é um tema sensível, estamos falando de religiões. Portanto, antes de entrar na parte opinativa, fiquem tranquilos que não tenho a menor intenção de diminuir ou ofender a nenhuma crença.

Ocorre que de fato, shows e eventos próximos as igrejas podem atrapalhar a celebração de cultos, como festas de aniversários em casas próximas também. Porém, quem tem o poder para definir se um evento pode ou não acontecer, em um país laico, não é a Igreja.

Aqui não quero discutir a separação da Igreja e do Estado. O papel social da Igreja é importante, o papel administrativo do estado também.

Meu intuito, porém, é destacar o que isso significa na prática para Itabira, isto é:

O fim do centro histórico itabirano.

De que adianta preservarmos o patrimônio histórico da cidade se for para deixá-lo esquecido e encostado?

A região onde se situam a belíssima e artística Igreja do Rosário e a grande Catedral, é hoje um dos espaços mais bonitos da cidade.

Temos ali o museu de Itabira, o casarão de Drummond e outras casas antigas que lembram ruas de Paraty, Ouro Preto. Ou seja, o lugar é ideal para realizar eventos que fomentem a cultura e a história da cidade.

Não à toa, o Flitabira ocorreu ali. Esse festival literário, sobre o qual escrevi na última publicação, já está em sua terceira edição e começou a ganhar repercussão nacional. Gera cerca de 100 empregos diretos, movimenta o turismo e aquece a cultura.

Ali, no antigo centro, também poderiam acontecer festivais gastronômicos e serestas ao luar. Poderia ser uma região movimentada de gente, até porque é relativamente fácil gerir o trânsito naquele espaço.

Imaginem, pessoas felizes com suas famílias tirando fotos ao lado daquelas igrejas durante um dia de festival de música brasileira.

Seria perfeito para aproximar a Igreja do povo e não deixa-la ali, esquecida ao lado de casarões antigos de um tempo onde o padre mandava mais que o prefeito.

Não digo que esses eventos devam acontecer todo dia, nem digo que é certo atrapalhar a missa.

Mas digo e reforço que essa é uma decisão exclusiva de órgãos públicos competentes e que não cabe ao bel prazer das igrejas. Cada um no seu quadrado.

Espero, apenas, que esse vereador tenha o mesmo zelo e evite barulhos próximos aos templos religiosos durante sua campanha eleitoral no ano que vem. E que o projeto seja rejeitado pela Câmara.

*Daniel Cruz Fonseca é advogado, mestre em Direito nas relações econômicas e sociais, e poeta, autor dos livros “Nuvens Reais” e “Alma Riscada”.

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