Primeiro papa norte-americano, Leão XIV destaca sua identidade latino-americana
Fotos: TV Globo/ Reprodução
Robert Francis Prevost é eleito papa e promete um papado voltado à justiça social e à defesa do meio ambiente
O conclave realizado na Capela Sistina, no Vaticano, chegou ao fim nesta quinta-feira (8), com a eleição do cardeal Robert Francis Prevost como o novo papa da Igreja Católica. Aos 69 anos, ele adotou o nome Leão XIV, tornando-se o primeiro norte-americano a ocupar o cargo.
No entanto, sua trajetória pastoral não se limitou aos Estados Unidos: grande parte de sua missão foi construída no Peru, onde atuou como missionário e bispo por mais de uma década antes de ser chamado ao Vaticano.
Daí que, apesar de sua nacionalidade norte-americana, Leão XIV é considerado um papa com forte identidade latino-americana.
Sua atuação no Peru, especialmente na diocese de Chiclayo, o aproximou das comunidades mais vulneráveis e o tornou um defensor da justiça social e dos direitos humanos, a exemplo de seu amigo Jorge Mario Bergoglio, o papa Francisco.
Com um perfil conciliador e uma trajetória marcada pelo trabalho missionário, Leão XIV terá a difícil missão de unir a Igreja, enfrentar desafios internos e externos e reafirmar o papel do catolicismo no mundo contemporâneo.
Seu pontificado será observado de perto por fiéis e líderes religiosos, que esperam dele uma condução firme, mas aberta ao diálogo e à renovação.
Pronunciamento
Em seu primeiro pronunciamento na sacada da Basílica de São Pedro, ele fez questão de saudar sua antiga diocese. “Saúdo minha querida Chiclayo, que me ensinou a caminhar com os mais humildes e a enxergar Cristo nos rostos daqueles que sofrem”.
Diante de milhares de fiéis reunidos na Praça de São Pedro, Leão XIV enfatizou a necessidade de união e compaixão em tempos de incerteza.
“Deus nos ama a todos, incondicionalmente. O mal não prevalecerá”, assegurou. “Estamos todos nas mãos de Deus. Portanto, sem medo, unidos, sigamos adiante”, conclamou.
Ele destacou sua vocação missionária e seu compromisso com a inclusão social e a paz mundial. “Minha vocação, como a de todo cristão, é ser missionário, anunciar o Evangelho onde quer que se esteja”.
Continuidade
Robert Francis Prevost, agora papa Leão XIV, foi uma figura central na administração do papa Francisco, tendo atuado como prefeito do Dicastério para os Bispos, órgão responsável pela nomeação de bispos em todo o mundo.
Sua proximidade com o pontífice anterior indica que ele deve dar continuidade às reformas iniciadas por Francisco, especialmente no que diz respeito à modernização da Igreja e ao diálogo com pautas contemporâneas, como mudanças climáticas e imigração.
Expectativas
O novo papa assume a liderança espiritual de 1,4 bilhão de católicos em um momento de grandes desafios para a Igreja.
A queda no número de fiéis em países tradicionalmente católicos, como o Brasil e diversas nações europeias, é uma preocupação crescente.
A secularização e o avanço de outras denominações cristãs, especialmente evangélicas, têm reduzido a influência da Igreja Católica em algumas regiões, exigindo novas estratégias de evangelização e aproximação com os fiéis.
Além disso, Leão XIV herda uma instituição marcada por tensões internas entre setores conservadores e progressistas.
O pontificado de Francisco trouxe mudanças significativas, como a abertura de espaços para mulheres em cargos administrativos do Vaticano e um maior acolhimento a grupos historicamente marginalizados.
No entanto, essas reformas geraram resistência dentro da própria Igreja, e o novo papa precisará equilibrar tradição e modernização para evitar rupturas internas.
Outro grande desafio será a credibilidade da Igreja, abalada por escândalos de abuso sexual envolvendo clérigos. Francisco implementou medidas para aumentar a transparência e punir responsáveis, mas a crise ainda persiste.
Leão XIV terá que reforçar mecanismos de prevenção e garantir que a Igreja continue avançando na proteção das vítimas e na responsabilização dos culpados.
No cenário global, o novo papa também deve dar continuidade ao enfrentamento das mudanças climáticas, imigração e conflitos internacionais.
Francisco foi um dos líderes religiosos mais ativos na defesa do meio ambiente, destacando essa preocupação em sua encíclica Laudato Si’, enfatizando a necessidade de cuidar de toda a criação divina.
Leão XIV já sinalizou que pretende dar continuidade a essa agenda, reforçando o papel da Igreja na luta contra a degradação ambiental.
Nesse aspecto, sua experiência como missionário no Peru, onde atuou por mais de uma década, pode ser um diferencial importante.
Durante esse período, ele trabalhou diretamente com comunidades pobres e indígenas, desenvolvendo uma visão pastoral voltada à inclusão social e à defesa dos direitos humanos.
Essa vivência pode ajudá-lo a fortalecer a presença da Igreja em regiões vulneráveis e a ampliar o diálogo com países latino-americanos, onde a fé católica ainda tem grande influência.
Por que Leão XIV?
A escolha do nome Leão XIV carrega um forte simbolismo e pode indicar a direção que o novo pontífice pretende seguir.
O nome remete a dois papas históricos: Leão I, também chamado de Leão Magno, que liderou a Igreja no século V e é lembrado por sua firmeza diante de crises e invasões. Ele é lembrado por sua coragem ao enfrentar Átila, o Huno, impedindo a destruição de Roma.
Já Leão XIII foi responsável pela encíclica Rerum Novarum, um documento que defendeu os direitos dos trabalhadores e criticou abusos do capitalismo e do socialismo, temas ainda atuais.
Portanto, a escolha do nome pode indicar que Leão XIV pretende reforçar a doutrina social da Igreja e enfrentar desafios modernos com firmeza e autoridade, sinalizando um compromisso renovado com os princípios da doutrina social da Igreja.
Com isso, reforça a defesa dos direitos dos mais vulneráveis e a busca por justiça social.
Além disso, ao evocar papas como Leão XIII e Leão Magno, o novo pontífice demonstra uma disposição para enfrentar os desafios contemporâneos com determinação e liderança, preservando a tradição e, ao mesmo tempo, promovendo uma Igreja mais próxima das questões globais, como a pobreza, o meio ambiente e os conflitos sociais.
Longa vida ao pontificado de Leão XIV.
*Com informações do G1, Folha de S.Paulo, Estadão, CNN Brasil, O Globo
