Presidente sem partido está em busca de um para chamar de seu

Rafael Jasovich*

Diante da frustração de não conseguir criar o seu próprio partido, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) não esconde mais a possibilidade de se filiar a uma legenda política já existente para concorrer à reeleição ao Palácio do Planalto no ano que vem.

O mandatário, no entanto, tem encontrado dificuldades nas negociações com algumas siglas pela exigência de querer ser o mandachuva das agremiações. Já bem estruturados, os partidos resistem em abrir mão de tudo o que construíram simplesmente para acomodar o chefe do Executivo.

Nos últimos meses, Bolsonaro conversou com líderes de pelo menos sete legendas: PL, Republicanos, PTB, Patriota, PRTB, PP e PSL – seu último partido.

Ele sinalizou a todos que gostaria de ter a liberdade de indicar nomes para comandar os diretórios das siglas nos estados, o que lhe daria mais poder para definir estratégias voltadas ao pleito de 2022, mas, em contrapartida, foi avisado de que as legendas não estão dispostas a tomar uma decisão tão arriscada como essa, que seria capaz de mudar a identidade e o perfil da agremiação.

“Não vejo a hora de decidir o partido, mas não é decisão minha”, afirmou Bolsonaro a apoiadores na semana passada. Na ocasião, o chefe do Executivo ainda reclamou que “ninguém quer entregar o osso para a gente, querem entregar só o casco do boi, nenhum ossinho com tutano querem dar para a gente”.

Nos últimos dias, o senador Flávio Bolsonaro (RJ) anunciou sua desfiliação dos Republicanos para ajudar o presidente nas negociações por um novo partido. O parlamentar quer se filiar à mesma legenda do pai durante as eleições do ano que vem.

No momento, a sigla que aparece mais próxima de contar com os Bolsonaro entre os seus filiados é o PP. A agremiação tem importantes aliados do chefe do Executivo no Congresso Nacional, como o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), além do senador Ciro Nogueira (PP-PI), presidente nacional do partido e um dos defensores do mandatário na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid.

Entretanto, o PP também rejeita a filiação de Bolsonaro por achar que desfiguraria todo o trabalho da legenda.

Ontem o partido Patriotas filiou o senador filho do presidente e na convenção ouve tumulto já que parte do partido não aceita a entrada dos bolsonaro na agremiação. Setores do partido entraram com ação no STF pedindo para impedir a filiação.

Na avaliação de cientistas políticos, Bolsonaro precisa colocar um ponto final nessa questão o quanto antes. Caso deixe para decidir nas vésperas do prazo mínimo de seis meses – estabelecido pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para que um político se filie a um partido visando a disputa de eleições –, as exigências da legenda para abrigar o chefe do Planalto podem ser muito altas.

“Quanto mais ele adiar a decisão, mais vai encarecer o preço político dos partidos. Como Bolsonaro estará em sentido de urgência, qualquer negociação terá um custo maior”, frisa o cientista político Geraldo Tadeu, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

“Ou seja, os partidos tentarão obter mais verba ou indicações para órgãos do governo”, salienta. “O ideal era que Bolsonaro resolvesse logo essa pendência jurídica para ter um horizonte mais tranquilo para organizar a campanha.”

*Rafael Jasovich é jornalista e advogado, membro da Anistia Internacional

 

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