Prefeitura vai homenagear Maria Casemira, dona da fábrica Pedreira, com projeto de qualificação de mão de obra feminina para a indústria têxtil

Antiga fábrica da Pedreira, onde hoje está a barragem de Santana, um imenso reservatório d’água da Vale que encobriu os seus destroços, inclusive a sua torre

Foto: acervo de família

Depois de Li Guerra (ex-prefeito, 1993-96) homenagear Maria Casemira Andrade Lage (1828/1929), dona da extinta Fábrica de Tecidos da Pedreira, designando o Distrito Industrial 2, onde hoje está o campus da Unifei, com o seu nome, por meio da lei municipal 3174, de 30 de maio de 1995, a histórica empresária itabirana será novamente lembrada, agora pelo prefeito Marco Antônio Lage (PSB), que também vai homenageá-la.

Dessa vez será com o projeto Maria Casemira, que irá capacitar mulheres do bairro Pedreira do Instituto para a fabricação de absorventes ecológicos, calcinhas e fraldas geriátricas. A produção será destinada aos projetos sociais da Prefeitura, inclusive para fazer cumprir a lei municipal 5.322/21, que trata da Promoção da Dignidade Menstrual do Município de Itabira.

A lei municipal foi sancionada pelo prefeito Marco Antônio Lage, após o projeto de lei, de autoria da vereadora Rosilene Félix (MDB), ter sido aprovado pela Câmara Municipal, em 24 de agosto de 2021, dispondo sobre as diretrizes para as ações de promoção da dignidade menstrual no município.

Além da distribuição de absorventes às adolescentes e demais peças nas escolas públicas, serão contempladas também mulheres em situação de vulnerabilidade social com a produção do projeto Maria Casemira.

Empoderamento feminino

Empreendedoras, servidoras municipais, mulheres itabiranas empoderadas desfilaram no Dia Internacional da Mulher (Foto: Ascom/PMI)

O projeto faz parte do Polo Econômico da Mulher (PEM), que trabalha com o fortalecimento familiar de mulheres em situação de vulnerabilidade social. As instalações para capacitar essas mulheres para a produção estão em reforma no bairro Pedreira. A expectativa é que comecem a produzir em breve.

O anúncio do projeto Maria Casemira ocorreu no Dia Internacional da Mulher, celebrado na noite de quarta-feira (9), com o desfile Feito por uma itabirana, nos jardins do Centro Universitário da Fundação Comunitária do Ensino Superior de Itabira (UNIFuncesi), organizado pelo PEM, com apoio da Prefeitura de Itabira.

Na ocasião, mulheres itabiranas desfilaram com peças criadas por empresárias locais e vestidas por modelos que representam a sociedade, valorizando o empoderamento e a diversidade do trabalho desenvolvido pela mão de obra feminina em Itabira.

Ao lado de Edmara Silva, uma das fundadoras do PEM, e da primeira-dama Raquel Guimarães, o prefeito Marco Antônio disse que o projeto “vai colocar Itabira como referência na valorização da mulher itabirana.” (Foto: Ascom/PMI

O PEM está há um ano em atividade. É uma associação sem fins lucrativos, criada para capacitar e direcionar as mulheres ao empreendedorismo, principalmente no ramo da indústria têxtil.

“É um projeto de sucesso que vai colocar Itabira como referência na valorização da mulher itabirana, que cada vez mais se consolida como protagonista em nossa sociedade”, disse o prefeito na homenagem às mulheres em seu dia internacional.

O seu objetivo é alavancar micro e pequenas indústrias do município nesse segmento econômico e histórico em Itabira. “O nosso desfile também contou com participação de mulheres incríveis que, com suas histórias de vida e suas conquistas, servem de inspiração para a luta pela igualdade de gênero e pelo empoderamento feminino”, salientou a presidente do PEM, Marília de Oliveira Braga.

Saiba mais

Quem foi Maria Casemira Andrade Lage

“Maria Casemira foi a primeira mulher empresária de Itabira, a principal acionista da Fábrica de Tecidos da Pedreira, inaugurada em 1888, tendo funcionado até a década de 1950”, conta o memorialista Mauro Andrade Moura, sobrinho trineto da primeira empreendedora itabirana.

Mauro Moura com dona Dadá: lembranças da Tia Nicota, uma empreendedora itabirana, dona da Fábrica de Tecidos da Pedreira (Foto: Carlos Cruz)

No seu auge, a fábrica da Pedreira chegou a gerar mais de 100 empregos, com predominância da mão de obra feminina.

Filha do comendador Casemiro Carlos da Cunha Andrade e de Senhorinha dos Santos Alvarenga, Maria Casemira era irmã de Joaquim Carlos da Cunha Andrade Lage, o barão de Alfié, de Carlos Casemiro da Cunha Andrade e de Virgínia da Cunha Andrade Lage.

Ela foi casada com o seu tio Bernardino da Costa Lage, irmão de sua mãe. O casal não teve filhos, mas criou como adotivos os afilhados Pedro Martins Guerra, Bernardino Guerra e João Guerra.

Lápide de Maria Casemira no cemitério do Cruzeiro: “gratidão daquelles que tiveram nella uma segunda mãe.” (Foto: Mauro Moura)

“O Pedrico acabou herdando a sua parte na fábrica”, conta a sua sobrinha neta Águeda Drummond Lima, a dona Dadá, falecida em 11 de outubro de 2020, aos 107 anos.

Pedrico era o apelido familiar de doutor Pedro Guerra, que foi um dos principais fiadores, em Itabira, da Companhia Vale do Rio Doce, logo após a então estatal aqui se estabelecer, em 1942.

“Tia Nicota criou esses meninos, que a chamavam de mamãe Nicota”, conta dona Dadá, referindo-se à sua tia-avó. “Quando eu a conheci, ela já era velhinha, mas ainda muito altiva”, revelou a sobrinha-neta, em entrevista a este site Vila de Utopia.

Leia a reportagem memorialística aqui:

Maria Casemira, empreendedora itabirana, dona da fábrica da Pedreira

Derrota incomparável

O sobrinho-neto Zé Cruz contava que as fábricas de tecidos de Itabira (Pedreira e Gabiroba) fecharam por falta d’água para gerar energia e também de mão de obra: “A Vale monopolizou tudo.”

A fábrica da Pedreira fechou em meados do século passado. “Foi por falta de água. As nascentes secaram com a mineração”, recordou Zé Cruz, sobrinho-neto de Maria Casemira, falecido aos 93 anos, em 7 de agosto de 2020.

“Sem água, não teve mais como tocar as turbinas para gerar energia para as fábricas de Itabira continuarem funcionando.” Além disso, “a mineração atraiu a maior parte dos operários e peões das fazendas por pagar melhores salários”, acrescentou o marceneiro e luthier itabirano na mesma reportagem da Vila de Utopia.

A fábrica da Pedreira teve três sócios: Maria Casemira, doutor Domingos Guerra e o doutor Pedro Guerra. “Tia Nicota morava na fazenda onde funcionou a fábrica e vinha a Itabira de liteira, transportada pelos escravos. Depois eles foram libertos e continuaram trabalhando com tia Nicota na fábrica”, relembrou a dona Dadá.

Os equipamentos foram adquiridos na Inglaterra. “Ela era uma mulher de fibra, como poucas que encontramos hoje em dia”, comparou dona Dadá.

“Quando acabou a escravidão, tia Nicota foi ao Rio de Janeiro, onde aprendeu a tecer. De volta a Itabira, ensinou o que aprendeu aos seus ex-escravos. E montou a fábrica”, contou dona Dadá.

 

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1 Comentário

  1. Grande legado de Tia Nicota em transmitir conhecimento às mulheres itabiranas em finais do século XIX e agora homenageada com este programa municipal de ensino às mulheres.

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