Prefeito de Itabira participa da abertura da 5ª Conapir e convida Lula a visitar a cidade
Foto: Ricardo Stuckert/PR
Evento marca reconhecimento nacional ao trabalho de promoção da igualdade racial desenvolvido no município mineiro
Na noite dessa segunda-feira (15), o prefeito de Itabira, Marco Antônio Lage (PSB), participou da abertura da 5ª Conferência Nacional de Promoção da Igualdade Racial (Conapir), realizada em Brasília.
O evento, que não ocorria há sete anos, reúne até o fim da semana cerca de 1,7 mil delegados, 200 convidados e dezenas de observadores e expositores. Durante a cerimônia, o prefeito esteve com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a quem convidou pessoalmente para visitar Itabira ainda neste mandato.
Casa da Igualdade Racial é conquista inédita para o município
A presença de Marco Antônio Lage foi marcada por uma importante conquista: Itabira foi uma das cinco cidades brasileiras contempladas com a Casa da Igualdade Racial, espaço físico que será mantido pela Prefeitura com apoio financeiro do Governo Federal.
“Minha intenção é instalar a Casa da Igualdade Racial junto à Casa da Cidadania. Trata-se de um espaço físico que será mantido com recursos do Governo Federal por dois anos, justamente para funcionar como referência para os povos da comunidade negra e para o desenvolvimento de políticas públicas voltadas à igualdade racial”, afirmou o prefeito.
Além de Itabira, foram contempladas as cidades de Contagem (MG), Marília (SP), Pelotas (RS), Rio de Janeiro (RJ) e o Estado da Bahia. O reconhecimento é resultado do trabalho contínuo da cidade na promoção da igualdade racial, desde a primeira administração de Marco Antônio Lage.
Itabira no mapa da igualdade racial
Durante a 5ª Conapir, o prefeito Marco Antônio Lage anunciou que Itabira será sede do lançamento estadual do ODS 18 – Objetivo de Desenvolvimento Sustentável voltado à Igualdade Étnico-Racial, uma iniciativa inédita proposta pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva à Organização das Nações Unidas (ONU).
Embora ainda não faça parte oficialmente da Agenda 2030 da ONU, o ODS 18 foi apresentado por Lula como um compromisso voluntário do Brasil para enfrentar o racismo estrutural e promover justiça racial em todo o país.
A proposta foi desenvolvida pelo Ministério da Igualdade Racial em parceria com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), o Ministério dos Povos Indígenas e outras instituições. E estabelece metas como o combate ao homicídio de jovens negros e indígenas, o enfrentamento ao feminicídio e a ampliação de políticas afirmativas.
O lançamento do ODS 18 ocorrerá no próximo dia 26 de setembro, durante o evento Fala Quilombo, para o qual são aguardas as presenças da ministra Anielle Franco, titular do Ministério da Igualdade Racial e fundadora do Instituto Marielle Franco – e também do ministro Márcio Macêdo, chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República, responsável pela articulação da participação social e pelo diálogo com movimentos populares.
“É emblemático para nós de Itabira, cidade com maioria de população negra. Coloca Itabira nesse mapa da discussão que vai além da mineração e do Drummond”, destacou Lage.
Lula critica racismo estrutural
Na abertura da Conapir, o presidente Lula fez um contundente discurso contra o racismo estrutural que ainda permeia a sociedade brasileira. Diante de cerca de 1,7 mil delegados e centenas de convidados, ele destacou que, apesar dos avanços em políticas públicas e ações afirmativas, o país continua convivendo com o que chamou de “racismo de todos os dias”.
“Há um imaginário que insiste em colocar pessoas negras em um único lugar, normalmente no lugar de serviçal, quando não de uma ameaça”, afirmou o presidente, ao denunciar os estigmas que limitam oportunidades e perpetuam a discriminação racial no Brasil.
Lula citou como exemplo o caso recente da escritora paulista Lilia Guerra, autora do livro O Céu para os Bastardos, que relatou ter sido acusada injustamente de furtar um lençol e uma manta de uma pousada após participar da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), realizada entre 30 de julho e 3 de agosto deste ano.
“Não podemos naturalizar esses absurdos. Não podemos achar normal que uma escritora negra, convidada de um festival literário, seja injustamente acusada de furtar objeto da pousada em que se hospedou. É inconcebível que a sociedade brasileira esteja ainda nesse lugar de preconceito e discriminação. É inaceitável que um ser humano tenha oportunidades limitadas ou esteja sempre sob suspeita por causa da cor da pele”, declarou Lula.
O presidente também criticou a criminalização sistemática de jovens negros das periferias, que, segundo ele, continuam sendo alvos preferenciais das forças de repressão. “O racismo é crime, mas também é uma doença que precisa ser erradicada com políticas públicas, educação e participação social”, completou.
O pronunciamento de Lula reforçou o tema central da conferência que foi Igualdade e Democracia: Reparação e Justiça Racial. E reafirmou o compromisso do governo federal com a construção de uma sociedade mais justa, plural e antirracista.
Expectativa de nova visita de Lula a Itabira

A presença do presidente Lula em Itabira carrega um forte simbolismo histórico e afetivo. Conforme destacou o prefeito Marco Antônio Lage, o convite para uma nova visita à cidade tem o intuito de resgatar uma conexão antiga, histórica e significativa.
É que Lula esteve em Itabira em 24 de agosto de 1980, pouco depois da fundação do PT. E prometeu voltar. No encontro com o prefeito, o presidente relembrou com carinho dessa passagem, dos diálogos que teve com as lideranças locais. “Lula falou também da importância de Itabira para ao país, destacando aquele momento de construção política e social com a redemocratização após a ditadura militar”, conta o prefeito.
Nessa primeira visita, Lula ainda era uma liderança sindical emergente, e sua presença marcou o início de uma relação entre o movimento operário e a cidade minerada. “A CVRD pretende, inevitavelmente, continuar mantendo o monopólio de emprego aqui em Itabira. Para ela, é muito importante que os trabalhadores sempre estejam com medo de ficarem desempregados e de brigarem com ela, de participar da luta por seus direitos”, disse o então presidente do PT naquela ocasião, profeticamente, conforme registro do jornal O Cometa.
A expectativa de seu retorno se renovou em 1997, quando foi convidado a participar do ato público Reage Vale, Reage Itabira. Vender a Vale é vender o Brasil, realizado em 14 de março daquele ano, em protesto contra a privatização da Companhia Vale do Rio Doce. Apesar de não ter comparecido pessoalmente ao evento, Lula foi representado por José Dirceu que, na ocasião, presidia o PT.
Pouco tempo depois, em 6 de maio de 1997, a Vale foi privatizada pelo governo de Fernando Henrique Cardoso pela bagatela de R$ 3,3 bilhões, em boa parte financiada pelo BNDES, além de ser um valor que foi amplamente contestado à época, já que estimativas apontavam que a empresa valia naquela época entre R$ 12,5 bilhões e R$ 100 bilhões.
Segundo Marco Antônio Lage, Lula demonstrou interesse em retornar à Itabira. E pediu que a equipe presidencial programe a viagem. “Ele lembrou do Jackson (ex-prefeito, pelo PT), das vezes que esteve em Itabira, e quer vir sim. É uma manifestação importante para nós”, afirmou o prefeito.
Unifei em Itabira: hora de repensar o projeto universitário federal

Ao término do encontro, Marco Antônio Lage abordou com o ministro da Educação, Camilo Santana, sobre a atual situação do campus da Universidade Federal de Itajubá (Unifei) em Itabira. Com menos de 1.500 estudantes matriculados, o número está muito aquém do potencial anunciado de 10 mil alunos, expectativa criada na época de sua implantação, marcada por grande entusiasmo e solenidade.
“O modelo da Unifei em Itabira precisa ser repensado. Uma universidade federal não pode operar abaixo de sua capacidade instalada. É fundamental ampliar a oferta de cursos, fortalecer os vínculos com o território e transformar a instituição em um verdadeiro vetor de desenvolvimento regional”, destacou o prefeito.
Segundo ele, a proposta busca reposicionar o campus como um polo estratégico de inovação, ciência e tecnologia, em sintonia com as demandas da nova economia e com os desafios da transição pós-mineração.
Com a conclusão das obras, que inclui três novos prédios, a expectativa é de um crescimento significativo no número de estudantes, acompanhado da valorização e expansão dos corpos docente e discente.
No entanto, para que esse avanço se concretize, é essencial que o campus disponha de infraestrutura adequada, como restaurante universitário e alojamentos estudantis, seguindo o modelo adotado por outras universidades federais. Esses equipamentos são fundamentais para garantir permanência, inclusão e qualidade na formação acadêmica.
*Com informações da Agência Pública.