Preço da passagem de ônibus em Itabira deve chegar a R$ 4,10. Só falta o prefeito sancionar
Opção mais barata de R$ 4 no cartão abre caminho para o fim do emprego dos cobradores
Numa reunião que durou mais de duas horas, por dez votos favoráveis e três contrários, o Conselho Municipal de Transportes e Trânsito (CMTT) “inovou” e aprovou tarifas diferenciadas da passagem do transporte urbano, que salta de R$ 3,65 para 4,10 no pagamento em dinheiro na roleta e para R$ 4 para compra antecipada de no mínimo dez passes no cartão.
As novas tarifas aprovadas ficaram abaixo do que foi solicitado pela empresa concessionária, que pediu uma majoração para R$ 4,45 – e também do reajuste para R$ 4,25 sugerido pela planilha apresentada pela Superintendência de Transportes e Trânsito de Itabira (Transita). No entanto, ficou acima da proposta da Interassociação dos Moradores dos Bairros, que sugeriu um reajuste para R$ 3,95.
Votaram contra o reajuste o vereador Agnaldo “Enfermeiro” Vieira Gomes, Francisco Carlos Silva, da Interassociação, e Eline Moura, da Câmara dos Dirigentes Lojistas (CDL). Após coletar em ata as assinaturas dos conselheiros, a proposta aprovada segue para o prefeito Ronaldo Magalhães (PTB) sancionar ou vetar o reajuste. Ele pode, inclusive, sancionar um reajuste menor, ou até mesmo maior do que foi aprovado pelo conselho.
A tarifa diferenciada foi considerada um avanço nas “negociações” com a empresa concessionária – e foi proposta pelo próprio diretor da empresa, Bruno Figueiredo de Oliveira, que veio a Itabira especialmente para a participar da reunião do CMTT. Mesmo não sendo conselheiro, ele pôde fazer uso da palavra livremente, o que foi vetado às outras pessoas presentes na reunião – e que não são conselheiros. Essa discriminação ficou evidente e gerou protestos.
Risco de desemprego
A tarifa diferenciada de R$ 4 para o usuário que optar pela compra de passagens pelo cartão, o que ocorre principalmente no caso de trabalhadores assalariados que recebem vale-transporte, abre caminho para a empresa abolir a figura do trocador. É o que já ocorre em muitas cidades, inclusive na região.
Segundo o presidente do CMTT, Jairo da Silva Ferreira, a tarifa diferenciada é uma inovação importante, podendo ser aplicada imediatamente, assim que for aprovada pelo prefeito. “Noventa cento dos usuários de Itabira irão utilizar o cartão com a tarifa menor”, acredita. É dessa forma que serão criadas as condições para eliminar a figura do cobrador.
Se isso ocorrer, além de gerar mais desemprego, principalmente da mão de obra feminina, a maioria dos cobradores, o fim desse profissional pode aumentar os riscos de acidentes. É que o motorista se encarregará de receber – e de dar o troco com o veículo em movimento, como se observa onde isso já acontece.
Além disso, o trocador é um auxiliar que sinaliza para o motorista quando todos os passageiros já se acessaram ao veículo, para que coloque o ônibus em movimento com segurança para todos os usuários. Sem essa sinalização, o risco de acidentes com passageiros aumenta consideravelmente.
Essa possibilidade não foi debatida na reunião do CMTT. “Vamos nos ater às discussões sobre o reajuste da tarifa do transporte. Não vamos discutir a questão do desemprego na cidade, que é problema sério, mas que não está na pauta”, foi logo avisando, no início da reunião, o presidente Jairo Silva. Foi assim que o tema não foi sequer abordado como possibilidade para “baratear” o preço da passagem.
Mobilidade urbana
Para racionalizar e melhor planejar o transporte coletivo na cidade, nos próximos dias deve entrar na pauta da Câmara Municipal, para que finalmente seja votado, o Plano de Mobilidade Urbana (PlanMob). Segundo o vereador André Viana (Podemos), esse plano foi elaborado pelo governo passado. Custou mais de R$ 170 mil ao erário municipal, sem que se tenha ainda sido aprovado pela Câmara – e sancionado pelo prefeito para que seja colocado em prática.
O diretor da Cisne, Bruno de Oliveira, considera importante a implementação do PlanMob para baratear custos e racionalizar o serviço. Segundo ele, as linhas de ônibus de Itabira foram moldadas baseadas nas condições urbanas existentes na cidade em 2002. “Após isso, houve abertura de novas avenidas e novos bairros. A Cisne teve que fazer ‘puxadinhos’ para atender esses bairros”, disse ele, em entrevista após a reunião do CMTT.
“Eu imagino que quem mora no bairro Pedreira não vai para o bairro Praia, assim como ocorre com as linhas Bela Vista/Santa Ruth, Fenix/Gabiroba.” Segundo o diretor, essas são três linhas que transportam mais passageiros e que cita como exemplos que precisam de readequações.
Ainda de acordo com o diretor, o reajuste da passagem chega tarde, uma vez que o pedido da empresa para majorar o preço das passagens foi apresentado em novembro do ano passado. Em 2017 não houve reajuste das passagens. “O reajuste é melhor do que estava, mas não é suficiente para se fazer as melhorias no transporte”, avisou.
“Eu também não concordo com esse valor muito alto das passagens, o sistema está muito caro. Temos que tentar baratear (o custo) de alguma forma, eliminando algum tipo de gratuidade para beneficiar o usuário comum, que é o mais penalizado.”
Nos próximos seis meses, o diretor adiantou que a empresa deve apresentar uma nova análise da planilha para “equilibrar as contas”, sinalizou. “Esse ajuste tanto pode ser para mais como para menos, o que eu prefiro”, disse ele. Acredite quem quiser.
Pinóquio
O gerente da Cisne, Albino Pinheiro, subiu o tom e chamou o vereador André Viana, que ainda não estava na reunião, de Pinóquio. Isso, segundo o gerente, o atributo é por ele mentir na tribuna da Câmara ao afirmar que a empresa concessionária recebe R$ 1,5 milhão mensalmente da Prefeitura, como subsídios para o passe livre e o meio-passe. “Se ele provar que isso ocorre, eu me comprometo a reduzir o preço da passagem para R$ 2,50”, desafiou. “Ele (o vereador) usa a tribuna (da Câmara) para falar mentiras”, acusou.
Ausente da reunião no momento em que Albino fez o desafio, André Viana foi informado por um assessor, e pouco depois compareceu à reunião para se defender. Segundo ele, o valor citado como subsídios pagos pela Prefeitura foi obtido junto à Secretaria Municipal de Educação.
Conforme informou, em 2017 foram repassados à empresa R$ 925,4 mil e mais R$ 411,63 para cobrir os subsídios com o meio-passe e o passe integral, respectivamente. “São repasses anuais. E convenhamos, são bastante significativos”, acentuou.
“Mas você disse e publicou na rede social que esses repasses são mensais”, repetiu o gerente da Cisne. “Eu espero que você retrate na Câmara”, pediu Albino. “Se eu informei que esses repasses eram mensais, farei a retratação na Câmara”, conciliou o vereador.