Por uma agropecuária sustentável, Prefeitura viabiliza consórcio para gerir a Fazenda São Lourenço, no Posto Agropecuário
Centro de Referência em Agronegócio Sustentável de Itabira e da Região (Crasir) é o nome que se deu ao consórcio público-privado que irá daqui para frente administrar a Fazenda São Lourenço, uma antiga propriedade rural de 265 hectares, adquirida pela Prefeitura – e doada para a União, em 1948, para nela se instalar o antigo Posto Agropecuário, hoje desativado.
Pela sua privilegiada topografia, a fazenda é uma das melhores propriedades rurais do município. Coordenado pelo Sindicato Rural de Itabira, o Crasir conta com participação de mais 19 entidades, como a Emater, que dará assistência técnica, e também da Associação dos Produtores da Agricultura Familiar de Itabira (Apafi), além de três faculdades (Unifei, Funcesi e Una).
A criação do consórcio foi a solução encontrada depois que a Empresa de Pesquisas Agropecuárias de Minas Gerais (Epamig) rompeu contrato com a Prefeitura, deixando de administrar a fazenda experimental. (Leia aqui). Com a sua saída, a fazenda corria o risco de ser invadida por gados de fazendeiros vizinhos, como já ocorreu no passado.
Para a manutenção do consórcio, a Prefeitura de Itabira disponibilizou R$ 600 mil do Fundo Municipal de Desenvolvimento Econômico (Codecon), provenientes da Compensação Financeira pela Exploração Mineral (Cfem). Os recursos serão liberados em quantias mensais de R$ 20 mil para o custeio da fazenda.
Outros recursos financeiros devem ser também alocados pelos parceiros, com a implantação das unidades experimentais produtivas voltadas para agricultura familiar – e também para o incremento da pecuária no município.
Preservação
Outra função importante da fazenda é a preservação ambiental, já que se encontra localizada em área de preservação permanente. No passado recente, o Serviço Autônomo de Água e Esgoto (Saae) recuperou e protegeu 13 nascentes com recomposição de mata ciliar, por meio do programa Mãe d´Água, desativado pelo governo passado.
As nascentes são afluentes do ribeirão Pureza, que abastece o manancial homônimo, responsável pelo fornecimento de água para mais da metade da população da cidade de Itabira.
Nos últimos anos, com a Camig a prioridade foi dada à reprodução de animais da raça gir leiteiro, para produção de matrizes meio sangue gir-holandês. Com a pecuária semi-intensiva no local, muitas nascentes tiveram as suas margens pisoteadas, com perdas de mudas plantadas. Serão novamente cercadas para recompor as matas ciliares.
Unidades demonstrativas irão indicar quais são os melhores cultivos e técnicas para a produção local
Com o Crasir, a prioridade será dada à implantação de unidades demonstrativas de cultivos diversos, de acordo com a vocação agropecuária da região.
Para isso serão ministrados cursos em diferentes áreas, além de fomentar cultivos diversificados de frutas e hortaliças. “O desenvolvimento rural de Itabira só ocorre quando todos os segmentos envolvidos estiverem unificados, como estamos conseguindo agora”, é o que acredita o secretário municipal de Agricultura e Abastecimento, o engenheiro Agrônomo, William Sampaio Gazire.
“Caeté, onde trabalhei prestando serviços à Emater, quebrou com o fechamento de sua única siderúrgica. Hoje já se recupera também com a produção de hortaliças”, compara.
Segundo ele, Itabira pode seguir por esse caminho e alavancar a produção de queijos, café, cana-de-açúcar – e também da pecuária. “A produção de gado leiteiro e de corte é a nossa principal vocação rural, mas não é a única.”
Mercado em expansão
Para o fazendeiro Evando Lage Avelar, presidente do Sindicato Rural, a proposta é incrementar a produção rural diversificada, como já existiu no passado em Itabira. Ele conta que o sindicato contratou a historiadora Myriam Becho Mota, que está pesquisando o que se produzia e os modos de produção agrícola existentes em Itabira antes da mineração.
“Era uma produção diversificada e autossuficiente para abastecer as demandas do município”, conta Avelar. “Podemos incrementar a produção diversificada, pois temos mercado consumidor e que demanda produtos de qualidade, de origem conhecida”, entusiasma o dirigente patronal.
Esse mercado é assegurado pela feira livre, que acontece aos sábados, e também pela Feira Itinerante Terra Nossa, que é organizada pela Apafi. Outro mercado assegurado para a agricultura familiar são os programas Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) e de Aquisição de Alimentos (PAA), ambos do governo federal.
Por meio desses programas é feito o suprimento da merenda nas escolas públicas e também para as ações sociais de segurança alimentar. “Itabira ainda não produz o suficiente para atender à demanda escolar, muito menos ao mercado interno. Isso é a segurança que temos para investir no segmento agropecuário, já que há espaço para o incremento da produção rural no município”, é a aposta que faz o presidente do Sindicato Rural de Itabira.
Unidades demonstrativas
“O município de Itabira já foi grande produtor de café. Vamos implantar 12 unidades demonstrativas para saber quais são as variedades de café que melhor se adaptam ao solo e clima da região. Com os resultados obtidos, vamos incentivar o cultivo das variedades com melhor desenvolvimento”, adianta Wiliam Gazire, que é entusiasta, também, do cultivo de banana.
“Diferentemente do que muitos imaginam, a agricultura é nômade. O cinturão verde de Ibirité, Brumadinho, Sarzedo, Ribeirão das Neves está se esgotando com o desenvolvimento urbano desenfreado. E vem migrando para a nossa região, já está em Campolar. Com a duplicação da rodovia, Itabira entra nesse circuito de produção”, acredita o secretário municipal de Agricultura e Abastecimento.
“O cultivo de banana já é realidade em Itabira e vem crescendo. O grande desafio é o pós-colheita, a forma de manipulação para que mantenha a qualidade. Para isso existem técnicas que podemos desenvolver com sucesso no município.”
A prioridade, disse o secretário, é a produção diversificada sem uso de agrotóxico, que é o primeiro passo para se produzir alimentos orgânicos no município.
A aposta é, portanto, na produção rural diversificada. Que venha para ficar, gerando emprego e renda, fixando o homem no campo com qualidade de vida.
Convênio
Para viabilizar o consórcio do Crasir, o prefeito Ronaldo Magalhães assinou, na sexta-feira (2), o termo de colaboração firmado com as 20 entidades que participam do consórcio formado para administrar e fomentar as unidades demonstrativas na fazenda São Lourenço, no Posto Agropecuário.
A sua viabilização foi possível por meio de um projeto de lei de autoria do vereador Solimar José da Silva (Solidariedade), já aprovado pela Câmara Municipal e sancionado pelo prefeito.
“Esperamos alterar a paisagem rural de Itabira. Para isso, o pequeno produtor rural precisa ter suporte e assistência técnica para produzir alimentos de qualidade para atender a demanda da cidade e depois expandir para a região”, acredita o prefeito de Itabira.
“O apoio à agropecuária completa o nosso leque de alternativas para a diversificação econômica de Itabira”, acentuou o prefeito na assinatura do termo de colaboração, na sede do Sindicato Rural.
Que bacana, essa fazenda foi
da minha vó Luzeouro Saraiva de Freitas, ela vendeu em 1948.Muito bacana.