Poluição de água em Itabira pode ter sido por vazamento oleoso no DI, mas reação ao ferro e manganês não deve ser descartada
Diferença de coloração de água servida em Itabira: a da esquerda foi captada na superfície e tratada na ETA Pureza, enquanto a água clara e cristalina é proveniente dos poços profundos das Três Fontes, no bairro Pará, que demanda tratamento simplificado
Fotos: Reprodução
Se não bastasse a crônica escassez de água em muitos bairros de Itabira (só não sofrem com essa situação os moradores dos bairros Pará, Centro e adjacentes servidos pela água subterrânea das Três Fontes), não raro o itabirano se defronta com a contaminação por algum poluente.
Isso pode ocorrer por excesso de algum mineral (ferro e ou de manganês), como também por algum vazamento de efluente oleoso, como agora se suspeita tenha ocorrido com a água turva servida nesse fim de semana a cerca de 60% da população da cidade, abastecida pela Estação de Tratamento da Pureza (ETA Pureza).
É o que investiga a Polícia Militar Ambiental, juntamente com técnicos do Serviço Autônomo de Água e Esgoto (Saae), e da Secretaria Municipal de Meio Ambiente.
Nesse domingo (12), eles vistoriaram dez empresas no Distrito Industrial, com coleta de água em pontos diferentes, para se saber se ocorreu algum vazamento em grandes proporções a ponto de comprometer a qualidade da água servida à população.
As investigações ainda estão em curso e nenhuma hipótese deve ser desconsiderada, buscando-se saber se a contaminação foi acidental, por alguma falta de controle de efluentes industriais, ou até mesmo se foi criminoso, um crime ambiental cometido contra a população itabirana.
Análises
Análises laboratoriais realizadas pelo Saae descartaram a presença de microrganismos, vale dizer, inclusive de coliformes fecais na água contaminada. Uma hipótese que não pode ser descartada é a poluição também por minerais que oxidam em contato com o cloro utilizado no tratamento da água.
Isso porque, parte da água servida à população pela ETA Pureza é proveniente do reforço de 160 litros por segundo que a mineradora Vale é obrigada a suprir na estação de tratamento, por força de um termo de ajustamento de conduta (TAC) firmado com o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), até que se conclua a transposição do rio Tanque.
Depois dessa última contaminação, o Saae já providenciou a limpeza dos reservatórios que recebem o precioso líquido da ETA Pureza, com a água já tendo retornado ao parâmetro de potabilidade exigido em lei, de acordo com as diretrizes do saneamento básico.
Indignado com toda essa situação, um morador do bairro Colina da Praia reivindica, com toda razão: “Não importa de quem é a responsabilidade por essa situação. O certo é que o Saae deveria ter fornecido água mineral a toda população atingida enquanto perdurasse a contaminação da água, além de ressarcir os valores pagos por uma água poluída, além de indenização.”
Esse mesmo morador conta que o Saae também demorou para tomar as providências cabíveis para impedir que essa água suja continuasse a jorrar nas torneiras. “Liguei na quinta-feira reclamando dessa turbidez, quando ainda estava no início. Não deram a importância devida, responderam que era oxidação da água pelo ferro em contato com o cloro e que isso não faz mal à saúde. Se tivessem agido rápido, todos esses transtornos e danos à população teriam sido evitados.”
Antecedentes
Diferença na coloração da água servida em Itabira é uma preocupação recorrente na cidade. Donas de casa reclamam da água barrenta por “encardir” roupas na máquina de lavar, sem falar na contaminação de alimentos e na poluição da água usada para a dessedentação humana.
Essa contaminação da água é recorrente em Itabira desde que teve início a exploração de minério de ferro em larga escala, quando ocorreu a poluição de diversos cursos d’água, além de se manter pela mineração o quase monopólio das outorgas da água de boa qualidade (superficial e subterrânea, dos aquíferos).
O certo é que a Vale fica com água de classe especial, enquanto a população consome água que exige tratamento mais complexo para assegurar a sua potabilidade.
Pois esse tratamento não tem sido sempre capaz de assegurar o fornecimento de água de qualidade à população, como se tem observado desde sempre – e nos últimos anos com mais recorrência.
Situação semelhante de contaminação da água foi também observada em setembro de 2018, mas não nessa proporção de agora. Entretanto, deveria ter servido como advertência ao indicar que algo muito estranho ocorre com a água servida, historicamente, à população itabirana.
Foi o que relatou à reportagem deste site na ocasião um morador do bairro Esplanada da Estação, depois de se assustar ao retirar para limpeza um filtro compacto utilizado para reter resíduos antes de a água chegar ao reservatório em sua residência.
“Havia sobre o filtro um material oleoso, com aspecto de pasta lubrificante e cheiro semelhante a derivado de hidrocarboneto (petróleo)”, contou esse morador.
Na ocasião, esse mesmo morador manifestou o receio de a água que consome em casa estar contaminada com óleo e graxa vindos da barragem Rio de Peixe, que servia, naquela época, como reforço para a ETA Pureza.
Na reportagem, o ex-diretor do Saae Jorge Borges descartou essa possibilidade, assegurando que não existia contaminação por derivados de hidrocarboneto. Disse ainda que a ETA Pureza já não recebia água da barragem, mas de poços profundos da mina Conceição.
Após análise do material constante do filtro desse morador, Jorge Borges informou que o material pegajoso é resultado da ação do cloro com micropartículas vegetais, minerais e biológicas. “Fica parecido com um gel. É o mesmo material que aparece retido numa vela (de filtragem) comum, após muito tempo de uso.”
Segundo ele explicou, o cloro adicionado na água tem a função bactericida e oxida a matéria orgânica nela contida. “O efeito não afeta a qualidade da água.” Ao contrário, diz, é o que garante a sua potabilidade dessa água tratada.
Ferro e manganês
Já a cor amarelada da água muitas vezes servida à população é também decorrente da ação do cloro com o ferro e o manganês que nela são contidos.
“É na queima desse material pelo cloro que a água adquire essa cor”, explicou Borges, reconhecendo que isso é desagradável e a população fica preocupada.
Naquela ocasião, para amenizar o problema, o Saae identificou os poços que apresentavam maior volume de resíduos de ferro e manganês, passando a captar água somente dos pontos onde a incidência é menor.
O excesso de ferro e manganês também deixa a água amarelada e pode manchar tecidos, roupas e utensílios, além de dar um sabor metálico na água e na alimentação.
Em baixa quantidade, esses minerais não causam danos à saúde e são necessários ao bom funcionamento do organismo.
Mas em excesso são prejudiciais à saúde humana. No caso do manganês, dosagem excessiva pode provocar, segundo a literatura médica, sintomas parecidos com a doença de Parkinson, como tremores, fraqueza e rigidez muscular, entre outros danos à saúde, como insônia e dor de cabeça, podendo causar até impotência sexual.