Poesia e Estatística – 1889 – Poesia

Acervo e pesquisa:Cristina Silveira

Eu era feliz em meus lares,

não conhecia as tristezas!

sempre alegre e sem pesares

não via na vida asperezas.

Mas um dia, qual forasteiro,

“instado por pais austeros”

sempre com ar prazenteiro

tornei-me novo Ahasveros!…

Quando treze anos contava,

Comecei sulcando os mares,

E deixando tudo que amava

Abandonei os meus lares!

Entrei a lutar com a sorte,

O oceano afrontei…

E assim disputando a morte,

Um belo porvir sonhei!

Ao Brasil me dirigia,

A essa terra apetecida,

Esperançoso de um dia

Voltar ao seio da mãe querida.

Quando essa ideia embalava

E do fel não via a taça,

O ente que eu mais amava

Roubou-m’o a parca! Desgraça!

Perdi minha santa mãe,

A pátria não voltarei!

Pois belezas já não tem

Tudo o mais que lá deixei!…

Minhas ambições perdi

Eis o que deliberei:

Jamais sairei daqui,

No Brasil eu morrerei.

A.P.L.M. Itabira, dezembro de 1889. [A Ordem (MG), 21/12/1889. BN-Rio]

A casa ao ar livre na av. Augusto Severo, Rio

1856 População – A cidade de Itabira, em Minas Gerais, é uma das mais ricas e importantes populações da mesma província; entre uma comunicação aberta entre ela, o litoral e a província do Espírito Santo terá de estabelecer uma grande comunicação entre os dois pontos principais e a província do Rio de Janeiro.

Esta comunicação da província do Espírito Santo com a cidade de Itabira abrirá comércio com um ponto importantíssimo de Minas Gerais e com uma numerosa população, pois que em termo de cidade da Itabira se agrupam cidades, vilas dentro de um pequeno raio de 400.000 habitantes, a mais populosa da província de Minas. [Jornal do Comércio (RJ), 12/8/1856. BN-Rio]

Alegoria Tropical, feito com tinta alemã, por Kurt Hielgcher 1938

1873 Censo – Publicamos em seguida o resultado dos trabalhos do recenseamento à que se procedeu na cidade da Itabira. Devemos a notícia à bondade de um dos membros da Comissão, sr. Te. Cel. Emmerenciano Júlio de S. Thiago.

A paroquia da cidade da Itabira, segundo os mapas organizados pela respectiva Comissão Censitária, tem 1:403 casas habitadas, 73 desabitadas, 4 igrejas, 2 capelas, 1 hospital, 1 cadeia, 1 matadouro público.

Sua população é de 6.602 indivíduos, sendo 5.256 livres e 1.346 escravos.

Dos livres são: 2.560 homens e 2.696 mulheres; 3.235 solteiros, 1.627 casados e 394 viúvos; 5.247 católicos e 9 acatólicos; 5.199 brasileiros; 57 estrangeiros; sabem ler e escrever 1.508 e são analfabetos 3.747; da população escolar de 6 à 15 anos de idade frequentam escolas, 316 não frequentam 767; há na paroquia 9 cegos; 13 surdos mudos; 61 aleijados; 5 dementes, 12 alienados; 5 idiotas; 5 paralíticos; 23 papudos; 3 raquíticos; 5 morféticos.

Dos escravos são: 715 homens e 631 mulheres; 1.040 solteiros, 266 casados e 40 viúvos; 1.346 católicos; 1.257 brasileiros; 89 estrangeiros; sabem ler e escrever, 1; são analfabetos. 1.245. há na paroquia 12 aleijados e 3 cegos.

Considerada a população em relação à sua nacionalidade estrangeira são: africanos 122, ingleses, 11; portugueses, 8; italianos 2; alemão, 1. Há na paróquia 5 advogados, 7 farmacêuticos, 1 médico, 1 dentista, 3 professores públicos. [Diário de Minas, 2/10/1873. BN-Rio]

Africana Exposição Cartografia da Africanida. Rio, 2018.10.31

1893 Faniquices

Aos itabiranos ausentes

Fugi depressa, ó musa da galhofa!

Chamei Calíope que não tarda, vem;

saudar contente vou saudar, sem mofa,

meus conterrâneos pelo mundo além.

Os quatro ventos trazem pressurosos

tantas missivas desse povo são,

que não me é dado lhe negar saudosos

cantos de afetos, de expressões de irmão.

A nossa folha, de ambições despida,

ternas saudades avivar-lhes vai.

Por mãe afável A Itabira tida

vai por figura lhes ouvir o ai.

Diletos filhos, que, do val querido

de tudo e todos vem a mim falar,

feliz aquele, que se faz ouvido

ao filho ausente do querido lar.

Maternos prantos enxugar pretendo,

de tantos filhos escutar os ais,

saudades tantas mitigar entendo,

laços fraternos estreitando mais.

Unidos todos – pensamentos, peitos –

ao ver o berço florescer, subir,

hosana, hosana, que o torpor desfeito,

só temos róseo, divinal porvir.

  1. Pito [A Itabira, 19/10/1893. BN-Rio]

1874 Matrícula de escravos – Segundo um quadro remetido à diretoria geral de estatísticas pelo inspetor da Tesouraria de Fazenda de Minas Gerais, foram matriculados nas coletorias dessa província 235.115 escravos, sendo: Em Itabira, 6.537; Arassuahy, 3.148; Ayuruoca, 4.088; Araxá, 515; Alfenas, 4.790; Bagagem, 3.449; Barbacena, 9.698; Bonfim, 4.785; Cabo Verde, 2.149; Campanha, 6.096; Caldas, 2.799; Caeté, 2.607; Dores de Marmelada, 2.124; Formiga, 4.124; Grão Mogol, 2.862; Itajubá, 4.275; Jaguary, 1.692; Juiz de Fora, 19.351, Januária, 191; Leopoldina, 15.029; Lavras, 293; Mariana, 6.124; Montes Claro, 4.092; Mar de Espanha, 12.314; Ouro Preto, 3.133; Oliveira, 6.883; Pomba, 1.395; Pitanguy, 7.344; Ponte Nova, 8.434; Patos, 1.259; Prata, 3.697; Piranga, 4.280; Pouso Alegre, 6.336; Paracatú, 1.812; Patrocínio, 2.495; Passos, 4.064; Queluz, 8.263; Rio Novo, 6.339; Rio Pardo, 4.189; Rio Preto, 4.888; Santa Bárbara, 4.783; Sete Lagoas, 2.341; Santo Antonio do Monte, 1.695; Santa Rita do Turvo, 70; Santa Luzia, 2.436; S. João Batista, 2.782; Sacramento, 111; Turvo, 2.773; Três Pontas, 3.307; Ubá, 3.867 e Uberaba, 4.065. Apesar das ordens do inspetor, faltam informações relativas a 15 municípios. [Diário do Rio, 2/5/1874. BN-Rio]

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1874 População do Império do Brasil

Apuramento do censo – O total apurado pela diretoria Geral de Estatística até o dia 20 do corrente: é de 8.720.757 habitantes em todo o império. [Diário de Minas: 28/10/1874. BN-Rio]

1874 Praças da Guarda Municipal

Em 20 de dezembro de 1873: meio antecessor: usando da atribuição conferida pelo art. 24 § 4°da lei de 12/8/1834: expediu o necessário regulamento para execução da parte da lei n. 2025: que criou a Guarda Municipal: como complemento do corpo policial: distribuindo essa força pelos municípios da província: de conformidade com a citada lei: do modo seguinte:

Município: Itabira: número de praças: 6; Comandantes: 1; total das praças:7

Segundo o relatório do digno chefe de polícia: as autoridades tem lutado com bastante dificuldades para o engajamento de praças: máxime pela exiguidade do salário marcado: que em muitos pontos é inferior ao que percebem simples jornaleiros. [Diário de Minas, 2/11/1874. BN-Rio]

1874 Escravidão – Conforme o seguinte quadro, organizado pela Tesouraria da Fazenda, vereis que até setembro de 1873 foram matriculados em 55 municípios da província 12,298 filhos livres de mulher escrava, de ambos os sexos, bem como 119.289 escravos e 98.985 escravas.

Município – Itabira: Escravos matriculados: masculino: 3.447; feminino: 3.090; Total: 6.537. [Diário de Minas, 15/11/1874. BN-Rio]

1875 Renda Geral – Minas Gerais – Quadro estatístico da renda geral e provincial, casas de negócios, engenhos, população, exportação de valores etc. dos municípios da província de Minas Gerais durante o exercício financeiro de 1972 a 1873, demonstrando a importância das zonas de Leste e de Oeste em relação ao serviço de caminhos de ferro.

Paróquias: 9 – Engenhos: 150 – Casas de Comércio: 150 – Rendimento da Coletoria: geral: 23:597$707; provincial: 18:669$753 – População: livre: 35.150; escrava: 7.464; total: 42.614.

Total da Zona Leste.

Paróquias: 211 – Engenhos: 2.611 – Casas de Comércio: 4.804 – Rendimento da Coletoria: geral: 985:606$106; provincial: 1.253:464$830 – População: livre: 1.058.567; escrava: 241.903; total: 1.300.470 + 122.018, cálculo da população de 16 freguesias desta zona, que falta apurar; Total: 1.402.488. [Diário Nacional (RJ), 16/8/1875. BN-Rio]

1875.9.15 Escravidão – Manumissões. Pela ordem do Tesouro Nacional n. 38, de 1 de junho foi aberto um crédito da quantia de 573:915$715 para ser aplicada à libertação de escravos na província. Em aviso de 21 de março passado, exigiu o ministério de Negócios da Agricultura que se declarasse qual o número de escravos manumitidos nesta província, em juízo e fora dele, desde 1872 até fins de 1874.

Para satisfazer a esta exigência, dirigi nesse sentido uma circular aos juízes municipais e de órfãos. Pelos poucos dados até agora existentes na Secretaria desta presidência, vê-se que foram libertados: Itabira – 43 escravos. [Diário de Minas, 15/9/1875. BN-Rio]

1887 Escravidão – Temos notícia do resultado da matrícula de escravos e arrolamento de sexagenários nos seguintes termos das províncias:

Minas Gerais – Ouro Preto 1.278 escravos e 7 arrolados; Queluz 2.953 escravos e 44 arrolados; Itabira, 3.432 escravos e 15 arrolados; S. José de Além Parahyba, &.281 escravos e 255 arrolados. [O Paiz, 3/4/1887. BN-Rio]

1933 Retrato do Cauê, para Arp, de Borba Gato.

Cauê invicto, aprumo e varonil,

Que vive quedo namorando os céus,

Coberto, às vezes, de gelados véus,

E às vezes, reluzindo ao sol de abril.

Poetas, poetastro mil e mil

Já cantaram na lira qual Orfeu,

A tua silhueta, o teu perfil

E finalmente tudo quanto é seu.

Hoje o Arp, porém, cinicamente

Mente dizendo que diariamente

Bosqueja duas vezes teu postal.

Quatro eu creio, as duas da refeição

E mais duas após a digestão.

Escondendo no fundo do quintal.

[Jornal de Itabira, 6/7/1933. BN-Rio]

1933 Confiteor

ARPOCIO ou Arp Procópio de Carvalho

Itabira me perdoa,

eu fiquei aqui atoa

não ver teu centenário;

Deixei-te, terra querida,

(hás de supor toda a vida)

por motivo secundário.

Minha terra, sem maldade,

eu vou dizer-te a verdade;

Não fui ao teu centenário

(aqui baixinho eu te conto,

eu que, bem sabes, sou “pronto”)

por falta de numerário…

Como vê a “quebradeira”

é a responsável primeira

por estar de te ausente;

Mas te prometo e te juro:

No centenário futuro,

é sério… estarei presente.

ARPOCIO [Jornal de Itabira, 21 de outubro de 1933. BN-Rio]

1903 Itabira de Matto Dentro – Estatística da freguesia da cidade de Itabira no ano de 1902, sob a base de sete mil vidas: Batizamentos – sexo masculino: 134, sexo feminino: 124, total: 258. Casamentos: 50, nenhum com o só contrato social. Óbitos: adultos do sexo masculino: 44, do feminino: 52, inocentes de ambos os sexos: 97. Total 193. [O Pharol (Juiz de Fora), 1/4/1903. BN-Rio]

1905 Crimes – Os delegados de polícia dos municípios abaixo relacionados já remeteram ao sr. dr. chefe de Polícia os dados estatísticos dos inquéritos preparados no decurso do ano de 1904.

Em relação a cada um, vai consignado o número de inquéritos.

Itabira: 29; Barbacena: 10; Carmo do Rio Claro: 16; Conceição do Serro: 7; Dores da Boa Esperança: 27; Formiga: 18; Frutal: 25; Guaranésia: 25; Itajubá: 16; Itapecerica: 24; Itaúna: 10; Minas Nova: 39; Oliveira: 45; Ouro Preto: 30; Pitangui: 49; Paracatu: 19; Pouso Alto: 18; Rio Preto: 15; Santa Luzia do Rio das Velhas: 25; S. Domingos do Prata: 9; S. Sebastião do Paraíso: 22; Tiradentes: 5; Uberaba: 32; Vila Nova de Lima: 11; Vila de Passa Quatro: 4; Vila de Poços de Caldas: 3; Total: 533.

Os crimes que motivaram esses 533 inquéritos são assim classificados:

Ofensas físicas leves: 251; ofensas físicas graves: 63; homicídio: 52; tentativas de homicídio: 48; roubos: 31; furtos: 21; de honra ofendida: 11; injurias: 9; falsidades: 6; danos: 9; violência: 3; estelionatos: 3; incêndio: 1; outros crimes e contravenção: 25.

O município de Barbacena é um dos mais populosos do Estado e por isso o diminuto número de delitos que ali motivaram inquéritos, no período de um ano, impressiona bem ao espirito. É um eloquente testemunho do apurado pensar daquele povo para o respeito à lei e à ordem.

No decurso do mesmo ano e nos referidos municípios foram capturados 347 delinquentes cujos os crimes são: ofensas físicas, 145; homicídios, 75; tentativas de homicídio, 64; roubos e furtos, 45; outros 12; moeda falsa 6. [O Pharol (OP), 24/8/1905. BN-Rio]

 

 

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