Poemeto caricato ou o Abecedário do Octogenário
Marina Procópio de Oliveira*
Indagaram ao octogenário,
na festa de aniversário:
A chegada aos oitenta
exige vida sedenta?
E o velhinho, cambaio,
olhando, assim, de soslaio,
riu sua risada sem dentes
e falou, sem entrementes…
Não queira ter, aos oitenta,
a força que está nos quarenta.
nem aparência de vinte,
quanto está mais pra pedinte.
Pros oitenta, não tem segredo,
basta envelhecer, sem medo.
Guardadas tais proporções,
Aí vão algumas lições:
Não se esqueça do prazer
pra você não fenecer…
O mundo é cheio de vícios,
aproveite os benefícios!
Comece devagarzinho…
Só um trago na cachaça
pra acompanhar o vovô.
evolua de mansinho…
Até chegar à moafa
e não dizer nem alô.
Mas atenção ao limite!
Abandone o vício aos sessenta,
só assim você chega aos oitenta.
Não se esqueça de um bom pito
pra aliviar a tensão.
Depois do café, almoço, enfim…
Sempre que o tiver a mão.
Mas atenção ao limite!
Abandone o vício aos setenta,
só assim você chega aos oitenta.
Um bacon e um torresmo
também não podem faltar.
Só não os coma a esmo!
Apenas no almoço e jantar.
Mas atenção ao limite!
Abandone o vício aos oitenta.
Só assim você chega aos noventa.
E enquanto tiver visão,
mente, boca e coração,
namore todas as moças,
não abra qualquer exceção.
E aí não respeite limites!
Pois quem não as come aos oitenta,
com toda imaginação,
não fecha os cem anos não.
*Marina Procópio de Oliveira é poeta e escritora itabirana. Mora em Belo Horizonte