PEC da jornada de 36h é positiva e segue tendência em muitos países, mas pode impactar áreas como saúde e educação, diz especialista

Foto: Divulgação/
GovBR

Proposta de deputada Erika Hilton levanta debate sobre impacto em setores essenciais; advogado trabalhista vê necessidade de adaptação gradual

A Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da deputada Erika Hilton (PSOL-SP), que propõe mudanças na escala de trabalho 6×1, tem gerado um intenso debate nas redes sociais e levantado questões sobre os impactos no mercado brasileiro.

A PEC busca alterar o modelo tradicional, que exige seis dias de trabalho seguidos por apenas um descanso, propondo uma redução para uma jornada de 36 horas semanais.

O objetivo é proporcionar uma carga mais humanizada para garantir aos trabalhadores mais tempo de descanso e qualidade de vida, o que implica no direito ao ócio criativo, como também para estudar e cuidar da saúde.

A medida segue uma tendência observada em outros países, mas especialistas alertam que setores essenciais podem enfrentar dificuldades caso a proposta seja implementada sem adaptações.

Giovanni Cesar, professor e advogado trabalhista, considera que a PEC deve ser analisada com cautela, especialmente no contexto brasileiro, em que áreas críticas, como saúde e educação, operam com déficit de profissionais e dependem de escalas bem definidas para o funcionamento.

Giovanni Cesar, professor e advogado trabalhista, diz que o debate é necessário e mudança segue tendência em muitos países que buscam melhorar a qualidade de vida dos trabalhadores, mas deve ser gradual para não impactar setores essenciais (Foto: Reprodução)

A jornada de 36 horas exigiria novas contratações para manter o atendimento sem comprometer a qualidade dos serviços. Na saúde, por exemplo, onde já enfrentamos falta de médicos e enfermeiros, isso poderia agravar a situação”, é uma das implicações que precisa ser avaliada e observada.

Ele também ressalta que setores que operam nos fins de semana, como saúde e segurança, poderiam ter dificuldades para manter a continuidade das operações sem aumentos significativos nos custos e na carga de trabalho das equipes.

No setor educacional, Cesar destaca que o cumprimento do currículo poderia ser comprometido caso os professores tivessem menos dias de trabalho na semana.

“Com menos dias disponíveis, escolas e universidades teriam que reorganizar o calendário letivo, o que pode ser um desafio em um sistema que já enfrenta dificuldades. Uma redução abrupta da jornada precisaria de ajustes significativos para evitar prejuízos na qualidade”, pontua.

Alternativa gradual com 40 horas 

O advogado sugere que uma redução gradual para 40 horas semanais, com cinco dias de trabalho e folgas nos finais de semana, seria mais compatível com a realidade do Brasil.

Segundo ele, em países em que a jornada foi reduzida, a mudança geralmente ocorreu de forma gradual e em áreas específicas, permitindo avaliar os resultados e fazer ajustes,

“A redução para 40 horas apresenta um caminho viável. Além de melhorar a qualidade de vida dos trabalhadores, essa medida poderia estimular a economia com novas contratações”, explica.

Cesar também ressalta que essa alternativa permitiria um equilíbrio entre a necessidade de ajustes e a manutenção dos serviços essenciais.

A PEC de Erika Hilton está em fase inicial e requer 171 assinaturas para começar a tramitar na Câmara dos Deputados. Em declarações recentes, a deputada afirmou que a proposta é uma resposta à necessidade de melhorar o bem-estar dos trabalhadores e alinhar o Brasil com um movimento global em prol de jornadas mais curtas e humanizadas.

No entanto, conforme observa o advogado, o cenário brasileiro exige cautela e uma adaptação progressiva.

“A discussão é importante para o debate sobre as condições de trabalho no país, mas uma meta mais alcançável, como 40 horas, pode trazer benefícios com menor risco de sobrecarga aos serviços essenciais”, sugere.

 

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