Parque Científico Tecnológico é tarefa tripartite da Prefeitura, Unifei e Vale para diversificar a economia de Itabira, defende pró-reitora

Fotos: Carlos Cruz

Graduada em Engenharia Ambiental pela Universidade do Estado do Pará (UEPA), a pró-reitora Giselle de Paula Queiroz Cunha é doutora em Ciências da Engenharia Ambiental pela Universidade de São Paulo (USP/São Carlos). Tem experiência profissional no desenho e execução de supervisão ambiental de obras e programas ambientais de empreendimentos hidrelétricos e transmissão de energia.

É concursada como docente da Unifei desde 2010, onde já atuou como coordenadora de curso, presidente do Núcleo Docente Estruturante (NDE), tendo anteriormente atuado como coordenadora Extensão do campus Itabira e diretora de Empreendedorismo e Inovação da Unifei.

Já atuou também na coordenação e liderança de diversos projetos junto a instituições governamentais e não governamentais em Itabira. Atualmente lidera o programa Iniciação à Engenharia, uma parceria entre a Unifei, Fundação de Apoio ao Ensino, Pesquisa e Extensão de Itajubá (Fapepe) e Vale, com investimentos da ordem de R$ 4 milhões.

É coordenadora geral do programa CITInova Itabira, uma parceria entre Unifei, Prefeitura de Itabira e Fundação de Pesquisa e Assessoramento à Indústria de Itajubá (Fupai), programa que envolve aproximadamente 300 bolsistas, entre docentes, técnicos e estudantes, com investimentos da ordem de R$ 4,5 milhões anuais.

Nesta entrevista ela ressalta a importância de se manter parceria tripartite entre a Prefeitura de Itabira, Unifei (governo federal) e a mineradora Vale para o incremento do Parque Científico Tecnológico, instrumento de desenvolvimento que ainda se encontra em projeto, para buscar a diversificação econômica com base sustentável e inovadora. Confira.

(Carlos Cruz)

Você é a primeira pessoa a ocupar a pró-reitoria do campus de Itabira. O que muda com a sua nomeação?

Sim, eu sou a primeira pró-reitora do campus Itabira, onde predominantemente há um público masculino, em função dos cursos serem de engenharia.  É uma grande oportunidade para o campus de Itabira ampliar o nosso relacionamento com a sociedade itabirana.

Antes dispúnhamos de apenas uma coordenação de extensão que atua em conexão direta com a sociedade. Temos também três diretorias das unidades acadêmicas e a direção do campus. Aceitei o convite da reitoria para que eu fizesse uma reestruturação de nossas atividades de extensão.

Como a pró-reitoria se posiciona dentro da estrutura do campus da Unifei de Itabira?

A pró-reitoria está vinculada diretamente à reitoria da Unifei e atua com todas as 10 unidades acadêmicas da Universidade, inclusive as três que existem em Itabira. Atua também com a direção do campus em Itabira e demais setores de Assessoramento e Apoio existentes, conforme está no organograma da Unifei (https://unifei.edu.br/institucional/documentos/organograma/).

Nossa proposta para a Pró-Reitoria de Extensão (Proex) é um processo de modernização, no qual vamos nos realinhar às políticas públicas governamentais e  ao arcabouço legal vigente, deixando o campus de Itabira nas mesmas condições de recursos humanos e oportunidades que o campus de Itajubá.

Em Itabira temos a direção do Campus que coordena setores e técnicos e as três unidades acadêmicas, cada uma com um conjunto de engenharias, nas quais os docentes e técnicos estão distribuídos. É a primeira vez que temos a pró-reitoria no campus de Itabira.

Para entender melhor, a pró-reitoria está acima dos diretores das unidades acadêmicas?

Não, são atribuições diferentes.  Os diretores coordenam as atividades acadêmicas dos cursos de engenharia, enquanto a Pró-Reitoria de Extensão é um órgão subordinado à Reitoria e responsável pelo gerenciamento, acompanhamento, elaboração de políticas, normatização, controle e avaliação das ações relacionadas com as funções sociais, culturais, artísticas e tecnológicas de natureza extensionista da UNIFEI, integrando o ensino, a pesquisa e a extensão de forma indissociável (https://proex.unifei.edu.br/).

É importante que estejam sempre integrados. Vamos modernizar a estrutura da Proex e assim potencializar as atividades de extensão universitária de maneira integrada aos diversos setores da Unifei. Em Itabira só existe atualmente a coordenação de extensão, eu já fui coordenadora também à convite da direção do campus Itabira.

Qual é a importância para Itabira ter agora essa pró-reitoria no campus local da Unifei?

É um grande avanço para Itabira. A nossa proposta, que ainda depende da aprovação dos conselhos da Universidade, é que poderemos firmar novas parcerias de extensão em geral, inclusive com o município, considerando as particularidades de Itabira, para que elas sejam desenvolvidas da melhor maneira possível.

Para isso devemos ter uma interação dialógica com a comunidade, ampliando a participação dos cidadãos, seja em trabalho de pesquisas, diagnósticos, dentro de linhas muito específicas e que possam impactar a vida na comunidade.

Esse deve ser um grande avanço nas atividades de extensão em Itabira. Nosso objetivo é ampliar cada vez mais essa conexão das ações da universidade, potencializando nossas ações de extensão universitária.

Com a pró-reitoria, você passa a ser a principal interlocutora de Itabira com a universidade?

Giselle Cunha com Gina Ambrósio, analista do Sebrae: parcerias necessárias para a diversificação econômica de Itabira

Em termos de extensão, sim e com toda a equipe que vamos ter também. Não só de Itabira, mas também da região, fazendo contatos com os prefeitos e demais agentes sociais, levando e apresentando nossos trabalhos de extensão cultural, social, inovação tecnológica empresarial, o que já existia no campus de Itabira, agora de uma maneira mais intensa e organizada.

A nossa proposta de estruturação envolve a criação de um Centro de Cultura e Tecnologia Social, alinhado às dimensões do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), e que seja de acesso à comunidade para que possa trazer melhorias para a comunidade.

Para isso vamos dar um upgrade na diretoria de empreendedorismo e inovação para que se torne a Agência Unifei de Inovação, atendendo melhor aos requisitos do marco legal do MCTI. Com isso, podemos captar recursos, modernizando os setores da universidade para que fique alinhada com as políticas públicas e possa também participar de determinadas captações de recursos.

As universidades passaram por momentos difíceis com o último governo, com corte de verbas generalizadas. Quais são as expectativas agora com o novo governo?

Sim, a situação das universidades se agravou nos últimos anos com a falta de recursos para a extensão, pesquisas e tudo o mais. Temos agora uma expectativa melhor, mas há muitos anos as universidades brasileiras sofrem com cortes em seus orçamentos.

Estou há 13 anos na universidade, e desde então vejo que o cobertor vem se tornando mais curto, mas com certeza nos últimos anos tivemos um impacto maior. Um impacto global, principalmente depois da pandemia.

Eu, particularmente, tenho agora uma expectativa de melhora, de alinhar com as políticas públicas governamentais. Tivemos uma reunião com a equipe do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação e que foi muito importante e produtiva.

Já houve um aumento no valor das bolsas para pesquisas, o que deve ser compatibilizado para a extensão a fim de valorizar as atividades de impacto com a sociedade.

Até o momento o valor era irrisório, insuficiente ter uma bolsa de R$ 400, o estudante bolsista não consegue arcar com as condições mínimas de sobrevivência.

A Unifei está em Itabira há 15 anos. Fiz várias entrevistas com o professor Renato Aquino, ex-reitor, que falava com entusiasmo do futuro Parque Científico Tecnológico, ainda a ser instalado no campus de Itabira, considerado imprescindível para a diversificação da economia local. Por que até hoje não foi implantado?

No último evento da Programa  CITInova Itabira que fizemos agora, no dia 28, eu comentei que é importante ter um alinhamento das instituições, para que entendam o que é um Parque Científico Tecnológico. Não é algo simples de ser implantado, não se restringe a investimento em infraestrutura.

Antes de assumir a Diretoria de Empreendedorismo e Inovação da Unifei, em 2021, eu tinha a mesma impressão que tem a maioria da comunidade itabirana, achava que havia uma má vontade política geral ou de falta de investimento. Mas não é assim.

Nós temos hoje dois prédios construídos para abrigar o Parque Científico Tecnológico e que ainda abrigam as nossas engenharias. Após a conclusão dos dois novos prédios em construção, as atividades migrarão para esses novos espaços, liberando esse espaço. É certo que precisamos dessa infraestrutura para o parque, mas não só disso.

Há que se ter em conta que há mais de 10 anos a Finep (Financiadora de Estudos e Projetos, órgão do governo federal que tem a missão de promover o desenvolvimento econômico e social do Brasil por meio do fomento público à Ciência, Tecnologia e Inovação em empresas, universidades, institutos tecnológicos e outras instituições públicas ou privadas) não abria edital para credenciamento de novos parques científicos tecnológicos.

Então, não depende apenas da Unifei ou do prefeito, mesmo que se queira pegar todo dinheiro do royalty do minério para implantar logo o Parque Científico e Tecnológico. Não é assim. É preciso ter um edital para que se faça o credenciamento com requisitos pré-estabelecidos.

No ano passado foi lançado esse edital, mas infelizmente ainda não temos os requisitos mínimos para cumprir o que é definido pela Finep e MCTI. Quando o edital foi lançado, não deu tempo de inscrever, cumprindo todos os requisitos.

Conclusão das obras dos três novos prédios do campus da Unifei é considerado imprescindível para a sua expansão acadêmica em Itabira

Para este ano, quando abrir um novo edital, Itabira terá condições de cumprir os requisitos?

Ainda não sabemos se este ano terá edital, mas sem dúvida ainda não teremos os requisitos para cumprir. Esperamos avançar no check-list dos requisitos para concorrer em futuro próximo, pois só assim conseguiremos obter os recursos (federais) necessários. Mas para isso é preciso ter uma integração entre as instituições.

Ou seja, uma agenda com planejamento estratégico do território, com a tríplice aliança que o professor Renato sempre frisa, envolvendo a universidade (governo federal), prefeitura e outras instituições do território, inclusive a Vale (que participa da parceria público-privada que trouxe o campus da Unifei para Itabira), mas também outras instituições.

Todos dessa aliança tríplice precisam entender quais são os requisitos e trabalhar os pontos necessários tecnicamente para se ter o parque, e que se cumpra tudo o que estiver nesse checklist, que envolve qualificação de pessoas, com a formação de recursos humanos tanto na universidade como também no território.

Para isso é importante a participação do Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas), do Senai (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial), da Fiemg (Federação das Indústrias de Minas Gerais), das empresas e de todos que trabalham com tecnologia e inovação.

Precisamos de todas essas instituições com a gente, assim como também das outras universidades, da Funcesi, da UNA, por mais que tenham perfis diferentes, para desenvolver a qualificação das pessoas.

O que é o CITInova, como se insere dentro dessa estratégia?

É um conjunto de instrumentos jurídicos de Pesquisa, Desenvolvimento & Inovação (PD&I), um conjunto de nove convênios entre a Unifei, PMI e Fupai.

Está criando ambientes de Inovação e qualificando pessoas, já são quase 300 participantes entre estudantes bolsistas, professores e técnicos da Unifei, aproximadamente 900 iniciativas já realizadas e aproximadamente 15.000 pessoas impactadas em Itabira. É um investimento anual de R$ 4,5 milhões por ano da Prefeitura, previsto no plano de metas com diferentes temáticas.

Temos atuação em diferentes áreas e público diversificado. São desenvolvidos projetos que podem se transformar em oportunidade de negócios.

Além do investimento nos laboratórios da Unifei, e agora na construção dos dois novos prédios, em que mais a mineradora Vale tem sido parceira?

A Vale entende que investir na educação é fundamental dentro do processo de fechamento de suas minas, conforme foi apresentado em um seminário. Na ocasião foi apresentado um conjunto de iniciativas e possíveis parcerias, mas tivemos uma interrupção no período da pandemia.

Esperamos retornar com essas discussões neste ano, não somente com a continuidade do Programa Iniciação à Engenharia no qual já temos uma parceria vigente, mas também em uma atuação conjunta com Hub de Inovação da Vale.

Itabira deposita muita expectativa no papel da Unifei no processo de diversificar a sua base econômica, não acha que há um exagero nisso?

Assim que concluídos os três novos prédios, os atuais abrigarão o futuro Parque Científico Tecnológico de Itabira

É um longo processo. Mesmo quando tiver o Parque Científico e Tecnológico, e mesmo que se tenha todo recurso financeiro, e de outros recursos humanos necessários, ainda assim isso leva um tempo de maturação. Eu sei que há essa expectativa muito grande. Mas para isso acontecer, as parcerias são importantes e precisam estar alinhadas, conforme já frisei.

É importante que as instituições parceiras olhem na mesma direção. Temos um conjunto de iniciativas, uma profusão de diagnóstico e ao que parece, não sai do lugar. Então é importante que ao invés de ficar lastimando por ainda não ter o parque, que todos unam forças na mesma direção, o poder público municipal, a universidade, as instituições do território e inclusive a Vale, que são instituições que se uniram para criar o campus Itabira há mais de 15 anos.

Que se crie uma agenda em conjunto para que possamos atuar de forma alinhada numa mesma direção e não ficar canalizando energias em várias direções. O CITInova já contribui para se criar uma cultura empreendedora e de inovação tecnológica no município, mas ainda estamos nos degraus iniciais, precisamos atuar em escala.

Em 1983, acompanhei o itabirano Sebastião “Carlito” Andrade, que era secretário-adjunto de Indústria e Comércio do Paraná, em visita a universidades no interior daquele estado, em Pato Branco, Medianeira, Cascavel. Em todas vimos empresas sendo abertas a partir da academia, até mesmo por meio de parcerias entre professores/alunos. Podemos esperar que isso aconteça também em Itabira?

Sim, é possível. Essa dinâmica entre empresa com a universidade é saudável e importante. Hoje há muitas fontes de financiamentos. Parcerias como essas que você citou podem acontecer antes mesmo de se ter o Parque Científico e Tecnológico.

Na própria incubadora que temos aqui na Unifei estamos criando esse ambiente de negócios. Temos casos de alunos que pensam em ser empreendedores.

Nós estamos atentos e buscando todas essas oportunidades. O que precisamos, repito, é alinhar as nossas agendas para seguir em uma única direção. Para isso precisamos ter políticas públicas bem definidas em lei, para que quando mudarem os gestores de qualquer das instituições, essas políticas não sofram interrupção.

Posts Similares

1 Comentário

  1. Ouvi a entrevista que a professora Gisele concedeu ao jornalista Fernando Silva, e ela enrolou na resposta sobre os crimes ambientais que a mineradora comete em Itabira. Quem defenderá Itabira?

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *