Outubro Itabirano. Crônicas da Itabira de Matto-dentro Imperial – 1866 – Partido Conservador Itabirano
Rua Tiradentes, em Itabira, ainda com calçamento de hematita, “vendida” para a Vale em pagamento de dívida de empréstimo
Foto: Acervo IBGE Pesquisa: Cristina Silveira
Itabira, 6 de setembro de 1866. Em nome do Partido Conservador Itabirano saúdo o aparecimento do Constitucional, que nesta época calamitosa e de descrença que atravessamos, tem por desempenho uma tarefa gloriosa.
Será sem dúvida muito cheia de tropeços a marcha do Constitucional, não só por causa dos sagrados deveres, sobre que tem de velar, como porque todo o órgão oposicionista, que tem de levantar o véu em que se envolvem as injustiças dos dominantes, será recebido pelos mesmos a baioneta calada.
Não importa. Que continue o caminho começado – essa sentinela sempre alerta das públicas liberdades tão ameaçadas! Ela terá por si as bençãos do grande Partido Nacional, que vê a cada momento sua liberdade oprimida, e seus direitos conclamados.
Para o futuro tão inepto, ou antes tão egoísta. não será o governo, que se apraz em calcar aos pés da lei, e praticar sempre desconchavos, que bem imprimem-lhe a nota de impensado….
Minha pena é humilde, mas ainda assim se presta da melhor boa vontade a concorrer como puder para que não faça meio caminho o Constitucional, que para nós os proscritos é a Arca de Noé em que trepados apontaremos as ondas do despotismo que ameaça envolver a civilização do Brasil no século 19.
Não é possível calcular-se e nem se compreender o entusiasmo com que foi recebido nesta cidade o Constitucional, nada mais foi do que aquele prazer com que o febricitante lança-se ao copo d’água que vai matar-lhe a sede.
Agora vou ocupar-me deste torrão. Acha-se preso nesta cidade João Domingos Azevedo, o subdelegado de Antonio Dias abaixo, por crime de estelionato. Este individuo ainda depois de ser pela opinião pública convencido desse crime cingiu a faixa de autoridade!
Oh! tempora! Ó mores! Ubenam gentium sumes!
Não se admirem. É progressista e cabo de eleição tão apaixonado que tem por norma – aos adversários a guerra a todo transe, e mesmo falta de justiça! Sendo grande o clamor que suscitou o seu crime, não tiveram remédio senão demiti-lo, mas, sabe Deus, com que dor.
Bate às portas a Eleição Geral. Nota-se grande divergência entre os homens da época por causa da questão estabelecida – histórico-progressistas.
Estes últimos julgam-se muito seguros e desprestigiam os outros, julgando-os impossíveis para o governo, tanto isto é verdade que formigam as candidaturas para a geral.
São candidatos progressistas Vianna Drumond, Antonio Vaz e Emílio Horta. Não sei se serão felizes. Máxime em concorrência com o histórico Martinho Campos, muito enraizado no círculo, e parlamentar muito distinto
Causou assombro a ascensão do novo ministério. Homens novos, sem prestígio, sem experiencia e traquejo dos públicos negócios, nessa época a mais enrugada em que se há visto o Brasil, os atuais ministros não inspiram a menor confiança, antes parece uma irrisão ao bom senso esse ministério, a quem, sem a mais vergonhosa transigência, por certo não preside homogeneidade de vista.
Noticio-lhe o passamento de um Conservador eminente. Já não existe o tenente Fernando Junior, membro distinto e importante do credo Conservador.
Prometo-lhe se esta for publicada, continuar a escrever.
É mister que também surjam a luz da publicidade os desarranjos que por cá se derem.
Apesar de escrever de viseira descida muito serei mordido por que vou quebrar o silêncio que encanta esta cidade. [Conservador (MG), 15/9/1866. BN-Rio]