Os botecos da vida: espaços de sociabilidade e de construção poética
Foto: Eduardo Cruz
Rafael Jasovich*
Minha paixão pelos botecos me faz escrever loas a este tipo de estabelecimento – e sempre volto ao tema de maneira compulsiva e o leitor há de me perdoar.
A força do botequim no seu espírito democrático.
Ele acolhe sem distinção, e sempre com afeto, o boêmio inveterado e o empresário entediado, a dama respeitosa e a garota serelepe – a todos o botequim oferece sem questionar a descontração e a magia de sua cultura. Basta chegar e ir sentando, isso quando há onde sentar.
Falar de bar e botequim é falar de tradição, de descontração, de encontros (e também desencontros).
O botequim (e eu acrescentaria o bar) está impregnado e carrega a alma da cidade cosmopolita e brasileiríssima, materna e mundana, multicultural e singular.
Pode ser considerado o símbolo do jeito brasileiro de ser e de viver.
Os bares e botequins, caracterizados como verdadeiros espaços de sociabilidade e de musicalidade, tornaram-se, ao longo do tempo, ponto de encontro, centro de decisões, local democrático de diversão, descontração, criação, onde dialogam permanentemente diferentes e diferenças e onde muito da nossa música é (e foi) gestada.
É bem verdade que nem todos os bares e botequins possuem a mesma alma. Os hoje chamados “pés-limpos” se distanciam dessa essência, pela sofisticação e pela clientela difusa que os freqüenta.
É quase que um modismo conhecer esses bares modernos.
Os mais autênticos são, sem dúvida, os “pés-sujos”, ou seja, os botequins em seu estado natural, onde não há sofisticação na decoração, na acomodação, muito menos nos serviços prestados aos fiéis clientes que, em sua grande maioria, são vizinhos desses bares ou moradores das redondezas.
Esses estabelecimentos, conforme têm o poder de ser muito mais do que um mero estabelecimento comercial, oferecem em meio à grande densidade urbana cantinhos onde nos sentimos tão à vontade, como se estivéssemos em casa.
São eles verdadeiras extensões de muitos lares, oferecendo todo um clima de informalidade, de descontração.
Que é o boteco em última instância um templo onde os solitários se sentem acompanhados com seus copos, pensando… pensando… ou falando com um amigo, ou numa roda de camaradas de copo.
O encontro, a descontração, a dor de cotovelo, a comemoração, a extensão do lar permeiam o cotidiano dos bares e botequins.
É o botequim, é um caos, é templo de muitos, é lar de multidões, refúgio dos que têm dor, o espaço da busca de algo mais no fundo do copo – confissões, soluções, brigas, paixões, descobertas, paqueras, criações, festas.
*Rafael Jasovich é jornalista e advogado, frequentador contumaz de um “copo sujo”.
Um dos bão era do Sêu Agostinho em cabeça de boi . Agora deu uma reformada , retirou as garrafas de trócentos anos que já deviam ter se transformado em uma bomba alcoólica de marcas jurassicas de tão antigas . Os badulaques diversos não os ví . O pau a píc foi trocado pelos tijolos e se reparei o piso de madeiras antigas foi trocado por cerâmica . Tem um bom tempo que num vou pra aquelas bandas , mas com certeza o tira gosto servido no prato esmaltado o meu para tudo e algumas substâncias para o preparo do rabo de galo para combater o frio e a gripe ainda devem estar por lá . Sua viola e sua vós aconchegante devem estar ainda se harmonizando no embalo de modas do tempo do Zagai . Lugar democrático chega turistas talvez milionários, chega vaqueiros e trabalhadores rurais . No mais se querem budéga pra valer mesmo tem que ir no Luiz Tavico, só não recomendo um determinado tira gosto servido como gracêjo da casa rs. E por último aquele que por tantos anos socorreu os famintos perdidos na madrugada , que em outróra até dava pra ir , mas hoje é muito complicado rsrs . O Carlos Crúz sabe rsrs .. dispista não rsrsrs.
O melhor boteco do mundo, foi o do Nilo na Pracinha do Pará… Aqui na rua Benjamin Constant, havia o Boteco Virgem Maria, do português seu Américo que morreu e o boteco foi vendido, agora é restaurante e boteco do chorinho…, sinto saudade do seu Américo e o seu sotaque: menina, o que tu queres?
O Cinedia sabia tudo (ou quase tudo) que rolava na cidade! Deveria ter sido para sempre!Quantas histórias …
Ah que infeliz distinção carregada de preconceito “a dama respeitosa e a garota serelepe”. Sugiro que refaça esta parte do texto urgentemente! Em pleno século 21 não cabe mais este tipo de descuido. Não existem mulheres santas ou putas, esta é uma divisão sexista, retrógrada, policialesca da sexualidade das mulheres. Não reitere estereótipos, desconstrua-os em nome de botecos melhores, de sociedades que realmente sejam democráticas e acolham as pessoas em toda a sua diversidade com todo o respeito pelos gêneros diversos, pela pluralidade das identidades de gênero, das orientações sexuais, pró atitudes anti-racismo, anti-etarismo, anti-gordofobia e mais muito mais. Por botecos genuinamente plurais e escritas cuidadosas!